Avaliação e Screening infeccioso em Imunossuprimidos
O diagnóstico de infecções em pacientes imunocomprometidos críticos é um desafio significativo nas unidades de terapia intensiva (UTI). A imunossupressão, decorrente de tratamentos como quimioterapia ou imunomodulação, compromete a capacidade de defesa do organismo, aumentando a vulnerabilidade a patógenos oportunistas e infecções graves. A dificuldade em diferenciar manifestações infecciosas de condições não infecciosas, como toxicidade medicamentosa ou disfunção orgânica, é um dos principais obstáculos clínicos, o que retarda o diagnóstico e piora os desfechos.
Estratégia Diagnóstica
A abordagem diagnóstica para pacientes imunocomprometidos críticos deve ser personalizada e estruturada com base no tipo de imunodeficiência, manifestações clínicas e resultados radiológicos. A investigação precisa ser mais rápida, extensa e invasiva, em relação a abordagem usual de imunocompetentes, para obtenção de diagnóstico microbiológico em tempo hábil para guiar o tratamento.
O estudo de Dumas et al. (2024) recomenda o uso do acrônimo “DIRECT” para rápida avaliação de pacientes com insuficiência respiratória aguda, levando em consideração:
- Dias desde o início dos sintomas respiratórios;
- Imunodeficiência;
- Radiografia;
- Experiência clínica;
- Clínica;
- Tomografia computadorizada de alta resolução.
Essa abordagem ajuda a identificar a fonte da infecção e a direcionar as estratégias diagnósticas de forma mais eficiente. A integração entre biomarcadores, exames de imagem e testes moleculares (como PCR) é essencial para aumentar a taxa de identificação de patógenos, principalmente em situações de neutropenia.
Resultados
A capacidade diagnóstica em pacientes imunocomprometidos é afetada por vários fatores, como o uso prévio de antimicrobianos de amplo espectro e a variabilidade na resposta imune.
Tabela 1: Principais afecções e individualidades. PCR (polymerase chain reaction). Adaptado da referência 1.
Condição |
Mecanismo |
Patógeno |
Método diagnóstico |
Prevalência |
Neutropenia após quimioterapia |
Déficit de neutrófilos | Bactérias gram-negativas, Aspergillus | Hemocultura, PCR multiplex, TC de tórax, Dosagem de galactomanana | 35% |
Imunossupressão por inibidores de calcineurina | Déficit de células T | Pneumocystis jirovecii (PCP), Herpesvírus | Lavado broncoalveolar, PCR para PCP e painel viral | 25% |
Deficiência humoral (hipogamaglobulinemia, asplenia) | Déficit de imunidade humoral | Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae | Culturas bacterianas, TC de tórax, PCR multiplex | 20% |
Prevalência de Infecções por Tipo de Imunossupressão:
- Neutropenia induzida por quimioterapia: Observou-se que 35% dos casos no estudo eram compostos por pacientes com neutropenia induzida por quimioterapia, os quais apresentam um perfil de risco distinto, sendo altamente suscetíveis a infecções bacterianas (especialmente gram-negativos) e a infecções fúngicas (como Aspergillus). Essa população demonstrou necessidade de um diagnóstico rápido para otimizar a seleção antimicrobiana, sendo as hemoculturas, tomografias de tórax e testes moleculares como PCR métodos eficazes para detecção precoce.
- Déficit de células T: Em 25% dos pacientes com imunossupressão associada a inibidores de calcineurina ou HIV, as infecções se mostraram predominantemente fúngicas e virais, incluindo patógenos como Pneumocystis jirovecii, Cryptococcus e vírus da família herpes. O estudo reforçou a eficácia do lavado broncoalveolar e de biomarcadores específicos para identificar infecções fúngicas, além de métodos de imagem para uma avaliação abrangente. Esse grupo beneficiou-se particularmente do uso da abordagem “DIRECT”, que auxiliou na diferenciação entre infecções e manifestações não infecciosas.
- Deficiência de imunidade humoral: 20% dos casos envolviam pacientes com imunodeficiência humoral, como hipogamaglobulinemia e asplenia. Nesses pacientes, as infecções bacterianas por agentes encapsulados, como Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae, foram predominantes. A identificação dessas infecções foi facilitada pelo uso de culturas bacterianas e exames de imagem, que permitiram direcionar o tratamento de maneira mais precisa.
Desempenho e Limitações dos Biomarcadores
Em pacientes imunocomprometidos, os biomarcadores tradicionais, como a proteína C-reativa e a Procalcitonina, apresentam limitações significativas. O uso corticosteroides e imunossupressores podem alterar a resposta inflamatória, reduzindo a sensibilidade desses marcadores na detecção de infecções. Por exemplo, embora a procalcitonina seja útil em pacientes com neoplasias malignas, ela não deve ser usada para guiar terapias antimicrobianas em pacientes imunossuprimidos. Ainda são necessários biomarcadores mais específicos e confiáveis nessa população.
Avanços com Ferramentas Moleculares
O uso de técnicas moleculares, como o PCR e o sequenciamento de nova geração (NGS), mostrou grande potencial, permitindo uma taxa de detecção de patógenos significativamente mais alta em casos onde métodos convencionais como cultura bacteriana falharam. Em especial, a metagenômica e o NGS provaram ser eficientes na identificação precoce de infecções fúngicas e bacterianas, o que foi crucial para pacientes em risco de piora rápida. Em casos de neutropenia febril, por exemplo, onde os métodos convencionais apresentaram baixo rendimento, o uso de PCR e NGS elevou a taxa de identificação de patógenos para aproximadamente 82%, melhorando a acurácia diagnóstica e o direcionamento das terapias antimicrobianas.
Esses achados sublinham a importância de uma abordagem diagnóstica individualizada e multidimensional para pacientes imunocomprometidos, considerando o tipo de imunossupressão para determinar a escolha dos métodos diagnósticos. A integração de ferramentas moleculares e biomarcadores avançados é uma recomendação prática para o manejo dessa população, com potencial para melhorar significativamente os desfechos clínicos.
Mensagens Principais
- O diagnóstico rápido e preciso de infecções em pacientes imunocomprometidos é essencial para melhorar os desfechos clínicos e reduzir a mortalidade;
- A investigação precisa ser mais rápida, extensa e muitas vezes invasiva, em relação a abordagem usual de imunocompetentes, para obtenção de diagnóstico microbiológico em tempo hábil para guiar o tratamento;
- A abordagem deve ser personalizada para a queixa clínica, e deve envolver ferramentas diagnósticas avançadas (ex: Tomografia, Broncoscopia, PCR multiplex) para aumentar a taxa de identificação de patógenos e direcionar terapias antimicrobianas.
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