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Infectologia18 junho 2025

Diretrizes para ajuste de antibioticoterapia em pacientes obesos 

Revisão sistemática resumiu as evidências disponíveis e buscou fornecer orientação para antibioticoterapia em pacientes adultos obesos.

Um dos fatores essenciais no uso racional de antibioticoterapia é a administração dos medicamentos em posologias adequadas. Se por um lado é necessário atingir concentrações suficientes no local da infecção para que haja tratamento efetivo e para evitar desenvolvimento de resistência, por outro, exposições excessivas a antimicrobianos acarretam o risco de eventos adversos. 

Diferentes antibióticos apresentam diferentes características de farmacocinética e farmacodinâmica e diversos fatores podem alterar as concentrações séricas e teciduais alcançadas, resultando em necessidade de ajuste de doses. A presença de disfunção renal e/ou o uso de hemodiálise, por exemplo, é um dos fatores mais conhecidos e estudados. 

O peso corporal e obesidade também são capazes de alterar os parâmetros de farmacocinética. Entretanto, seu impacto na posologia dos antibióticos ainda é pouco claro, com poucos estudos sobre o tema. Autores norte-americanos conduziram uma revisão sistemática sobre a farmacocinética dos antibióticos em pacientes obesos e elaboraram diretrizes em relação aos ajustes indicados. 

Conceitualização da revisão sobre antibioticoterapia em pacientes obesos

Para essa revisão, os autores adotaram as seguintes definições e parâmetros: 

  • Os artigos avaliados focaram na farmacocinética de antibióticos em pacientes adultos (≥ 18 anos) com obesidade (IMC > 30 kg/m²) ou obesidade grave (IMC > 40 kg/m²). 
  • Foram excluídas apresentações de conferências e revisões, mas todos os outros tipos de desenho de estudo foram considerados. 
  • Probabilidade adequada de atingir a meta de farmacocinética/farmacodinâmica (Pk/Pd) foi definida como mais de 90% dos pacientes alcançando a meta de Pk/Pd no plasma. 
  • Para betalactâmicos, o alvo mínimo foi definido como concentração livre do fármaco excedendo a concentração inibitória mínima (MIC) do patógeno suscetível em 40 – 100% do tempo. 
  • Para vancomicina, a área abaixo da curva concentração plasmática x tempo ≥ 400 foi considerada adequada. 
  • O peso ajustado é calculado pela diferença entre o peso corporal total e o peso ideal multiplicada por um fator de correção (mais comumente 0,4) e somada ao peso ideal. 

Recomendações 

Baseados nos resultados encontrados, os autores destacam as principais diferenças de Pk encontradas em pacientes com obesidade e as recomendações para ajuste de dose, quando necessário. 

Betalactâmicos 

  • A administração de doses mais elevadas do que as usuais não é recomendada de rotina em pacientes com obesidade e infecções leves ou moderadas. 
  • Em pacientes críticos com obesidade, devem-se considerar infusões contínuas ou estendidas e monitoração de níveis séricos terapêuticos. 
  • Em situações de profilaxia cirúrgica, doses mais elevadas ou mais frequentes de cefalosporinas (como a cefazolina) devem ser consideradas em cirurgias com duração maior do que 2 – 3h. 

Aminoglicosídeos 

  • Para otimização das concentrações máximas, recomenda-se que o cálculo das doses seja baseado no peso ajustado. 
  • Para as doses de manutenção e intervalos, recomenda-se basear-se na função renal e monitorização dos níveis séricos ao invés do peso ajustado. 

Vancomicina 

  • Uma dose de ataque de 20 – 25 mg/kg de peso corporal total (máximo de 3g) é recomendada para pacientes com obesidade e infecção grave. 
  • As doses de manutenção devem ser individualizadas e guiadas pela monitorização de nível sérico para aumentar a probabilidade de se alcançar os alvos terapêuticos de Pk/Pd sem toxicidade. 
  • Quando possível, devem-se aplicar modelos populacionais para guiar a posologia. 

Linezolida, tedizolida e daptomicina 

  • Pacientes com obesidade e função renal normal podem necessitar de doses maiores de linezolida, mas não há dados robustos para embasar recomendações. 
  • Não há recomendação para ajuste de dose em pacientes com obesidade em uso de tedizolida. 
  • Para daptomicina, não há estratégias de ajuste validadas, mas os autores sugerem basear o cálculo de doses no peso ajustado. 

Quinolonas 

  • Ajuste de doses de fluoroquinolonas baseado em peso corporal não é recomendado. As doses devem ser guiadas por função renal. 
  • Doses mais elevadas ou mais frequentes devem ser consideradas em pacientes com obesidade e infecções graves de tecidos profundos como forma de alcançar concentrações teciduais adequadas. 

Tigeciclina e tetraciclinas 

  • Os dados disponíveis sugerem que não são necessários ajustes de dose na presença de obesidade para esses antibióticos.

Autoria

Foto de Isabel Cristina Melo Mendes

Isabel Cristina Melo Mendes

Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro

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