Casos sazonais de Influenza são responsáveis por aproximadamente 650.000 óbitos anualmente no mundo. Além de medidas preventivas, como vacinação para populações alvo, medidas que consigam evitar a infecção de indivíduos não vacinados são necessárias para controlar a circulação viral na comunidade.
Alguns medicamentos antivirais vêm sendo utilizados como forma complementar à vacinação, principalmente como tratamento, embora estudos também tenham mostrado benefício para profilaxia pós-exposição. Contudo, os dados em relação a seu potencial para reduzir a transmissão para contactantes ainda mostram resultados incertos.
O Baloxavir é um inibidor de endonuclease com atividade contra o vírus Influenza e aprovado para tratamento e profilaxia pós-exposição. Em estudos prévios de fase 3, mostrou capacidade de reduzir os títulos virais e interromper a transmissão de partículas infectantes de forma mais rápida do que Oseltamivir.
Um estudo publicado na The New England Journal of Medicine avaliou a eficácia do Baloxavir na prevenção da transmissão de Influenza em contactantes domiciliares.
Materiais e métodos
Esse estudo, conhecido como CENTERSTONE, é um estudo clínico, randomizado, de fase 3b, duplo-cego e controlado por placebo. Participantes foram recrutados em 15 países entre outubro de 2019 e abril de 2024.
Eram elegíveis casos índices entre 5 e 64 anos, com diagnóstico de infecção por Influenza (PCR ou teste de antígeno), com PCR ou teste de antígeno para SARS-CoV-2 negativo, com até 48h de sintomas e que apresentavam pelo menos um contactante domiciliar. Os casos índices foram excluídos se possuíam fatores de risco para complicações relacionadas a Influenza.
Os contactantes domiciliares foram avaliados dentro de 24h após a randomização do caso índice e eram elegíveis se todos tiveram resultados negativos para Influenza e SARS-CoV-2, se pelo menos um não tivesse sido vacinado para Influenza nos últimos 6 meses e se nenhum contato tivesse < 2 anos, fosse imunocomprometido ou fosse gestante.
Os casos índices incluídos foram randomizados na proporção de 1:1 para receber Baloxavir em dose única ajustada por peso e idade ou placebo, dentro de 2h após randomização. A randomização foi estratificada de acordo com idade (5-11 anos, 12-30 anos ou ≥ 31 anos), tamanho do domicílio (≤ 2 ou ≥ contactantes domiciliares), região (Estados Unidos da América ou Europa, Ásia ou demais regiões), e duração dos sintomas (≤ 24h ou > 24 a 48h).
O desfecho primário de eficácia foi transmissão de Influenza do caso índice para um de seus contactantes domiciliares no dia 5 após a randomização, que foi determinada por um teste de PCR para Influenza positivo e um tipo e subtipo consistentes com o do caso índice. Todos os contactantes foram testados para Influenza independente da presença de sintomas.
Desfechos secundários incluíram transmissão de Influenza para um contactante domiciliar no dia 5 resultando em doença sintomática, transmissão de Influenza para um contactante domiciliar no dia 9 (sintomática ou independente de sintomas) e qualquer infecção viral nos contactantes no dia 9. As avaliações de segurança incluíram frequência, gravidade e momento dos eventos adversos nos casos índices.
Resultados: prevenção de transmissão de Influenza
No total, 1.457 casos índices foram incluídos e randomizados (726 no grupo que recebeu Baloxavir e 731 no que recebeu placebo). Um total de 2.681 contactantes domiciliares foram incluídos, sendo 1.345 relacionados a casos índice que receberam Baloxavir e 1.336 relacionados a casos índice que receberam placebo.
Para a análise primária dos casos índice, foram avaliados os dados de 548 participantes no grupo do Baloxavir e 544 no grupo placebo, o que representou 1118 e 1098 contactantes domiciliares relacionados a cada grupo, respectivamente. Os grupos foram semelhantes entre si em relação a suas características ao início do estudo e a maioria das infecções foi por Influenza A (H1N1pdm09 ou H3N2).
A incidência ajustada de transmissão do caso índice para seus contactantes domiciliares no dia 5 foi de 9,5% com Baloxavir e de 13,4% com placebo. A OR ajustada para transmissão com o uso de Baloxavir, comparado com placebo, foi de 0,68 (IC 95,38% = 0,5 – 0,93; p = 0,01), o que representa uma redução de risco relativo ajustada de 29% (IC 95,38% = 12 – 45%). A análise por subgrupos mostrou resultados semelhantes.
A incidência ajustada de transmissão resultando em infecção sintomática no dia 5 foi de 5,8% no grupo do Baloxavir e de 7,6% no grupo placebo, com uma OR ajustada de 0,75 (IC 95,38% = 0,50 – 1,12; p = 0,16) para transmissão com uso de Baloxavir em comparação com placebo. Isso representa uma redução de risco relativo ajustada de 24% (IC 95,38% = -2 – 46%), o que não foi estatisticamente significativo.
Já a análise no dia 9 mostrou uma incidência acumulada ajustada de transmissão foi de 10,8% com o Baloxavir e de 15,4% com placebo. Para transmissão de Influenza com desenvolvimento de sintomas no mesmo período, as incidências acumuladas ajustadas foram de 6,2% e 8,3% para os grupos do Baloxavir e placebo, respectivamente. Como esses resultados não foram estatisticamente significativos, as demais análises não foram feitas.
Baloxavir também resultou em redução mais rápida nos títulos virais em comparação ao placebo, assim como a redução nas cargas virais de Influenza, mensurados no dia 3.
Em relação à análise de segurança, 33 casos índices no grupo do Baloxavir (4,6%) e 51 no grupo placebo (7,0%) tiveram um ou mais eventos adversos relatados. A maioria foi classificada como leve. No total, 10 participantes tiveram eventos adversos considerados como relacionados à medicação (4 no grupo do Baloxavir e 6 no grupo placebo). Baloxavir não foi interrompido por evento adverso em nenhum participante e nenhum óbito foi relatado no estudo.
Mensagens práticas
- Nesse estudo, o uso de Baloxavir resultou em menor transmissão de Influenza de um caso índice para seus contactantes domiciliares em comparação com placebo.
- Contudo, não houve diferença significativa na redução de transmissão resultando em doença sintomática e nem na transmissão com 9 dias após randomização dos casos índices.
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