A psoríase é uma doença inflamatória crônica prevalente. Os quadros moderados a graves são tratados sistemicamente, com imunossupressores ou tratamentos biológicos sendo estes últimos muito eficazes e geralmente bem tolerados. Entretanto, nem todos os pacientes respondem ao tratamento com produtos biológicos, por isso há necessidade de novas opções de tratamento para a psoríase.
A doença psoriásica é mediada por mecanismos complexos do sistema imunológico inato e adaptativo, envolvendo a interação entre queratinócitos, células dendríticas, linfócitos T e diversas citocinas. A IL-23 exerce um papel central na patogênese da doença ao promover a diferenciação e expansão dos linfócitos Th17, que liberam citocinas pró-inflamatórias como TNF alfa, IL-22, IL-26, e IL-29, o que estimula a proliferação de queratinócitos.
Essa cascata inflamatória é mediada por vias de sinalização JAK-STAT, especialmente por TYK2, responsável pela transdução de sinal da IL-23. O receptor de IL-23 depende de um heterodímero de JAK2 e TYK2 para transdução de sinal, destacando assim o papel dos JAKs na patogênese da psoríase e o potencial terapêutico.
Leia mais: Vitiligo e inibidores de JAK: O que devemos saber?
Inibidores de JAK
Os iJAK atualmente utilizados em ensaios clínicos têm como alvo diferentes membros da família JAK, variando quanto à seletividade. Os iJAK de primeira geração são menos seletivos, tendo como alvo dois ou três JAKs diferentes e, portanto, apresentam mais efeitos colaterais em comparação com a geração mais recente (por exemplo, inibidores seletivos de TYK2. Até o momento, os principais iJAK aprovados são o ruxolitinibe para mielofibrose e policitemia vera, tofacitinibe para artrite reumatóide (AR), artrite psoriática e colite ulcerativa e baricitinibe para AR.
Leia também: Inibidores de JAK no tratamento da dermatite atópica: eficácia e segurança
Quanto à psoríase, as principais indicações para o uso dos iJAK são psoríase moderada a grave ou artrite psoriásica em pacientes que não responderam, apresentaram intolerância ou têm contraindicações a terapias sistêmicas convencionais ou biológicos. Em geral, os estudos utilizam tofacitinibe (2, 5, 10 e 15 mg, 2×/dia), solcitinibe (200 e 400 mg, 2×/dia), baricitinibe (8 e 10 mg, 2×/dia) e deucravacitinibe (3 mg e 6 mg 2×/d), que mostraram uma resposta PASI75 superior à do placebo na semana 8 e na semana 12 em pacientes com psoríase em placas moderada a grave.
A escolha do agente deve considerar as indicações e o perfil de segurança. Além disso, deve-se atentar aos efeitos colaterais, como risco de infecções, eventos cardiovasculares e malignidades.

Perspectivas: Inibidores de JAK na psoríase
No Brasil, o tofacitinibe 5 mg 2x ao dia é aprovado para o tratamento da artrite psoriásica em adultos. No entanto, algumas evidências direcionam seu uso para tratamento da psoríase ungueal, visto que 33% dos pacientes alcançaram NAPSI50 na semana 16 com tofacitinibe 5 mg 2x/d, 44% com 10 mg 2x/d e 12% com placebo.
Nos Estados Unidos, o tofacitinibe e o upadacitinibe são aprovados pelo FDA apenas para a artrite psoriásica refratária a inibidores de TNF. No Brasil, os iJAKs ainda não são aprovados para o tratamento da psoríase cutânea, com uso restrito a indicações reumatológicas e sua incorporação clínica dependerá de novas evidências de segurança, eficácia e aprovação regulatória pela ANVISA.
Saiba mais: Inibidores de JAK no tratamento da alopecia areata: avanços e perspectivas
Autoria

Marselle Codeço Barreto
Médica pela Faculdade de Medicina Souza Marques e Dermatologista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Preceptora de Dermatologia e Dermatoscopia no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ). Possui Título de Especialista em Dermatologia e é Membro Titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM) e International Dermoscopy Society (IDS).
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.