Um dos painéis da Conference on Retoviruses and Opportunistic Infections (CROI) 2022 focou no cuidado com crianças expostas ao HIV. A terapia dos recém-nascidos ganha atenção já que são uma população em que se acredita que o reservatório de HIV seja menor.
A presença de células latentes infectadas com HIV – denominadas coletivamente como reservatório – é uma das barreiras para alcançar remissão completa e cura da infecção, mesmo com tratamento. Ao mesmo tempo, reservatórios menores estão associados com casos de manutenção de remissão sem terapia antirretroviral (TARV) e em que rebote de viremia só ocorre após anos.
Alguns estudos mostram resultados de ensaios clínicos conduzidos em recém-nascidos com o objetivo de avaliar a possibilidade de remissão sem TARV. Neste texto, apresentamos o primeiro deles.
IMPAACT P1115
O IMPAACT P1115 é um estudo multicêntrico e internacional envolvendo 30 locais em 11 países. Foram incluídos 460 recém-nascidos em 2 coortes, de janeiro de 2015 a dezembro de 2017. A coorte 1 consistiu de 34 crianças que foram diagnosticadas intraútero com infecção pelo HIV que iniciaram TARV dentro das primeiras 48h de vida. A coorte 2 consistiu de 20 crianças também diagnosticadas intraútero dentro dos primeiros 10 dias de vida.
Os esquemas de TARV consistiram de 2 inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleosídeo, associado a nevirapina até 12 semanas depois de carga viral indetectável. Lopinavir/ritonavir foi adicionado com 14 dias de idade.
O estudo foi desenhado em passos para determinar a possibilidade de manutenção de supressão viral sem terapia específica. Para isso, os incluídos eram periodicamente avaliados para determinar se preenchiam os critérios para avançar para a próxima fase e permanecer no estudo.
As etapas foram as seguintes:
Carga viral < 200 cópias/mL com 24 semanas -> carga viral < 200 cópias/mL entre 24 e 48 semanas -> carga viral indetectável (< 20 ou < 40 cópias/mL) na semana 48 e após -> após 2 anos de idade, avaliação para elegibilidade para interrupção de TARV
Foram consideradas elegíveis para interrupção de TARV as crianças que apresentavam carga viral indetectável, anticorpos anti-HIV-1 negativos e ausência de DNA de HIV-1 associado a células.
A maiorias das crianças incluídas em ambas as coortes era do continente africano, com participação também de Ásia, América do Norte e América do Sul. A mediana de tempo até o início de TARV foi de 7,3h na coorte 1 e de 32,8h na coorte 2.
Resultados
Com 24 semanas, 75% (24/32) das crianças na coorte 1 e 88% (15/17) das na coorte 2 tinham carga viral < 200 cópias/mL. No mesmo período de tempo, 19% (6/31) na coorte 1 e 22% (4/18) na coorte 2 tinham DNA de HIV-1 associado a células não detectado.
Em relação ao potencial de elegibilidade para interrupção de TARV aos 2 anos, a probabilidade geral estimada foi de 30% (IC 95% 18-42%), sendo 29% (IC 95% 15-45%) na coorte 1 e 30% (IC 95% 12-50%) na coorte 2.
O grupo ressalta que os resultados do estudo mostram que uma proporção substancial de crianças que mantiveram supressão virológica até os 2 anos de idade alcançaram um tamanho pequeno de reservatório, o que potencialmente permitiria remissão a longo prazo sem TARV.
As avaliações de elegibilidade e de remissão sem TARV estão em curso e os resultados podem ser importantes para informar um perfil de biomarcadores e potencial de remissão de HIV após o início muito precoce de TARV em casos de infecção perinatal.
Estamos acompanhando o CROI 2022. Fique ligado no Portal PEBMED!
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