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Infectologia22 fevereiro 2024

Covid-19 nas diferentes formas de imunossupressão

Estudo avaliou os efeitos da covid-19 sobre indivíduos com diferentes níveis de imunossupressão
Indivíduos imunossuprimidos são considerados grupos de risco para o desenvolvimento de doença grave diante de uma infecção por SARS-CoV-2. Além de uma resposta imune alterada à infecção, as respostas às vacinas também podem estar atenuadas, colocando essa população sob risco. Contudo, como existem diferentes formas de imunossupressão, nem todos os indivíduos apresentam o mesmo risco. Um estudo recentemente publicado procurou avaliar a resposta à covid-19 em pessoas com variadas formas de imunossupressão.

Materiais e métodos

O estudo avaliou indivíduos pertencentes a uma coorte de um estudo longitudinal que seguiu adultos que testaram positivo para SARS-CoV-2 ou que receberam prescrição para tratamento de covid-19 em unidades de saúde pertencentes ao sistema Mass General Brigham. Os participantes foram divididos em três categorias de imunossupressão: a) gravemente imunossuprimidos por transplante de órgãos sólidos, transplante de células hematopoiéticas, linfoma ou leucemia, ou câncer tratado com múltiplos imunossupressores; b) gravemente imunossuprimidos por terapia contra células-B para o tratamento de doenças autoimunes ou por deficiência de células B congênita ou de início tardio; e c) imunossuprimidos não graves por terapia com imunossupressores, como anti-TNF, para doenças autoimunes. Leia também: Como evoluíram crianças e adolescentes com SRAG por SARS-CoV-2 e outros vírus? Os autores compararam 56 indivíduos imunossuprimidos com 184 imunocompetentes. Todos os participantes, em ambos os grupos, estavam vacinados com, em média, 3 doses de imunizantes contra covid-19. Em sua maioria, os próprios participantes fizeram a coleta de swab para SARS-CoV-2 durante o estudo. Ambos os grupos continham indivíduos que receberam antivirais ou anticorpos monoclonais para tratamento de Covid-19 em algum momento fora do estudo. A proporção em que isso aconteceu foi maior no grupo de indivíduos imunossuprimidos. Os objetivos do estudo eram principalmente avaliar a probabilidade de mutação viral nos indivíduos que tinham sequenciamento genético disponível na entrada do estudo e em, pelo menos, uma outra situação e avaliar a duração de transmissibilidade.

Resultados

Entre os participantes que tinham sequenciamento genético viral, 39% dos que eram imunossuprimidos tinham evidências de alterações nos genes que codificam a proteína S, comparados com 12% dos que pertenciam ao grupo dos não imunossuprimidos. O estudo comparou também o tempo para haver clearance de RNA viral nasal e de vírus viáveis em cultura. Enquanto a presença de RNA viral nas amostras de swab nasal não necessariamente representam vírus viáveis, o crescimento em cultura indica infectividade. Em média, o primeiro grupo — os que eram receptores de transplantes — levou 72 dias para fazer clearance de RNA viral e 40 dias para vírus viável. O segundo grupo com imunossupressão grave levou 10 dias para clearance de RNA e 6,5 dias para vírus viáveis. O terceiro grupo — com imunossupressão não grave — levou 12 dias para clearance de RNA viral e 6 dias para vírus viáveis. Já no grupo sem imunossupressão, o tempo médio para clearance de RNA foi de 13 dias e para vírus viável, de 7 dias. Dez participantes foram hospitalizados, sendo 7 por Covid-19 grave. Nove desses participantes tinham neoplasia hematológica. Em média, eles foram tratados com nirmatrelvir-ritonavir por 10 dias. Nenhum desses pacientes morreu e 9 apresentaram clearance total do vírus.

O que os resultados significam?

Os resultados demonstram maior tempo de transmissibilidade entre indivíduos com imunossupressão grave, o que já havia sido sugerido em alguns relatos e séries de casos. Eles destacam que, nessa população, a persistência de sintomas por mais de 10 dias deve levar à hipótese de continuidade de transmissão e não ser considerada como manifestação de Covid longo de forma imediata. Embora não haja dados de ensaios clínicos randomizados, alguns guidelines sugerem que, em pacientes com imunossupressão e que apresentem sintomas prolongados e evidências de replicação sustentada de SARS-CoV-2, o tratamento com nirmatrelvir-ritonavir ou com remdesivir seja prolongado. De forma interessante, alguns indivíduos com imunossupressão apresentaram clearance mais rápido do que os do grupo sem imunossupressão. Isso pode ser devido a diferenças no papel das células B e T na resposta contra SARS-CoV-2. Um relato de caso publicado previamente descreveu Covid-19 em dois pacientes com agamaglobulinemia ligada ao X (XLA), uma doença congênita em que não há células B circulantes. Esses pacientes recuperaram-se da infecção sem necessidade de cuidados intensivos. Acredita-se que respostas mediadas por células T sejam importantes na proteção contra SARS-CoV-2. Leia ainda: Efeitos da SARS-CoV-2 e sua relação com doenças autoimunes
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Referências bibliográficas

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