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Oftalmologia18 agosto 2024

O que eu preciso saber sobre diagnóstico de ceratocone?

Por Juliana Rosa

O diagnóstico de ceracotone se inicia com uma história clínica detalhada e um
exame criterioso à lâmpada de fenda. Dentre os métodos diagnósticos mais
relevantes, podemos citar a topografia corneana com anéis de Plácido, tomografia
corneana 3-D, tomografia segmentar, análise de Wavefront, contagem de células
estromais e estudo dos nervos da córnea, avaliação biomecânica da córnea,
genética e testes de biologia molecular. Clinicamente, o ceratocone evolui com
astigmatismo irregular e perda progressiva da acuidade visual. Devido aos avanços
dos métodos diagnósticos para sua detecção, é possível diagnosticar alterações
ainda subclínicas, sugerindo a susceptibilidade para ectasia. O tratamento está em
constante evolução e depende do estágio em que se encontra a doença.

Em todos os estágios é importante a compreensão do paciente sobre a
doença, assim como o controle da alergia e inflamação da superfície ocular, além
da prescrição de óculos para tentativa de reabilitação visual do paciente. As lentes
de contato podem ser utilizadas no caso de astigmatismos irregulares. Quando
essas estratégias são insuficientes para a melhora da qualidade visual, o uso de
segmentos de anéis intraestromais pode ser uma opção. Antes do advento de
tratamentos efetivos para a tentativa de estabilização da falência biomecânica
corneana, o transplante de córnea penetrante era a principal e única opção
terapêutica.

Uma estratégia para estabilizar a progressão do KC é o procedimento de
cross-linking (CXL) com uso de riboflavina-UVA, descrito por Spoerl et al. em 1998.
Seu mecanismo de ação é o enrijecimento das fibras do colágeno corneano,
dificultando, assim, a sua mudança estrutural. Foi publicada uma revisão em 2020
sobre diagnóstico de ceratocone. Os sinais clínicos iniciais do KC são: erro refrativo
assimétrico com astigmatismo progressivo ou alto; ceratometria sugerindo alto
astigmatismo e irregularidade (eixo não soma 180 graus); tesoura ao reflexo
vermelho na oftalmoscopia ou retinoscopia; valores de inclinação inferior, eixo
inclinado ou ceratometria elevada na leitura do K e na topografia corneana
computadorizada e afinamento corneano, especialmente inferior. Alguns sinais são
observados na biomicroscopa, a região de maior afinamento corresponde com a de
maior protrusão, o sinal de Rizutti é um reflexo cônico próximo ao limbo nasal quando
um feixe luminoso incide na córnea temporal. O anel de Fleischer apresenta-se
como um depósito de ferro frequentemente presente no epitélio em torno da base
do cone, sua cor marrom é melhor visualizada com o filtro azul de cobalto. As
estrias de Vogt localizadas no estroma são finas e verticais, geralmente
desaparecem com pressão firme aplicada sobre o globo ocular e reaparecem
quando a pressão é interrompida.

Veja também: Entenda como diagnosticar o ceratocone em seus pacientes – Portal Afya

Os sinais clínicos avançados descritos são: sinal de Munson, que é a protrusão
da pálpebra inferior ao olhar para baixo; cicatrizes superficiais; ruptura na membrana
de Bowman; hidropsia aguda, quando o rompimento da membrana de Descemet
permite a entrada do humor aquoso no estoma, cursando com espessamento
corneano, diminuição da visão, dor e cicatrizes estromais que ocorrem após a
resolução do quadro de hidropsia aguda e, paradoxalmente, podem melhorar a visão
por alterar a curvatura da córnea e reduzir o astigmatismo irregular. 

Além dos aspectos clínicos, são também utilizados métodos objetivos para se
classificar e avaliar a progressão do KC. O sistema de graduação ABCD de Belin,
gradua individualmente 4 parâmetros: (A) o raio da curvatura corneana anterior, (B)
o raio da curvatura corneana posterior, (C) paquimetria corneana no ponto mais fino
e (D) acuidade visual com melhor correção. Adiciona-se o sinal de (-) para ausência
de cicatriz corneana ou (+) para presença de cicatriz que permite a visualização dos
detalhes da íris e (++) para a que não permite a visualização dos detalhes da íris. Os
4 parâmetros são apresentados tanto graficamente com os valores da curvatura
radial e paquimetria, quanto com a classificação em 5 estágios variando de 0 a 5. O
examinador precisa acrescentar a acuidade visual e a presença ou ausência de
cicatriz corneana e o programa automaticamente classifica a córnea de acordo com
os critérios ABCD.

A topografia corneana baseada nos discos de Plácido avalia a superfície
anterior da córnea por meio de dados quantitativos e gera mapas com escalas de
cores que auxiliam em sua interpretação. Índices para detecção de KC foram
criados, como o de Rabinowitz-Mcdonnel: Central K (curvatura central) distingue os
cones centrais; valores I-S (assimetria dióptrica inferior-superior) é a diferença de
poder de refração entre os cinco pontos inferiores e os pontos superiores; SRAX
(inclinação relativa dos eixos radiais mais íngremes acima e abaixo do meridiano
horizontal). Os autores descreveram que um K central superior a 47,20 D, I-S
superior a 1,2 e o índice SRAX acima de 21° identificaram 98% dos pacientes com
KC.

A possibilidade da avaliação da superfície posterior da córnea foi alcançada
com o advento de tecnologias como a tomografia de Scheimpflug, o ultrassom de
alta frequência e a tomografia de coerência óptica (OCT). O Galilei Dual Scheimpflug
Analyzer (Ziemer, Port, Suíça), também utilizado para avalição da superfície
posterior, diferentemente do Orbscam utiliza duas câmeras de Scheimplug e anéis
de plácido para formar uma imagem tridimensional da córnea e índices com o
objetivo de diferenciar pacientes com córneas normais dos afetados com KC foram
descritos. O Pentacam (Oculus, Wetzlar, Alemanha) consiste em um sistema com
uma câmera rotacional tipo Scheimpflug associado a um sistema de iluminação
frontal, capazes de realizar uma reconstrução tridimensional da córnea e do
segmento anterior. Múltiplos índices foram descritos com o objetivo de diagnosticar
o KC e outras doenças ectásicas da córnea.

Leia mais em Oftalmologia:

Ceratocone: Qual o impacto na saúde mental do paciente?  – Portal Afya

Ceratocone: Por que a córnea de alguns pacientes evolui e de outros não?  – Portal Afya

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Referências bibliográficas

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