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Cirurgia6 setembro 2024

Pé congênito torto: como deve ser realizada a tenotomia do tendão de aquiles?

Um ensaio clínico comparou o uso das duas técnicas em uma amostra de 172 crianças no período entre junho de 2021 e setembro de 2023.
Por Rafael Erthal

O pé torto congênito (PTC) é uma doença que afeta aproximadamente 1,2 em cada 1.000 crianças nascidas vivas em todo o mundo. Seu tratamento atualmente considera o uso do método de manipulação gessada descrita por  Ponseti, que é considerado o padrão-ouro. Após o período de manipulação, mais de 70% das crianças afetadas necessitam de uma tenotomia do tendão de Aquiles para corrigir completamente a deformidade equina ao final da fase de imobilização gessada. 

A tenotomia percutânea do tendão de Aquiles (TP) é tradicionalmente realizada com uma lâmina de bisturi de Beaver ou No. 15, e apresenta uma taxa de sucesso de 96%. Apesar deste procedimento não ser tecnicamente complexo, complicações como infecções, lesões nervosas ou vasculares incluindo a formação de pseudoaneurismas podem ocorrer em até 2% dos casos. A realização da tenotomia com a perfuração utilizando agulhas de grosso calibre é uma técnica alternativa que pode apresentar algumas vantagens em relação à técnica tradicional. 

Um ensaio clínico randomizado foi recentemente publicado comparando o uso das duas técnicas em uma amostra de 172 crianças, incluindo 244 pés tratados no período entre junho de 2021 e setembro de 2023. 172 crianças foram incluídas no estudo, com uma média de idade de 5,5 meses.  

Veja também: Pé torto congênito conheça a abordagem do Whitebook – Portal Afya

 

O estudo 

Este estudo avaliou os pacientes com três semanas e três meses após a cirurgia, e comparou as medidas da amplitude de dorsiflexão, os escores de Pirani e as complicações nos grupos tratados com as duas técnicas. Para a amplitude de dorsiflexão, foi determinado que uma técnica seria considerada inferior a outra caso uma diferença maior de 4° ocorresse entre as duas. 

 

Resultados 

O grupo na qual a técnica tradicional utilizando lâmina foi realizada apresentou maior dorsiflexão nas duas consultas de acompanhamento: 18,36° versus 18,03° (p = 0,115) em três semanas e 18,96° versus 18,26° (p = 0,001) em três meses, entretanto esta diferença não torna a técnica realizando perfuração com agulha inferior por representar uma diferença média de apenas 0,7°. Não houve diferença significativa nas pontuações de Pirani.  

O grupo lâmina apresentou cicatrizes mais extensas aos três meses do que o grupo agulha (8 vs 2). Nenhuma grande complicação foi detectada nos pacientes dos dois grupos. 

 

Conclusão 

Os resultados deste estudo sugerem que o uso de agulhas para a realização da tenotomia percutânea do tendão de Aquiles não é inferior à técnica tradicional com lâmina de bisturi no tratamento de pé torto congênito em crianças menores de 36 meses. 

Embora o grupo da lâmina de bisturi tenha apresentado uma ligeira vantagem na amplitude de dorsiflexão, a diferença foi bem abaixo da margem de não inferioridade estabelecida.  

A técnica com agulha oferece uma alternativa eficaz com menor risco de complicações visíveis, como cicatrizes mais extensas, podendo assim ser considerada uma opção prática e segura proporcionando resultados semelhantes aos da técnica tradicional com lâmina. 

 

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Referências bibliográficas

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