Mesmo sendo uma conferência voltada para retrovírus e infecções oportunistas, o SARS-CoV-2 não deixou de ter seu espaço nessa edição do CROI. Uma sessão dedicada ao tema abordou aspectos em relação à carga viral, gravidade de doença e o impacto de vacinação e das variantes na dinâmica do vírus.
Carga viral, sintomas e transmissão
A relação entre a carga viral, sintomas e transmissibilidade de SARS-CoV-2 vem sendo estudada desde o início da pandemia, com diversos resultados já publicados.
Um estudo britânico recente, em que 18 voluntários foram inoculados com SARS-CoV-2 e foram acompanhados em relação ao desenvolvimento de sintomas e a carga viral em amostras nasais e de nasofaringe. Os resultados demonstraram o que outras evidências já apontavam: carga viral detectável inicia na fase pré-sintomática, em média três dias após a inoculação e com duração de aproximadamente uma semana, indicando um risco de transmissão antes mesmo do início dos sintomas. O pico de carga viral foi mais precoce nas amostras de nasofaringe do que nas nasais.
Uma grande questão em relação aos estudos de SARS-CoV-2 que avaliam fatores relacionados à transmissibilidade é o fato de que testes podem permanecer positivos por longos períodos, sem necessariamente significar replicação de vírus viáveis, e o período em que um indivíduo infectado é capaz de transmitir o vírus é, em geral, mais limitado. Um estudo conduzido em Taiwan, por exemplo, avaliou 2.761 contatos de 100 casos confirmados de Covid-19 e encontrou que nenhum caso secundário nos 852 contatos em que a exposição ocorreu mais de cinco dias após o início de sintomas do caso índice.
Um aspecto interessante abordado foi a relação entre carga viral e presença de sintomas. Evidências de dados norte-americanos demonstram que crianças tendem a ser menos sintomáticas do que adultos. Entretanto, ao se comparar a carga viral entre indivíduos sintomáticos e assintomáticos, os resultados foram semelhantes entre crianças e adultos, com indivíduos sintomáticos apresentando maior carga viral do que os assintomáticos. O apresentador aponta que esse pode ser um dos motivos que justifica o fato de crianças estarem associadas a menor transmissão de Covid-19, uma vez que são mais frequentemente assintomáticas.
Considerações
Quando se avaliam as diferentes variantes, comparações entre a delta e a ômicron não demonstraram diferença nos níveis de carga viral em indivíduos infectados por cada variante. Isso aponta que a diferença na transmissibilidade entre essas duas variantes, com a ômicron sendo reconhecidamente mais transmissível, não é explicada por diferenças entre a carga viral alcançada por cada variante. Uma possível explicação para a maior transmissibilidade da ômicron seria sua capacidade de invadir a célula por duas vias diferentes, aumentando as oportunidades de estabelecer infecção.
Essas evidências são corroboradas por estudos de casos de surtos, que indicam que a maioria das transmissões ocorre próximo ao início dos sintomas e que clusters estão associados a indivíduos altamente infectantes com um grande número de contatos em ambientes fechados e sem adoção de medidas protetivas, como uso de máscaras e distanciamento social.
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