Transplante de medula óssea na aplasia de medula
Indicações clínicas
Todo paciente com diagnóstico de aplasia de medula óssea grave ou muito grave com menos de 40 anos e que tem doador aparentado totalmente compatível imediatamente disponível deve ser candidato a receber um transplante de medula óssea.
Comorbidades e outras contraindicações devem ser avaliadas no período pré-transplante. Pacientes que tenham entre 40 e 50 anos devem ser avaliados quanto ao grau de comorbidades presentes antes da indicação do TMO alogênico. Escores prognósticos como o HCT-CI são úteis nessa avaliação.
Pacientes com marcadores de má resposta à imunossupressão também devem ser avaliados quanto à possibilidade de TMO em primeira linha.
Assim, uma duração prolongada entre o diagnóstico e o início do tratamento, ausência de clones HPN (hemoglobinúria paroxística noturna), comprimento telomérico encurtado e a presença de mutações adversas (ASXL1, TP53, RUNX1, DNMT3A) devem sugerir um benefício do TMO em primeira linha.
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Informações importantes sobre idade do paciente e sobrevida
Dados do European Group for Blood and Marrow Transplant (EBMT) refletindo a sobrevida global de pacientes com aplasia de medula severa ou muito severa submetidos ao transplante alogênico aparentado compatível demonstraram um impacto negativo da idade sobre o desfecho avaliado. A sobrevida em 10 anos foi de 86%, 76% e 55%, respectivamente, para as faixas etárias de 1 a 20 anos, 21 a 40 anos e > 40 anos.
No entanto alguns novos dados sobre o uso de fludarabina no condicionamento de pacientes mais velhos (> 30 anos) têm sido promissores, reportando sobrevida global em cinco anos semelhante entre pacientes jovens e pacientes maiores de 50 anos (tabela 1).
TMO alogênico não aparentado compatível (10/10; HLA-A, B, C, DRB1, DQB1)
Deve ser avaliado após falha de pelo menos um ciclo da terapêutica imunossupressora na maioria dos casos. Em crianças e adolescentes, estudos retrospectivos têm mostrado uma equivalência, em termos de sobrevida global, entre pacientes submetidos ao TMO alogênico aparentado compatível e não aparentado compatível, podendo ser considerado em primeira linha no contexto apresentado.
Para tanto, o doador deve estar prontamente disponível (dentro de 12 semanas) e não ser uma mulher multípara, enquanto o receptor deve apresentar infecções de repetição ameaçadoras à vida ou ter anormalidades citogenéticas clonais.
Os doadores alternativos como fonte de cordão umbilical, haploidêntico ou não aparentado 9/10 podem ser considerados nos casos de falha da terapia imunossupressora e ausência de um doador compatível.
Deve-se proceder à avaliação dos anticorpos anti-HLA do doador pelos riscos de rejeição do enxerto. O TMO haploidêntico tem ganhado relevância a partir do desenvolvimento da ciclofosfamida pós-enxertia.
Nos casos de doadores singênicos (irmãos gêmeos univitelinos), deve-se aventar a possibilidade do TMO independentemente da idade.
Recomendações sobre fonte de medula, número de células e imunossupressão
Número de células tronco:
- Doador aparentado compatível ou não aparentado totalmente compatível: 3 × 106 CD34-positive cells/kg (ou 3 × 108 células nucleadas totais/kg)
- Haploidêntico: 3,5 x 106/kg para fonte de medula e 7,1 x 106/kg para sangue periférico.
Obs: contagens mais altas são preferíveis para se evitar a rejeição do enxerto.
A timoglobulina anti-timocítica humana de coelho (ATGr) é mais imunossupressora quando comparada à ATG de cavalo (ATGh) e é preferível no contexto do transplante alogênico de medula óssea.
A administração de CSA pós-transplante geralmente é mantida por 9 meses, com redução gradual da dose ao longo de 3 meses, visando diminuir a incidência de falha tardia do enxerto. Manter nível sérico > 250µg/L. Se a função renal estiver comprometida, um regime de CSA em “meia dose” e MMF em “meia dose” pode ser utilizado como alternativa.
A fonte de células tronco varia de acordo com o regime de condicionamento escolhido. A fonte originária da medula óssea é recomendada para esquemas baseados em timoglobulina, enquanto a fonte de sangue periférico colhido por aférese pode ser uma possibilidade nos casos de condicionamento à base de alentuzumabe.
Altos índices transfusionais do receptor também atuam como fator de mau prognóstico associado ao transplante. A transfusão de mais de 20 concentrados de hemácias ou de 50 concentrados de plaquetas atua como fator de mau prognóstico.
Recomendações quanto aos esquemas de condicionamento
As recomendações a seguir foram dispostas no formato de tabela para melhor consulta e compreensão.
Tabela 1 – esquemas de condicionamento
Doador aparentado compatível |
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Doador não aparentado compatível (10/10) |
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Doador Haploidêntico familiar |
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Singênico |
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Segundo TMO para falha de enxertia |
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Recomendações pós-enxertia
Recomenda-se o monitoramento regular de CD3 (células T) não fracionado e linhagem-específica, no sangue periférico e na medula óssea, para detectar precocemente a falha do enxerto. O quimerismo misto progressivo prediz um alto risco de rejeição do enxerto.
A estabilidade do quimerismo misto de células T na presença de quimerismo mieloide total do doador é comum quando se utiliza o regime FCC. O monitoramento dos efeitos tardios deve seguir diretrizes internacionais, incluindo vigilância de rotina para malignidades secundárias, riscos endócrinos, metabólicos, ósseos (incluindo necrose avascular) e cardiovasculares.
A sobrecarga de ferro é comum e é mais facilmente tratada por flebotomias regulares uma vez que os pacientes estejam completamente enxertados pós-transplante ou admite-se a utilização de drogas quelantes de ferro no caso de lesão a órgão-alvo na presença de anemia residual. Em pacientes com AA transplantados, a revacinação deve seguir a prática padrão de TMO alogênico.
As indicações aqui apresentadas são baseadas nos guidelines da European Society for Blood and Marrow Transplantation – Severe Aplastic Anaemia Working Party (SAAWP), assim como no guideline da British Society of Hematology e em trabalhos originais encontrados na literatura.
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