O câncer de mama (CM) é o câncer feminino mais frequentemente diagnosticado, representando 29% dos cânceres em mulheres. Neste sentido, é importante que a prevenção primária inclua a redução de fatores de risco modificáveis, como obesidade, sedentarismo e má alimentação.
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Análises recentes
Em relação à nutrição, uma recente revisão guarda-chuva investigou sobre as principais escolhas alimentares que podem afetar a saúde e o risco de desenvolver o câncer de mama. Ao todo, 48 estudos foram considerados nesta revisão: 32 meta-análises, 4 análises agrupadas, 5 revisões sistemáticas e 7 revisões qualitativas.
Três metanálises, presentes na revisão, confirmaram o efeito protetor da fibra alimentar contra CM. Pesquisadores relataram também uma redução de 10% no risco de câncer de mama associado ao alto consumo de frutas cítricas (OR, 0,90; IC 95%, 0,85-0,96; p <0,001). Em contrapartida, uma revisão sistemática encontrou apenas papel protetor para o consumo de vegetais, mas nenhuma associação significativa com frutas. Contudo, evidências indicam o efeito protetor de frutas e vegetais contra CM devido principalmente à presença de carotenoides, β-caroteno, licopeno, folato, vitamina C e quercetina.
Quanto aos quatro estudos que consideraram o consumo de laticínios, dois encontraram associação entre o aumento do consumo de alimentos lácteos totais e um risco reduzido de câncer de mama, dentre eles uma revisão sistemática e meta-análise realizada por Zang e colaboradores. Neste estudo que contou com 22 estudos de coorte prospectivos (1.566.940 participantes) e cinco estudos de caso-controle (33.372 participantes), o consumo alto e moderado de laticínios (> 600 e 400-600 g/dia, respectivamente) reduziu significativamente o risco de câncer de mama em comparação com o baixo consumo (< 400 g/dia) de laticínios (RR 0,90, IC 95%, 0,83-0,98, e RR, 0,94, 95% CI, 0,91-0,98, respectivamente).
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O consumo de laticínios magros é associado a um menor risco de CM, provavelmente devido ao efeito protetor da vitamina D e do cálcio. O tecido mamário possui receptores para a forma biologicamente ativa da vitamina D, calcitriol 1,25(OH)2D, a qual parece ser capaz de controlar direta e indiretamente mais de 200 genes, incluindo os responsáveis pela proliferação celular, diferenciação celular maligna, apoptose e angiogênese. Apesar disso, é importante ter cautela na interpretação desses dados, uma vez que há relatos na literatura de que o consumo de leite pode aumentar os níveis sanguíneos do fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1), o qual está fortemente associado a um maior risco de CM.
Quanto à ingestão de alimentos à base de soja, três estudos demonstraram uma associação inversa significativa entre CM e um alto consumo de lignanas em mulheres na pós-menopausa, enquanto outros dois detectaram evidências mais fortes dessa associação em mulheres na pré-menopausa. O papel protetor da soja e dos fitoestrogênios foi reconhecido como significativo em outros sete estudos.
As evidências indicam um menor risco de CM em consumidores de soja devido à presença dos fitoestrógenos, particularmente em mulheres na pós-menopausa e em populações asiáticas, as quais são expostas a esses alimentos desde a infância. Os fitoestrogênios são substâncias naturais estrutural e funcionalmente semelhantes ao estradiol e o efeito protetor desses alimentos deve-se às ações agonistas ou antagonistas contra os estrogênios no tecido mamário, reduzindo os níveis sanguíneos de estradiol e consequentemente também o risco de desenvolver câncer de mama receptor de hormônio positivo.
Em contrapartida aos alimentos protetores, os estudos mostraram uma associação positiva entre o risco de CM e o consumo de carne vermelha (RR 1,10, 95% CI 1,02–1,19) e carne processada (resumo RR 1,08, 95% CI 1,01–1,15). Encontraram também uma associação entre o consumo de carne vermelha e um maior risco de CM em mulheres na pré-menopausa (RR 1,24, IC 95% 1,08–1,42).
Além da ingestão de gordura relacionada ao consumo da carne vermelha e processada, outros fatores parecem estar envolvidos no potencial carcinogênico, dentre eles, a presença de carcinógenos produzidos pela cocção, salga e defumação (aminas aromáticas heterocíclicas, nitrosaminas); o aumento dos níveis de IGF-1 decorrente da elevada ingestão de proteínas animais; e o fato de que a fermentação intestinal de proteínas animais eleva a concentração de algumas poliaminas, estas fundamentais para a proliferação celular.
Conclusão
Esta revisão abrangente de estudos que investigam as associações entre alimentos e câncer de mama revelou que alimentos como frutas, vegetais e soja parecem estar inversamente associados ao risco de CM, enquanto que, uma maior ingestão de carne total, ou carnes vermelhas ou processadas, parecem estar associados a um maior risco de CM. No que diz respeito à exposição aos laticínios, as evidências ainda são conflitantes.
É importante lembrar que estudos que investigam as associações entre dieta, ou alimentos ou nutrientes específicos e CM podem revelar fraquezas principalmente no que diz respeito aos erros de medição nas avaliações da ingestão alimentar, que distorcem as estimativas de tais associações, além dos vieses de recordação e entrevista, muitas vezes revelando associações que não são confirmadas em estudos de coorte.
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