Os medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são frequentemente utilizados em ortopedia. Apesar do seu uso comum, o efeito dos AINEs na consolidação das fraturas ósseas ainda é controverso. Recentemente, um artigo na Frontiers in Endocrinology publicou uma revisão sistemática e uma meta-análise da relação entre os AINEs e o risco de união tardia ou a não consolidação de fraturas.
Métodos e resultados
Os autores realizaram uma busca sistemática em bases de dados, como PubMed e Cochrane CENTRAL, examinando 20 estudos abrangendo mais de 523 mil pacientes com idades variando de 6,7 a 77 anos quanto aos desfechos principais que abordavam taxas de não consolidação, união tardia e reoperação. Modelos estatísticos foram aplicados observando-se ajustes e confundimento.
Inicialmente, na análise bruta, o uso de AINEs apresentava uma maior chance de não consolidação e união tardia, com odds ratio (OR) de 1,73. Entretanto, quando foram ajustados, por idade e tipo de fratura, a associação perdeu significância (OR ajustado = 1,11).
Um achado interessante foi a diferença de impacto entre adultos e crianças. Nos adultos, o uso de AINEs se mostrou associado com o risco de não consolidação em fraturas de ossos longos, já nas crianças não houve associação importante entre o uso de AINEs e o atraso de cicatrização óssea.
O estudo também fez uma avaliação sobre a necessidade de reoperações em pacientes que usaram AINEs. Inicialmente, os dados sugeriram um aumento no risco (OR = 1,97). Contudo, após a exclusão de um estudo com forte impacto nos resultados, a associação tornou-se insignificante, destacando a necessidade de mais investigações sobre o tema.
Limitações
Embora os resultados indiquem que os AINEs têm impacto mínimo no processo de consolidação óssea, os autores reforçam limitações importantes. A falta de dados específicos sobre o tipo, dose e duração do uso de AINEs dificulta conclusões definitivas. Além disso, a maioria dos estudos incluídos tinha desenho retrospectivo, o que limita a força das evidências.
Considerações
Apesar da preocupação histórica com os efeitos dos AINEs na cicatrização óssea, as evidências atuais sugerem que o impacto pode ser menor do que se imaginava. No entanto, decisões clínicas devem ser individualizadas, considerando os benefícios no controle da dor e os riscos potenciais para a consolidação óssea. Estudos prospectivos e de alta qualidade são necessários para aprofundar a compreensão sobre o tema.
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