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Terapia Intensiva19 novembro 2024

Avaliação e Screening infeccioso em Imunossuprimidos 

O número crescente de pacientes gravemente enfermos imunocomprometidos apresenta desafios diagnósticos únicos para médicos intensivistas.

O diagnóstico de infecções em pacientes imunocomprometidos críticos é um desafio significativo nas unidades de terapia intensiva (UTI). A imunossupressão, decorrente de tratamentos como quimioterapia ou imunomodulação, compromete a capacidade de defesa do organismo, aumentando a vulnerabilidade a patógenos oportunistas e infecções graves. A dificuldade em diferenciar manifestações infecciosas de condições não infecciosas, como toxicidade medicamentosa ou disfunção orgânica, é um dos principais obstáculos clínicos, o que retarda o diagnóstico e piora os desfechos. 

Estratégia Diagnóstica 

A abordagem diagnóstica para pacientes imunocomprometidos críticos deve ser personalizada e estruturada com base no tipo de imunodeficiência, manifestações clínicas e resultados radiológicos. A investigação precisa ser mais rápida, extensa e invasiva, em relação a abordagem usual de imunocompetentes, para obtenção de diagnóstico microbiológico em tempo hábil para guiar o tratamento.  

O estudo de Dumas et al. (2024) recomenda o uso do acrônimo “DIRECT” para rápida avaliação de pacientes com insuficiência respiratória aguda, levando em consideração:    

  • Dias desde o início dos sintomas respiratórios;
  • Imunodeficiência; 
  • Radiografia; 
  • Experiência clínica; 
  • Clínica; 
  • Tomografia computadorizada de alta resolução. 

Essa abordagem ajuda a identificar a fonte da infecção e a direcionar as estratégias diagnósticas de forma mais eficiente. A integração entre biomarcadores, exames de imagem e testes moleculares (como PCR) é essencial para aumentar a taxa de identificação de patógenos, principalmente em situações de neutropenia. 

Resultados  

A capacidade diagnóstica em pacientes imunocomprometidos é afetada por vários fatores, como o uso prévio de antimicrobianos de amplo espectro e a variabilidade na resposta imune.  

Tabela 1: Principais afecções e individualidades. PCR (polymerase chain reaction). Adaptado da referência 1. 

Condição 

Mecanismo 

Patógeno 

Método diagnóstico 

Prevalência 

Neutropenia após quimioterapia 

Déficit de neutrófilos 

Bactérias gram-negativas, Aspergillus  Hemocultura, PCR multiplex, TC de tórax, Dosagem de galactomanana 35% 
Imunossupressão por inibidores de calcineurina Déficit de células T Pneumocystis jirovecii (PCP), Herpesvírus  Lavado broncoalveolar, PCR para PCP e painel viral   25%  
Deficiência humoral (hipogamaglobulinemia, asplenia) Déficit de imunidade humoral Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae Culturas bacterianas, TC de tórax, PCR multiplex 20%   

Prevalência de Infecções por Tipo de Imunossupressão:  

  • Neutropenia induzida por quimioterapia: Observou-se que 35% dos casos no estudo eram compostos por pacientes com neutropenia induzida por quimioterapia, os quais apresentam um perfil de risco distinto, sendo altamente suscetíveis a infecções bacterianas (especialmente gram-negativos) e a infecções fúngicas (como Aspergillus). Essa população demonstrou necessidade de um diagnóstico rápido para otimizar a seleção antimicrobiana, sendo as hemoculturas, tomografias de tórax e testes moleculares como PCR métodos eficazes para detecção precoce.
  • Déficit de células T: Em 25% dos pacientes com imunossupressão associada a inibidores de calcineurina ou HIV, as infecções se mostraram predominantemente fúngicas e virais, incluindo patógenos como Pneumocystis jirovecii, Cryptococcus e vírus da família herpes. O estudo reforçou a eficácia do lavado broncoalveolar e de biomarcadores específicos para identificar infecções fúngicas, além de métodos de imagem para uma avaliação abrangente. Esse grupo beneficiou-se particularmente do uso da abordagem “DIRECT”, que auxiliou na diferenciação entre infecções e manifestações não infecciosas. 
  • Deficiência de imunidade humoral: 20% dos casos envolviam pacientes com imunodeficiência humoral, como hipogamaglobulinemia e asplenia. Nesses pacientes, as infecções bacterianas por agentes encapsulados, como Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae, foram predominantes. A identificação dessas infecções foi facilitada pelo uso de culturas bacterianas e exames de imagem, que permitiram direcionar o tratamento de maneira mais precisa.

Desempenho e Limitações dos Biomarcadores  

Em pacientes imunocomprometidos, os biomarcadores tradicionais, como a proteína C-reativa e a Procalcitonina, apresentam limitações significativas. O uso corticosteroides e imunossupressores podem alterar a resposta inflamatória, reduzindo a sensibilidade desses marcadores na detecção de infecções. Por exemplo, embora a procalcitonina seja útil em pacientes com neoplasias malignas, ela não deve ser usada para guiar terapias antimicrobianas em pacientes imunossuprimidos. Ainda são necessários biomarcadores mais específicos e confiáveis nessa população.  

Avanços com Ferramentas Moleculares  

O uso de técnicas moleculares, como o PCR e o sequenciamento de nova geração (NGS), mostrou grande potencial, permitindo uma taxa de detecção de patógenos significativamente mais alta em casos onde métodos convencionais como cultura bacteriana falharam. Em especial, a metagenômica e o NGS provaram ser eficientes na identificação precoce de infecções fúngicas e bacterianas, o que foi crucial para pacientes em risco de piora rápida. Em casos de neutropenia febril, por exemplo, onde os métodos convencionais apresentaram baixo rendimento, o uso de PCR e NGS elevou a taxa de identificação de patógenos para aproximadamente 82%, melhorando a acurácia diagnóstica e o direcionamento das terapias antimicrobianas.   

Esses achados sublinham a importância de uma abordagem diagnóstica individualizada e multidimensional para pacientes imunocomprometidos, considerando o tipo de imunossupressão para determinar a escolha dos métodos diagnósticos. A integração de ferramentas moleculares e biomarcadores avançados é uma recomendação prática para o manejo dessa população, com potencial para melhorar significativamente os desfechos clínicos.  

Mensagens Principais 

  • O diagnóstico rápido e preciso de infecções em pacientes imunocomprometidos é essencial para melhorar os desfechos clínicos e reduzir a mortalidade; 
  • A investigação precisa ser mais rápida, extensa e muitas vezes invasiva, em relação a abordagem usual de imunocompetentes, para obtenção de diagnóstico microbiológico em tempo hábil para guiar o tratamento; 
  • A abordagem deve ser personalizada para a queixa clínica, e deve envolver ferramentas diagnósticas avançadas (ex: Tomografia, Broncoscopia, PCR multiplex) para aumentar a taxa de identificação de patógenos e direcionar terapias antimicrobianas.
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Referências bibliográficas

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