Estudo feito por pesquisadores do Instituto e Física de São Carlos (IFSC) da USP e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) analisou a bactéria Streptococcus agalactiae, conhecida popularmente como estreptococo do grupo B (GBS) e apontou que muitas versões diferentes da mesma bactéria estão circulando. Algumas dessas variações genéticas possuem características perigosas, como a capacidade de se espalhar mais facilmente pelo corpo, resistir ao efeito de antibióticos e causar doenças graves.
O estudo analisou 101 amostras da bactéria coletadas em João Pessoa (PB) entre 2018 e 2022 na busca de entender como essa bactéria tem se comportado e evoluído na região.
Normalmente encontrada no organismo, principalmente no intestino e no trato genital feminino, a bactéria Streptococcus agalactia pode causar infecções graves em recém-nascidos, gestantes, idosos e pessoas com imunidade baixa. Algumas das variantes encontras na pesquisa já são alvo de vacinas em desenvolvimento.
Descobertas
Os autores do estudo observaram que mais de 80% das amostras apresentaram resistência a algum antibiótico, principalmente à tetraciclina. Além disso, cerca de 9% eram resistentes à eritromicina e 7% não respondiam à clindamicina.
A cepa MA06 chamou a atenção dos cientistas por acumular várias formas de resistência, enquanto outras cepas eram mais similares a bactérias encontradas em animais. Isso mostra que a troca de material genético entre bactérias humanas e animais pode estar acontecendo com mais frequência.
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O estudo também descobriu uma linhagem inédita da bactéria, a ST1983, que possui características genéticas diferentes das versões mais comuns encontrados em humanos e se assemelha mais a bactérias encontradas em porcos e vacas. Através desse achado, foi levantada a hipótese de que essas novas versões estejam conseguindo circular entre humanos e animais, aumentando a transmissão e dificultando o controle da doença. Os pesquisadores alertam que se essas linhagens continuarem a se adaptar, podem apresentar riscos graves capazes de provocar surtos.
Vacinas
Apesar da maioria das cepas estarem cobertas por vacinas que estão, atualmente, em desenvolvimento, duas amostras estudadas não se enquadram em nenhuma das categorias, o que reforça a necessidade de maior vigilância sobre o comportamento do estreptococo do grupo B.
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Bactérias resistentes a medicamentos e com origem em animais representam um desafio para saúde pública. Já existem protocolos de prevenção com aplicação de antibióticos durante o parto para evita que bebês sejam infectados, mas, com o aumento da resistência, essa estratégia pode não ser mais eficaz.
A pesquisa mostra que o cenário visto no estudo pode estar se repetindo no resto do país e no mundo. A bactéria Streptococcus agalactiae, que era considerada controlada, está mostrando sinais de evolução e adaptação. Portanto, há uma preocupação grande quanto às alternativas de tratamento para infecções causadas pelas novas cepas da bactéria que apresentam resistência à penicilina. Por conta disso, o estreptococo do grupo B está na lista de patógenos prioritários emitida pela Organização Mundial da Saúde desde 2024. O estudo reforça a importância do investimento em vacinas contra a bactéria e em pesquisas de vigilância e genômicas.
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