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Pediatria22 março 2024

Como ferramentas digitais podem ajudar no combate da obesidade infantil?

A prevalência mundial de obesidade infantil está aumentando a necessidade de programas de prevenção e tratamento
Um grupo italiano de Porri e colaboradores fez uma revisão narrativa com o objetivo de avaliar o impacto de diferentes ferramentas digitais na prevenção e no tratamento da obesidade infantil, que foi publicada na revista Frontiers in Pediatrics. Neste artigo, destacaremos as principais contribuições desse artigo. Leia também: AAP 2023: Diretrizes clínicas para avaliação e tratamento da obesidade pediátrica

Metodologia

Foi feita revisão narrativa por meio da busca de artigos publicados de 2013 até setembro de 2023 nas bases de dados eletrônicas PubMed, Scopus e Web of Science com as seguintes palavras-chave: “pediatric obesity; childhood obesity; obesity in children; pediatric overweight; childhood overweight; overweight in children; obesity prevention; obesity treatment; app; new technology; digital health; smartphone; smartphone app; mobile health; digital follow up, telemedicine”.

Resultados

A saúde digital engloba a medicina digital (DM) e o tratamento digital (TD), o qual representa um conjunto de serviços nos setores de saúde e bem-estar como dispositivos digitais ou vestimentas, e inteligência artificial. Quatro tipos de intervenções foram as principais citadas nos estudos: (1) telemedicina e mensagens de texto; (2) aplicativo de celular; (3) ferramentas da internet e mídias sociais; (4) jogos de exercícios, videogames e jogos de imersão. A telemedicina é a aplicação de informações eletrônicas e tecnologias de comunicação para fornecer e apoiar o estado clínico de saúde do paciente. Alguns estudos mostraram uma significativa redução, embora pequena, no escore Z do Índice de Massa Corporal (IMC) (0,1 ponto ou menos). O uso de programas de mensagens de texto foi associado a mudanças nos comportamentos de saúde (mais atividade física, mais consumo de frutas e vegetais, menor ingestão calórica total, e menor tempo gasto em tela) e significativa diminuição na taxa de evasão em crianças obesas. Os pontos fortes da telemedicina são satisfação familiar e do paciente, 80-100% taxas de retenção e alta frequência. Uma limitação é o alto custo da telemedicina. O uso de aplicativos de celular para o manejo de obesidade infantil foi avaliado como uma estratégia eficaz de forma isolada ou associada ao tratamento tradicional para aumentar atividade física e melhorar hábitos alimentares saudáveis de pacientes. Nos últimos estudos, feedback positivo dos responsáveis dependia do envolvimento deles no desenvolvimento do aplicativo. Ferramentas da internet como fóruns e mídias sociais podem sugerir ideias de refeições saudáveis e suporte social para mudança de comportamento, assim como fazer os adolescentes obesos se sentirem mal ao verem modelos “fitness” e por não conseguirem perder peso. Videogames de exercício envolvem movimentos corporais de dançar, pular ou imitar atividades de exercício da vida real. Por serem divertidos e motivadores, esses videogames são chamativos para crianças e promovem adesão a longo prazo à medida que as crianças são estimuladas por meio de recompensas virtuais. Também promovem melhora da autoestima e da qualidade de vida. Outra ferramenta no tratamento da obesidade é o videogame sério, que visa a educação nutricional e dietética como escolher alimentos mais saudáveis ou resistir à tentação alimentar. Uma revisão sistemática que analisou 17 videogames sérios observou que houve um aumento da atividade de moderada a alta, no conhecimento sobre nutrição adequada e como ter um estilo de vida que previna ou trate o sobrepeso/a obesidade durante o jogo, mas não foi observado aumento em atividade física fora do jogo.  Apenas dois desses 17 jogos envolviam atividades práticas como preparar uma refeição saudável. Algo que é salientado pelos autores é que as ferramentas digitais também podem ser usadas de forma negativa para persuadir as crianças a consumir alimentos e bebidas que são ricos em calorias e baixos em valores nutricionais, chamados advergames. Saiba mais: Atlas Mundial da Obesidade aborda a doença na população pediátrica do Brasil

Discussão e conclusões sobre obesidade infantil

O tratamento para obesidade é desafiador, pois envolve a mudança de hábitos e estilo de vida. O ambiente familiar tem importante papel na obesidade infantil, deve ser protetor e antiobesogênico por conta de sua forte influência dos hábitos dos responsáveis nos hábitos da criança. Os estudos controlados randomizados mais recentes mostraram que ainda não há impacto significativo no IMC, há uma possível mudança comportamental infantil. Entretanto ainda são necessários mais estudos com amostras maiores, intervenção prolongada e tempo de intervenção maior ficando em ferramentas de saúde conforme as necessidades personalizadas dos pacientes assim como garantir acompanhamento por equipe de saúde para avaliar esses impactos e, ferramentas para avaliar a adesão e engajamento dos pacientes com essas ferramentas. O artigo pontua bem a existência de videogames que incentivam o consumo de alimentos não saudáveis. Esse artigo traz importantes contribuições na análise dessas ferramentas digitais, mas carece de uma crítica ao modelo de vida atual globalizado que enfatiza uma grande dedicação de horas ao trabalho, muitas famílias no contexto brasileiro moram em áreas violentas com dificuldade de acesso a espaços de lazer seguros, com pouco incentivo aos esportes, custo alimentar alto nos últimos tempos e muita propaganda para consumo de “fast food”, doces, sucos e refrigerantes.
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Referências bibliográficas

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