Eventos embólicos pulmonares são raros na pediatria, mas estão atrelados a desfechos potencialmente fatais ao se considerar, dentre outros fatores, o quadro clínico variável e inespecífico que pode levar ao atraso no diagnóstico. No que concerne à fisiopatologia, a embolia pulmonar resulta da obstrução dos vasos da circulação arterial pulmonar por algum material como trombo. Tal condição decorre da tríade de virchow (lesão endotelial, estase vascular e hipercoagulabilidade). A etiologia costuma ser multifatorial e atrelada a fatores de risco subjacentes.
Embolia pulmonar na pediatria: Desenho do estudo
Neste contexto, uma revisão sistemática buscou fornecer uma abordagem abrangente da embolia pulmonar.
Como critérios de elegibilidade, foram incluídos: estudos do tipo séries e relatos de casos, em inglês, publicados até abril de 2024 e cuja população abrangesse pacientes com idade de 0-21 anos com diagnóstico de embolia pulmonar. Bancos de dados como PubMed, Scopus, Web of Science e Cochrane foram utilizados. Após pesquisa bibliográfica rigorosa e avaliação dos critérios de inclusão, foram incluídos 50 relatos de casos e 14 séries de casos, totalizando 111 pacientes.
Dados demográficos, manifestações clínicas, métodos diagnósticos, exames laboratoriais, tipo de tratamento e os desfechos de pacientes com embolia pulmonar foram os principais dados extraídos em cada estudo.
Resultados e discussão
No que concerne aos resultados, a idade dos pacientes variou de 1 a 18 anos, com mediana de 7,5-8 anos e com predomínio da embolia pulmonar no sexo masculino.
Dispneia foi a manifestação clínica mais observada dentre os pacientes analisados, seguida por hipóxia, dor torácica e febre.
Neste contexto, vale ressaltar que o diagnóstico da embolia pulmonar na pediatria é desafiador tendo em vista a clínica inespecífica e variável. Achados comuns como dispneia e dor torácica podem aventar outras hipóteses como pneumonia, por exemplo.
Dentre os fatores contribuintes para a embolia, foram descritos: sexo masculino, trombofilia, trombose venosa profunda, passado cirúrgico, infecções, imobilidade, obesidade, uso de cateter venoso central, anticoncepcionais orais e traumas. Traumas ortopédicos, por exemplo, principalmente quando associados à necessidade de imobilização e cirurgia aumentam substancialmente o risco de eventos tromboembólicos.
Angiotomografía (25,89%) e tomografia computadorizada de tórax (21,43%) foram as modalidades diagnósticas mais utilizadas. Contudo, cabe lembrar que as crianças são mais sensíveis à radiação ionizante e que a ultrassonografia e a radiografia de tórax podem ser usados de modo suplementar na investigação.
Em relação ao estudo laboratorial, o D-dímero, tem baixa especificidade na pediatria, podendo encontrar-se elevado por outros motivos como infecções, inflamação ou trauma.
A terapêutica variou conforme a gravidade do quadro clínico e as causas subjacentes, sendo o uso de anticoagulante, o pilar do tratamento. Neste contexto, cabe destacar que a heparina não fracionada é uma das opções na fase aguda, tem ação rápida e pode ser reversível, sendo uma boa opção para pacientes instáveis diante da necessidade de reversão da anticoagulação. A heparina de baixo peso molecular, por sua vez, também pode ser utilizada e tem dose-efeito mais previsível e melhor biodisponibilidade.
Em casos graves como embolia pulmonar maciça com instabilidade hemodinâmica e nos casos de contraindicação à anticoagulação, a trombólise pode ser empregada. Contudo, deve-se atentar ao risco de sangramento.
Anticoagulantes como varfarina e rivaroxabana podem ser empregados a longo prazo, mas o primeiro requer monitoramento laboratorial rotineiro enquanto que o segundo não necessita. O filtro de veia cava inferior também é uma alternativa para profilaxia de embolia recorrente em caso de anticoagulação ineficaz ou com contraindicação.
Além do manejo anticoagulante e trombolítico, medidas de suporte são essenciais como analgesia em caso de dor e antibióticos se infecções associadas.
No que concerne aos desfechos, a maioria dos pacientes da revisão sistemática (66,96%) se recuperou com medidas de suporte e anticoagulação, 24,11% necessitou de internamento em unidade de terapia intensiva, 12,5% de ventilação mecânica e alguns pacientes evoluíram com complicações durante o período de recuperação. Sabe-se, neste sentido, que comorbidades subjacentes e o tipo de tratamento refletem no prognóstico.
Conclusão e Mensagem Prática
Esta revisão ressalta a necessidade de reconhecimento adequado da embolia pulmonar a fim de evitar desfechos graves. Para isso, deve-se atentar aos fatores de risco e fortalecer a suspeição diagnóstica tendo em vista a clínica inespecífica e a potencial letalidade do quadro.
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