Entenda como diagnosticar o ceratocone em seus pacientes

O ceratocone é uma doença da córnea caracterizada por afinamento progressivo e protrusão (ceratocone = “córnea em formato de cone”) levando a diminuição da acuidade visual. Ocorre principalmente em crianças, adolescentes e adultos jovens com uma prevalência reportada na população geral variando nos estudos de 50 a 230 a cada 100 mil.

Nos últimos dias, o tiktoker Juan Guedes foi surpreendido pelo diagnóstico de ceratocone durante uma consulta oftalmológica e falou aos seguidores sobre a perda grave de visão associada à doença. Como tem boa visão no olho direito, demorou a perceber a piora da visão em olho esquerdo. O criador de conteúdo digital relata que passa boa parte dos dias coçando os olhos pois é muito alérgico e que isso teria influenciado na grande progressão da alteração ocular.

Fatores de risco associados ao ceratocone 

Os principais fatores de risco associados são o prurido ocular, doença atópica e asma; a história familiar de ceratocone (que é positiva em 6-8% dos casos) e doenças sistêmicas como Síndrome de Down, Ehlers Danlos e osteogênese imperfecta. Suspeitamos que alguém possa ter ceratocone principalmente em pacientes com dificuldade de enxergar com a correção visual; pacientes com alteração muito frequente do grau (principalmente com miopia e astigmatismo); adolescentes ou adultos jovens com borramento visual; pacientes com borramento visual e fotofobia (podendo ocorrer em um olho só); pacientes jovens com alergia ocular; pacientes com dificuldade de atingir boa visão no exame. O diagnóstico é clínico e topográfico.

Podemos encontrar no exame oftalmológico

Miras da ceratometria distorcidas, retinoscopia com reflexo em tesoura; anel de fleisher (anel de ferro que circunda a base do cone), estrias de Vogt (linhas verticais na parte mais fina da córnea no nível do estroma posterior e membrana de descemet), afinamento corneano paracentral inferior ou central, sinal de Munson (identação em V da pálpebra inferior quando o paciente olha para baixo), sinais de hidropsia corneana (dor aguda e fotofobia devido a edema de córnea causado por rotura da membrana de descemet). A topografia ou tomografia corneana demonstram astigmatismo irregular e assimétrico.

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Estágios iniciais do ceratocone

Nos primeiros estágios da doença o paciente ainda tem boa visão com os óculos mas conforme o ceratocone progride as lentes de contato podem se tornar necessárias para melhorar a visão. As lentes de contato rígidas gás permeáveis são as lentes mais usadas no ceratocone. Pacientes intolerantes ao uso de lentes rígidas podem ser candidatos ao uso de lentes de contato esclerais (lentes grandes, sem movimento nos olhos, mais confortáveis).

O crosslinking é um procedimento utilizado para estabilizar a progressão do ceratocone, que utiliza riboflavina e luz ultravioleta para aumentar a rigidez da córnea. É recomendando quando a doença está em progressão. O implante de anel intraestromal pode ser feito sozinho ou combinado com o crosslinking. O objetivo é melhorar a acuidade visual reduzindo o astigmatismo. Geralmente não é utilizado em cones mais avançados com córneas muito finas.

Transplante

Por fim, o transplante de córnea é o procedimento escolhido quando as lentes de contato não ajudam na visão ou não ficam adaptadas no paciente. Em geral, 10% a 15% dos pacientes com ceratocone irão necessitar de ceratoplastia. O transplante penetrante ainda é o mais comum apesar dos transplantes lamelares já serem bastante utilizados hoje em dia.

Mensagem prática

Os estudos demonstram sucesso de mais de 90% em pacientes com ceratocone e acuidade visual igual ou melhor que 20/40 em 80% a 90% dos pacientes (15% têm essa visão sem correção, 40% com óculos e 26% com lentes de contato).