Durante a pandemia de Covid-19, o corticoide surgiu como um grande aliado no tratamento dos casos graves da doença e muitos estudos, incluindo bons ensaios clínicos randomizados, foram publicados para nos ajudar a entender os riscos e benefícios da terapia. Por outro lado, quando se trata de influenza, ainda há muitas incertezas e receios com relação ao uso de corticoides, principalmente porque não há dados de ensaios clínicos randomizados disponíveis (ECR).
Veja também: Influenza – complicações associadas que merecem nossa atenção
Corticoide na influenza: evidências de estudos observacionais
Duas meta-análises de estudos observacionais metodologicamente mais fracas relataram que, apesar das limitações dos estudos incluídos, o tratamento com corticosteroides de pacientes com influenza hospitalizados parecia estar associado ao aumento da mortalidade, mas conclusões exatas não foram possíveis devido a falta de informações sobre a dosagem ou indicação de tratamento com corticosteroides.
Uma meta-análise adicional de estudos observacionais publicados sugeriu que não apenas a mortalidade, mas também a infecção bacteriana nosocomial, a duração da ventilação mecânica e a permanência na UTI foram maiores em pacientes tratados com corticosteroides com influenza suspeita ou confirmada.
Outro estudo com dados de pacientes com pneumonia por influenza internados em UTI encontrou maiores índices de mortalidade nos que receberam corticoides em comparação com o que não receberam, com um OR = 1,6 (IC 95% = 1,3 – 2,0). O uso de corticoides esteve associado de forma independente à mortalidade na UTI (OR = 1,37; IC 95% = 1,01 – 1,87; p = 0,001), sem diferenças entre infecções por H1N1 ou outras cepas de influenza. Os resultados mantiveram-se após ajustes para fatores como gravidade.
Revisão sistemática publicada na Cochrane
Foi encontrado um ECR de terapia adjuvante com corticosteroides para o tratamento de pessoas com pneumonia adquirida na comunidade, mas o número de pessoas com influenza confirmada em laboratório foi muito pequeno para tirar conclusões sobre o efeito dos corticosteroides neste grupo. A certeza da evidência disponível de estudos observacionais foi muito baixa. Embora tenham encontrado que a terapia adjuvante com corticosteroides está associada ao aumento da mortalidade, esse resultado deve ser interpretado com cautela. São necessárias mais pesquisas de alta qualidade (tanto ECR’s quanto bons estudos observacionais). As evidências atualmente disponíveis são insuficientes para determinar a eficácia dos corticosteroides para pessoas com influenza.
O que recomenda o guideline da Infectious Diseases Society of America (IDSA)?
Já publicamos aqui no portal um artigo sobre as recomendações do Guideline da IDSA, revisando os principais pontos de diagnóstico e tratamento de influenza. Com relação ao uso de corticosteroides, eles trazem a seguinte recomendação:
Embora as evidências atuais sejam limitadas, o tratamento com corticosteroides de pacientes com influenza deve ser evitado, a menos que clinicamente indicado por outros motivos (por exemplo, exacerbação da asma, DPOC, hidrocortisona em dose baixa para insuficiência adrenal ou choque séptico refratário).
Leia mais: O que ainda é mais fatal: covid-19 ou influenza?
Mensagem prática
Ainda precisamos de mais estudos de qualidade para esclarecer os efeitos dos corticoides no tratamento da influenza. Na prática, porém, devemos evitar o uso desses medicamentos para esses casos, a menos que haja outras indicações clínicas.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.