Logotipo Afya
Anúncio
Infectologia20 agosto 2025

Quais as principais novidades na Infectologia no ano até agora? 

A infectologia é uma especialidade em constante atualização o que torna complexo para o médico se manter atualizado.
Por Raissa Moraes

Neste artigo, trazemos para vocês as cinco principais novidades da área de infectologia em 2025.

Infecções do Trato Urinário 

Devido à resistência antimicrobiana e contraindicações que muitas vezes limitam o uso de agentes de primeira linha atuais, há espaço para novas opções no tratamento das infecções do trato urinário (ITUs). Dois ensaios clínicos randomizados de fase 3 (EAGLE-2 e EAGLE-3), testaram o uso da gepotidacina para o tratamento de infecções do trato urinário não complicadas. Trata-se de um antibiótico oral da família dos triazaacenafilenos, que inibe a replicação do DNA ao se ligar a duas topoisomerases diferentes em um local distinto das fluoroquinolonas. 

Comparada à nitrofurantoína, a gepotidacina foi administrada por 5 dias em mulheres com mais de 12 anos com ITUs não complicadas. O desfecho primário foi o sucesso terapêutico (resolução clínica e microbiológica entre os dias 10 e 13). A gepotidacina foi não inferior à nitrofurantoína no EAGLE-2 e superior no EAGLE-3, com as diferenças impulsionadas principalmente por maiores taxas de falha microbiológica no grupo da nitrofurantoína.  

Leia também: Diretrizes para ajuste de antibioticoterapia em pacientes obesos 

Outro antibiótico oral antigo, o pivmecilinam, recebeu aprovação da Food and Drug Administration (FDA) na primavera de 2024 para ITUs não complicadas. As taxas de resistência permanecem muito baixas, apesar de seu uso internacional por décadas. Ele já era recomendado nas diretrizes da IDSA/ESCMID de 2011 para cistite não complicada, e agora se torna uma opção importante nos Estados Unidos. 

Já o tratamento de ITUs complicadas, especialmente causadas por organismos produtores de ESBL e carbapenemases, segue sendo um desafio que geralmente requer antibióticos intravenosos. O estudo CERTAIN-1 avaliou o cefepime-taniborbactam comparado ao meropenem e no grupo com cultura positiva para Enterobacterales ou Pseudomonas aeruginosa, o cefepime-taniborbactam foi superior. Apesar disso, sua aprovação foi recusada pela FDA em 2024 por problemas no processo de fabricação. 

Infecções por Clostridioides difficile 

O ridinilazol, um antibiótico bis-benzimidazol, foi estudado nos ensaios Ri-CoDIFy 1 e 2 (fase 3, 2024). Ele atua seletivamente no DNA do C. difficile, poupando a microbiota intestinal. Embora não tenha sido superior à vancomicina em resposta clínica sustentada, apresentou menor taxa de recorrência (8% vs 17%) e melhor preservação da microbiota. Novos estudos ainda são necessários.  

Sífilis 

A linezolida foi testada para sífilis precoce no estudo Trep-AB (abril/2024). Os pacientes receberam 600 mg de linezolida oral por 5 dias ou uma dose de penicilina benzatina intramuscular. O estudo foi interrompido precocemente por preocupações de segurança, pois apenas 70% responderam na linha de linezolida, contra 100% na de penicilina. Portanto, a linezolida não é uma alternativa adequada. 

Novas abordagens para profilaxia antimicrobiana

Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV) 

Dois estudos importantes foram publicados nesse sentido. O AMIKINHAL, em que 850 pacientes em UTI receberam amicacina inalatória diária ou soro fisiológico por 3 dias. Houve redução nas taxas de PAV, mas sem impacto em mortalidade, tempo de internação ou uso de antibióticos.  

No PROPHY-VAP, pacientes com lesão cerebral aguda foram randomizados para receber dose única de ceftriaxona intravenosa ou placebo. Houve redução significativa de PAV e melhorias em desfechos como dias sem ventilação e sobrevida em 28 dias. Nenhum dos estudos aumentou resistência bacteriana detectável.  

Infecções em Prótese Articular 

Um estudo de 2023 avaliou a adição de vancomicina à cefazolina em cirurgias de artroplastia em pacientes sem histórico de MRSA. Não houve redução em infecções cirúrgicas em 90 dias. Dessa forma, a vancomicina pode ter utilidade em pacientes com maior risco para MRSA, mas não se recomenda seu uso amplo para profilaxia. 

Covid-19 

Um estudo de 2024 avaliou o uso de nirmatrelvir-ritonavir como profilaxia pós-exposição à covid-19. Os participantes foram randomizados em até 96 horas após exposição domiciliar e não houve diferença significativa na incidência de covid-19. Porém, a alta soropositividade (>90%) pode ter influenciado os resultados. 

Novas estratégias para evitar antibióticos

Probióticos 

Um estudo com 174 mulheres com ITUs recorrentes mostrou que aquelas que usaram probióticos vaginais (com ou sem oral associado) tiveram menor taxa de ITU sintomática em 4 e 12 meses, além de maior tempo até a próxima infecção. Isso sugere papel promissor dos probióticos vaginais na prevenção de ITUs.  

Infecções Respiratórias Agudas 

Um estudo mostrou que o uso de sprays nasais (gel ou salino) por pessoas com alto risco de infecções respiratórias reduziram dias de doença e uso de antibióticos de forma significativa. Esse dado é muito marcante ao mostrar como intervenções simples podem limitar consideravelmente o uso de antimicrobianos.   

Staphylococcus aureus 

Novos Antibióticos 

O estudo ERADICATE comparou ceftobiprole com daptomicina em 390 pacientes com bacteremia complicada por S. aureus. O ceftobiprole foi não inferior e, com base nesses resultados, o ceftobiprole foi aprovado pela FDA em abril de 2024. 

Terapia Oral 

O estudo SABATO investigou a troca de antibiótico venoso para oral em bacteremia não complicada por S. aureus. Dos mais de 5.000 pacientes avaliados, apenas 213 foram incluídos. O estudo atingiu o critério de não inferioridade, com redução no tempo de internação, o que mostra que a terapia oral pode ser segura para pacientes cuidadosamente selecionados. 

Descolonização 

Apesar de estudos mostrarem que descolonização com mupirocina nasal e banho diário com clorexidina reduz infecções por MRSA em UTIs, há preocupação com a resistência bacteriana que isso pode gerar. Um estudo com mais de 800 mil pacientes comparou mupirocina com iodofor nasal. O grupo com iodofor teve mais infecções por S. aureus. Portanto, a mupirocina continua sendo a melhor opção, apesar das preocupações mencionadas.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Infectologia