Alopecia Areata (AA) é uma doença autoimune comum, caracterizada pela perda capilar não cicatricial, que que pode variar de pequenas áreas no couro cabeludo até formas mais extensas, que levam à perda completa envolvendo todo o corpo. Geralmente surge entre 25-37 anos e pode gerar impacto psicológico significativo, incluindo depressão e ansiedade. Sua etiologia envolve fatores genéticos e ambientais que afetam a imunidade e a sinalização de células T. Embora não exista cura, terapias imunossupressoras têm sido usadas com eficácia limitada.
Patogênese da alopecia areata
Sua patogênese envolve o colapso do privilégio imunológico do folículo piloso, com infiltrado inflamatório composto por linfócitos CD4+, CD8+ e células NK ao redor do bulbo folicular em fase anágena, resultando em interrupção da melanogênese e da produção da haste capilar.
A presença de linfócitos T CD8+ NKG2D+ é determinante para o desenvolvimento das lesões, em um ciclo de perpetuação mediado por IFN-y e IL-15. O IFN-y induz a produção de IL-15 pelas células epiteliais, que ativa linfócitos T CD8+ NKG2D, estimulando ainda mais a produção de IFN-y, num circuito sustentado dependente da via JAK-STAT.
Terapias
Não há cura definitiva e as terapias imunossupressoras têm sido usadas com eficácia limitada. Entretanto, os inibidores da JAK (iJAK) surgiram como uma nova estratégia terapêutica promissora, ao diminuir a inflamação pela inibição dessa via. A partir de relatos de repilação com o uso de tofacitinibe em pacientes tratados para psoríase, diversos estudos subsequentes demonstraram resultados favoráveis com o uso dos iJAKs sistêmicos, como tofacitinibe, ruxolitinibe e baricitinibe, culminando na aprovação do primeiro tratamento on-label para a AA pelo FDA em 2022.

Eficácia: Inibidores de JAK no tratamento da alopecia areata
Em um estudo comparativo, tofacitinibe e ruxolitinibe apresentaram eficácia semelhante após 6 meses, com melhora significativa em 75% dos pacientes. Nos ensaios BRAVE-AA1 e BRAVE-AA2, o baricitinibe mostrou resposta dose-dependente e levou à aprovação pelo FDA em 2022. Outros iJAKS em investigação, como ritlecitinibe e deuruxolitinibe também demonstraram repilação proporcional à dose administrada.
Já as formulações tópicas de tofacitinibe, ruxolitinibe, delgocitinibe e outras não apresentaram eficácia consistente, possivelmente devido à baixa penetração cutânea nas regiões de inflamação peribulbar.
Atualmente, os principais iJAKs aprovados pelo FDA nos EUA são o baricitinibe e o deuruxolitinibe. O baricitinibe é administrado por vira oral, na dose de 4mg usualmente, uma vez ao dia. Já o deuruxolitinibe é aprovado para adultos com AA grave, utilizado na dose de 12 mg, duas vezes ao dia. No Brasil, somente o baricitinibe é aprovado, na dose de 2-4 mg, via oral, uma vez ao dia.
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Perspectivas
O manejo da AA grave continua desafiador. O Consenso da Sociedade Brasileira de Dermatologia (2020) recomenda o uso de iJAKS sistêmicos como opção em casos extensos e refratários. Apesar dos avanços, menos de 40% dos pacientes alcançaram SALT20 nos estudos que embasaram a aprovação do baricitinibe e indivíduos com doença de longa duração não foram incluídos.
Assim, são necessários estudos comparativos com outros imunossupressores e acompanhamentos mais prolongados para avaliar manutenção da resposta, segurança e eficácia dos iJAKS a longo prazo.
Autoria

Marselle Codeço Barreto
Médica pela Faculdade de Medicina Souza Marques e Dermatologista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Preceptora de Dermatologia e Dermatoscopia no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ). Possui Título de Especialista em Dermatologia e é Membro Titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM) e International Dermoscopy Society (IDS).
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