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Pediatria21 fevereiro 2024

Como evoluíram crianças e adolescentes com SRAG por SARS-CoV-2 e outros vírus?

É importante entender como o SARS-CoV-2 interage com outros vírus e como isso impacta crianças e adolescentes na era pós-pandemia de covid-19
Para avaliar esse impacto e responder como crianças e adolescentes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com SARS-CoV-2 e outros vírus evoluíram no Brasil, um grupo de pesquisadores brasileiros de Minas Gerais formado por Dias e colaboradores fez um estudo que foi publicado na revista Pediatrics em fevereiro de 2024. Neste artigo, destacaremos como foi feito e as contribuições desse estudo. Leia também: Covovax: Anvisa aprova nova vacina contra o SARS-CoV-2

Metodologia

Fizeram um estudo de coorte retrospectivo, aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa, incluindo crianças e adolescentes (< 18 anos) com Síndrome Respiratória Aguda Grave de fevereiro de 2020 a fevereiro de 2023 no Brasil causada por vírus. Todos os casos de SRAG incluídos no SIVEP Gripe (Sistema de Informação De Vigilância Epidemiológica da Gripe) de pacientes com < 18 anos de idade foram analisados. Para serem cadastrados no banco de dados do SIVEP-Gripe, os pacientes devem apresentar síndrome gripal e pelo menos um dos seguintes critérios: cianose, dispneia, desconforto respiratório e saturação de oxigênio < 95% em ar ambiente. Para os casos pediátricos, os sintomas específicos da criança (tiragem intercostal, batimento de asa de nariz, desidratação e hiporexia) também são considerados para inclusão no banco de dados. A SRAG no Brasil é de notificação compulsória em 24 horas. A exposição primária é a cepa do vírus identificado em exame laboratorial na admissão hospitalar. O desfecho primário foi mortalidade intra-hospitalar. Na análise estatística, foram 3 estágios: 1º) Estatística resumida com dados demográficos e clínicos com médias (e desvio-padrão), medianas (e intervalos interquartis), contagens e proporções. Usaram o teste F e o teste c2 para comparações entre grupos quando apropriado; 2º) Avaliaram o efeito da etiologia viral na sobrevivência de crianças e adolescentes com SRAG, fizeram uma análise de sobrevivência de risco competitivo usando a função de incidência cumulativa (CIF) e o modelo Fine-Gray para estimar a incidência cumulativa do desfecho primário ao longo do tempo; Leia ainda: Qual o impacto da infecção pelo SARS-CoV-2 em crianças no longo prazo? 3º) Identificaram fatores de risco independentes de morte por meio de análise multivariável de sobrevivência de risco competitivo para cada cepa viral, ajustando os modelos por sexo, etnia, ano de admissão, região de internação, saturação de oxigênio na admissão e comorbidades. Os resultados foram expressos como taxas de risco ajustadas (HR) e intervalos de confiança de 95% (IC). Os testes estatísticos foram bicaudais e a significância estatística foi estabelecida em P < 0,05.

Resultados

Foram incluídos 235.829 pacientes pediátricos com resultado de teste para vírus respiratório, internados com idade média na admissão de 3,8 anos com desvio padrão de 4,5 anos. Quanto à etiologia viral, houve predomínio de SARS-CoV-2 em adolescentes e vírus sincicial respiratório (VSR) em lactentes. Sobre os desfechos:
  • 25,6% (n: 54.962) foram internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI);
  • 50,63% (n:105.401) precisaram de oxigenioterapia não invasiva;
  • 8,9% (n: 18.472) precisaram de ventilação mecânica invasiva;
  • 3% (n: 7.078) faleceram.
Os autores destacaram que a taxa de mortalidade intra-hospitalar foi maior para os pacientes positivos para SARS-CoV-2 que para os pacientes com VSR positivo, apesar dos últimos terem apresentado saturação de oxigênio proporcionalmente mais baixa na admissão hospitalar, terem demandado mais internações na UTI e suporte de oxigênio. As seguintes covariáveis foram associadas ao desfecho fatal conforme positividade para vírus:
  • VSR: idade (12–17 anos), etnia indígena, admissão nas regiões Nordeste ou Norte, saturação de oxigênio < 95% na admissão e presença de comorbidades;
  • Influenza: idade (12–17 anos), internação nas regiões Nordeste ou Norte, saturação de oxigênio < 95% e presença de comorbidades;
  • Adenovírus: etnia indígena, internação nas regiões Nordeste ou Norte, saturação de oxigênio < 95% e presença de comorbidades;
  • SARS-CoV-2: idade (< 2 anos e 12–17 anos), etnia indígena, internação nas regiões Nordeste ou Norte, saturação de oxigênio < 95% e presença de comorbidades.
Enquanto a admissão hospitalar após 2021 foi cada vez mais protetora contra a morte para casos positivos para SARS-CoV-2. Na análise de sobrevivência de risco competitivo, a probabilidade estimada de desfecho fatal com 30 dias de internação conforme cepa viral foi de 6,5% para SARS-CoV-2, 3,4% para coinfecção, 2,9% para adenovírus, 2,3% para influenza, 2,1% para outros vírus e 1,8% para vírus sincicial respiratório. Pacientes com teste positivo para SARS-CoV-2 tiveram risco de morte 3 vezes maior do que indivíduos com teste negativo (taxa de risco de 3,3; intervalo de confiança de 95% de 3,1–3,5). Após ajuste pela análise multivariada de risco competitivo, a internação nas regiões Nordeste e Norte, a saturação de oxigênio < 95% e a presença de comorbidades foram fatores de risco para óbito em todas as cepas virais.

Discussão e conclusão: crianças com SRAG por SARS-CoV-2 e outros vírus respiratórios

Esse estudo foi pioneiro na análise da evolução de crianças e adolescentes com Síndrome Respiratória Aguda Grave com SARS-CoV-2 e outros vírus respiratórios evoluíram no Brasil, analisando a maior parte do tempo da pandemia de covid-19, que durou de 11 de março de 2020 até 05 de maio de 2023. A pandemia de covid-19 modificou a epidemiologia das infecções respiratórias agudas. As medidas de isolamento dificultaram a circulação de vírus respiratórios como VSR, influenza e parainfluenza assim como internações pelos mesmos, na época. Depois, a vacinação intensa contra SARS-CoV-2 afetou a circulação e a transmissão deste vírus. A infecção por SARS-CoV-2 apresentou o maior risco de mortalidade hospitalar na coorte pediátrica hospitalizada com SRAG desse estudo. Destacou-se também que a presença de condições médicas subjacentes foi um fator de risco para morte independentemente da etiologia viral. A mortalidade pediátrica por SARS-CoV-2 no Brasil foi de 6,1% na pandemia de covid-19, bem maior que em países desenvolvidos (< 1%), provavelmente por conta do baixo acesso a atendimento ao sistema de saúde em regiões brasileiras de baixa condição socioeconômica principalmente em populações mais vulneráveis como a população indígena. Esses dados reforçam a necessidade de aumentar o acesso ao atendimento hospitalar para que mais crianças e adolescentes sejam salvos. Acesse ainda: ESICM 2023: Fluidos na síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA)

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Referências bibliográficas

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