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Terapia Intensiva13 maio 2025

Dispneia em pacientes em ventilação mecânica: mais comum do que se imagina  

Revisão sistemática analisou prevalência e gravidade da dispneia em adultos gravemente doentes, comunicativos e ventilados mecanicamente.
Por André Japiassú

A UTI trouxe tecnologia e maior atenção dos profissionais de saúde para o cuidado dos pacientes graves, porém sintomas desconfortáveis são comuns, principalmente em pacientes mais despertos. Dentro os sintomas mais comuns estão dor, delirium, náusea, dispneia, ansiedade e sede. Estudos avaliando dor e delirium são numerosos na literatura, principalmente na população crítica em ventilação mecânica (VM), mas a prevalência de dispneia é menos conhecida. E talvez porque haja o pressuposto que o paciente ventilado não é para ter dispneia, já que ajustamos a fração de oxigênio, o volume corrente, o fluxo inspiratório — mas sim, ocorre e pode ser maior do que imaginamos. Além disso, a presença de dispneia está associada a um maior tempo de VM e maior mortalidade; pacientes que são extubados ou liberados de VM com traqueostomia também relatam dispneia frequentemente; e por fim está associada à síndrome do paciente pós-UTI, que afeta o bem estar a longo prazo. Por isso, os autores deste estudo fizeram uma revisão sistemática para pesquisar a prevalência de dispneia em pacientes ventilados, além da intensidade, fatores de risco e os tratamentos para mitigar este sintoma.  

Objetivos e Metodologia 

Os autores realizaram uma revisão sistemática sobre dispneia em pacientes com ventilação mecânica. Eles coletaram os termos “dyspnea”, “mechanical ventilation” e “critical care” em estudos que relataram prevalência, intensidade, fatores de risco e modos de tratamento em estudos da literatura até agosto de 2024. Foram pesquisadas várias bases de dados: PubMed, Cochrane Library, Embase, Web of Science, PsycInfo e Cumulative Index of Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). Somente textos em língua inglesa foram considerados. Foram incluídos pacientes com permanência maior que 24 horas na UTI, que referiram sede ou boca seca e/ou que usaram algum tipo de tratamento para este sintoma. O objetivo primário foi calcular a prevalência do sintoma, e secundariamente a revisão de fatores de risco e tratamentos de alívio da sede.  

Resultados

Partindo de mais de 6 mil referências, os autores revisaram 61 estudos e incluíram 15 para a revisão. Dois estudos foram randomizados e controlados e outros 13 foram observacionais prospectivos. Não se incluiu estudos retrospectivos. 

A definição de dispneia foi heterogênea: escore visual analógica maior que 3 pontos (n=6 estudos), escala numérica maior que 4 pontos (n=8) ou resposta “sim” para a simples pergunta “você está respirando com problema” (n=6). Somente pacientes capazes de responder e que tinham escala de sedação RASS entre -2 e 2 pontos foram analisados, ou seja, os pacientes inconscientes ou sedados mais profundamente não foram avaliados (isto é uma das limitações da revisão). Pelo menos metade dos pacientes nos 15 estudos relataram dispneia moderada a grave. 

A prevalência de dispneia foi em torno de 40% (475 de 1.169 pacientes incluídos): 44% (intervalo de confiança entre 35% e 53%) nos 2 estudos clínicos randomizados e 40% (37% a 43%) nos estudos observacionais. Entre os métodos de avaliação de dispneia, a pergunta simples teve resposta positiva de 36%; a escala visual deu rendimento de 33%; a escala numérica mostrou 55%. 

A ocorrência de dispneia também variou de acordo com o momento na qual o sintoma foi pesquisado. Quando os pacientes foram perguntados no momento de despertar da sedação, a dispneia estava presente em 73% ! Mas variou entre 34% e 44% quando o paciente entrava em teste de desmame de VM; e aumentou para 62% no fim do teste de desmame. A descrição mais comum de dispneia pelos pacientes era como “fome de ar” (33% a 71%), seguido de esforço respiratório excessivo (16% a 25%) — foram somente 2 estudos que caracterizaram a descrição do sintoma.  

Os fatores de riscos mais relacionados foram: 

  • doenças cardíacas ou pulmonares prévias 
  • melhor capacidade funcional antes da internação 
  • sinais vitais mais alterados (taquicardia, hipertensão, taquipneia) 
  • menor saturação de oxigênio 
  • maior pH na gasometria 
  • hemoglobina menor 
  • modo ventilatório assisto-controlado 
  • pressão de oclusão de via aérea (indireto para drive ventilatório) 

Outro fato relevante é que a dispneia está associada à depressão, ansiedade e dor. Cerca de 29% dos pacientes desenvolveram síndrome de estresse pós-traumático até 90 dias após internação, enquanto ocorreu em apenas 13% dos pacientes que não apresentaram dispneia. 

As estratégias para mitigar a dispneia foram descritos nos diversos estudos, a seguir: 

  • treinamento inspiratório de carga; 
  • modos ventilatórios novos adaptativos, como o NAV (neurally adjusted ventilatory assist) e ventilação assistida proporcional; 
  • cateter de oxigênio de alto fluxo; 
  • medicamentos opioides; 
  • hiperoxia; 
  • musicoterapia; 
  • e até terapia com ventilador com hélice para “abanar” os pacientes.

Mensagens para o dia a dia: dispneia em pacientes em ventilação mecânica

  • A dispneia é comum em pacientes em ventilação mecânica, girando em torno de 40% a 50%; 
  • Não importa muito como avaliar a presença de dispneia, pois as ferramentas de diagnóstico têm rendimento similar, mas este sintoma varia de acordo com o momento do paciente, sendo mais comum em ocasiões de maior exigência de força respiratória como o desmame ventilatório; 
  • É importante reconhecer os fatores de risco e consequentemente as medidas para alívio da dispneia do paciente ventilado.

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Referências bibliográficas

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