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Ginecologia e Obstetrícia14 novembro 2023

Risco de rotura uterina em multíparas após indução do parto com prostaglandina

Estudo de coorte retrospectivo analisou dados sobre o uso de prostaglandina em maternidades na Suécia entre maio de 1996 e dezembro de 2019.

Por Ênio Luis Damaso

Artigo publicado recentemente no International Journal of Gynecology and Obstetrics teve como objetivo avaliar se o uso de prostaglandina para indução do trabalho de parto entre mulheres multíparas (paridade ≥2), sem ou com cesárea prévia, apresenta risco aumentado de resultado materno negativo, ou seja, rotura uterina, em comparação com mulheres nulíparas ou uníparas. 

O estudo foi desenvolvido na Suécia, onde a taxa de indução do trabalho de parto foi 27% em 2020. A indução do trabalho de parto pode trazer riscos maternos e perinatais, incluindo o risco de rotura uterina. Rotura uterina é uma complicação obstétrica rara, mas grave, que tem como principal fator de risco a cesárea prévia. 

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Risco de rotura uterina em multíparas após indução do parto com prostaglandina

Metodologia

Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo de base populacional incluindo mulheres que foram submetidas à indução com prostaglandina (E1 [misoprostol] ou E2 [dinoprostone], não podendo distinguir entre elas) em todas as maternidades na Suécia entre maio de 1996 e dezembro de 2019 (n= 56.784). A coorte do estudo foi obtida utilizando dados do Registro Médico de Nascimento Sueco, que contém informações de registros de maternidade e parto.

As mulheres foram divididas em: multiparidade (dois ou mais partos prévios), nuliparidade e uniparidade (um parto prévio). Depois foram estratificadas quanto a cesárea previa ou não. O principal desfecho analisado foi a rotura uterina. 

Resultados

No total, 56.784 mulheres foram induzidas com prostaglandina entre 1996 e 2019, na Suécia. Entre elas, 31.761 mulheres eram nulíparas, 14.378 eram uníparas com um parto anterior e 10.645 eram multíparas (≥2). A rotura uterina foi identificada em 88 mulheres, sendo 10 (0,03%) entre as nulíparas, 57 (0,40%) entre as uníparas e 21 (0,20%) entre as multíparas. 

No geral, mulheres multíparas induzidas com prostaglandina tiveram um risco mais de três vezes maior de rotura uterina em comparação com mulheres nulíparas (odds ratio [OR] ajustado: 3,33 [intervalo de confiança (IC) de 95%, 1,38–8,04]; P < 0,007). Para mulheres com cesárea prévia (independente da paridade), o risco de rotura uterina foi 38 vezes maior com parado com mulheres sem cesárea prévia (OR, 38,4 [IC 95%, 23,8–61,8]). 

Mulheres multíparas sem cesariana anterior induzida com prostaglandina tiveram risco mais de três vezes de rotura uterina (OR bruto: 3,55 [IC 95%, 1,48-8,53]; P = 0,005) em comparação com mulheres nulíparas e quatro vezes maior risco em comparação com mulheres uníparas (OR: 4,10 [IC 95%, 1,12–15,00]; P<0,033). Mulheres multíparas com cesárea anterior tiveram um risco diminuído de rotura uterina em comparação com mulheres uníparas com uma cesárea anterior (OR bruto, 0,41 [95% Cl, 0,21–0,78]; P = 0,007). 

Saiba mais: Efetividade da episiotomia para prevenir lacerações perineais em nulíparas

Conclusões

A multiparidade por si só é um fator de risco para rotura uterina quando induzida com prostaglandina em mulheres sem cesárea prévia, o que deve ser levado em consideração na escolha do método de indução.  

Mulheres de qualquer paridade com cesárea prévia apresentaram risco 38 vezes maior de rotura uterina; entretanto, ao comparar mulheres com cesárea prévia, multíparas tiveram um risco significativamente menor de rotura uterina que as mulheres uníparas. 

Apesar desses resultados, a prostaglandina continua não recomendada como método de indução na tentativa de parto vaginal após cesárea previa. E os autores acreditam que por tratar-se de um estudo observacional, com dificuldades em obter informações apuradas em alguns casos, e com a frequência absoluta do desfecho primário baixa, deve-se ter cautela na interpretação dos achados deste estudo.

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