ACSCC 2022: Conduta expectante frente a lesões císticas do pâncreas
Com o avanço da qualidade e disponibilidade dos métodos de imagem, o número de lesões císticas diagnosticadas por tomografia cresce.
Essa evolução fez com que condutas expectantes se tornassem possíveis, retirando a necessidade da urgência operatória que existia no passado quando as imagens das lesões císticas não eram tão fidedignas.
Uma aula do Dr. Marco Del Chiaro, cirurgião oncológico da Universidade de Pisa, Itália, tratou do tema durante o congresso ACSCC 2022, da American College of Surgeons. A sessão expôs uma das dificuldades das lesões pancreáticas, que é a falta de uniformidade entre as diferentes sociedades que abordam o assunto. Nos guidelines antigos, o volume dos cistos era ponto crucial.
Com o avanço do conhecimento sobre essas lesões, especialmente nos casos de IPMN (neoplasia intraductal produtora de mucina), notou-se que o tamanho e volume não estão diretamente correlacionados com o câncer, mas sim nódulos na parede do cisto, diâmetro do ducto pancreático e icterícia. Quanto à indicação de realizar a ressecção cirúrgica, o guideline europeu se mostrou mais agressivo nas indicações que o guideline da sociedade internacional.
Illustration of male pancreas anatomyDiagnóstico dos cistos
A profa. Kelly J. Lafaro, durante o mesmo evento, abordou as dificuldades em realizar o diagnóstico correto dos cistos pancreáticos. Com a certeza do diagnóstico, pode-se atribuir um tratamento adequado que pode não envolver cirurgia. A acurácia da tomografia em diagnosticar um câncer varia de 60% a 86%, enquanto na ressonância magnética vai de 77% a 91%. Cada tipo de categoria de cisto possui características e localizações mais frequentes. Somente com estes dados já é possível sugerir um diagnóstico.
Nos casos em que tanto a TC quanto a RM não conseguem determinar a presença de malignidade, faz-se necessário o uso de ecoendoscopia com punção por agulha fina. Além de determinar a presença de nódulos murais nos cistos, podem realizar a punção dos mesmos. Atualmente foi publicado que mutações encontradas no líquido cístico possuem correlação direta com a presença de neoplasia maligna.
Em outro momento do painel sobre cistos pancreáticos no ACSCC 2022, o Dr. Peter Allen apontou as dificuldades de acompanhamento destes pacientes. O principal ponto é que alguns deles possuem maior risco de desenvolvimento de lesões malignas ao longo do parênquima pancreático. Mesmo estáveis é difícil interromper o seguimento deles.
Conduta em casos de IPNM invasivo
Como demonstrado pela Dra. Tohanna Laukkarinen, IPMNs invasivos se comportam diferentemente de adenocarcinomas ductais do pâncreas. Estudos são muito limitados e ainda não sabemos dos benefícios da quimioterapia neoadjuvante. Os IPMNS, apesar de apresentarem maior tempo livre de doença, têm momento de recidiva mais tardio e nos pulmões, majoritariamente.
Mensagem prática
Tratar lesões pancreáticas é complexo e controverso até entre os especialistas. É fundamental que os pacientes sejam acompanhados por um centro de referência.
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