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Carreira14 agosto 2024

Cardiologia: desafios e recompensas da especialidade

O cenário de pacientes graves exige muitas habilidades do médico: a capacidade técnica sempre é necessária, mas a capacidade humana é uma arte
Por Redação Afya

O dia 14 de agosto celebra, desde 2007, os cardiologistas, essenciais na saúde cardiovascular da população.  

De acordo com a Demografia Médica de 2023, a Cardiologia é uma das especialidades com maior número de profissionais registrados, cerca de 20 mil, compondo um grupo de crescimento superior a 50% na última década (de 2012 a 2022). Este campo apresenta tremendos desafios, desde a formação acadêmica à prática clínica, até o impacto decisivo no bem-estar do paciente. 

Qualquer doença que envolve o coração carrega o risco de complicações e morte e, conforme atesta Dra. Sarah Ziotti, “este é grande desafio da especialidade: cuidar de casos difíceis sem perder a empatia. O cenário de pacientes graves exige muito mais habilidades do médico; a capacidade técnica sempre é necessária, mas a capacidade humana é uma arte”.  

Para discutir um pouco sobre a Cardiologia, contamos com a contribuição dos médicos Ronaldo Gismondi, Isabela Abud e Sarah Ziotti, cardiologistas e editores-médicos da Afya. 

 

Desafios na formação 

É uma grande responsabilidade do jovem ter que decidir tão cedo sua profissão e, ao optar por Medicina, a carga de desafios a serem vencidos é maior ainda, pelo tempo dedicado à formação (6 anos), além do dia a dia de estudos intensos e internato.  

Após essa etapa, surge a dúvida sobre a futura especialidade. Dra. Isabela Abud destaca que “durante a faculdade surgem muitas dúvidas sobre qual especialidade seguir, é muito difícil continuar com a primeira escolha, existem mudanças ao longo do curso. Ao optar por clínica médica também aparecem dúvidas em relação à escolha de uma ou outra especialidade.”  

O dia a dia da Cardiologia também não é simples, pois a carga horária é especialmente intensa e com muitos plantões. Como ressalta Dra. Abud, “é uma especialidade com formação bastante puxada, muitas horas de trabalho durante o dia, com rodízios mais pesados, como na emergência, unidade coronária, unidade de terapia intensiva, tanto de pacientes clínicos quanto em pós-operatório, além de muitos plantões noturnos.” 

Vencida a pressão pela escolha da especialidade, o jovem médico encara outros desafios da vida real, como a infraestrutura do Sistema de Saúde. Dr. Ronaldo Gismondi observa que as inúmeras crises enfrentadas pelo SUS ao longo dos anos, com leitos fechados, falta de exames, redução de cirurgias, falta de tecnologia e até de insumos hospitalares, forçam a maioria dos residentes a complementar a sua formação em uma unidade privada, seja pela emergência “porta aberta”, seja pela disponibilidade de tecnologia de ponta. 

 Leia mais: Calendário de Residência médica 2024/2025

Por que a Cardiologia? 

Entre as 55 especialidades reconhecidas legalmente na Medicina, a escolha pela Cardiologia é motivada pelo desafio clínico que oferece. 

É uma área-chave que se relaciona aos demais sistemas do corpo. O médico precisa conhecer bem todas as áreas, conforme relata Dra. Sarah, “amava os casos desafiadores que exigiam mais raciocínio clínico e a agitação da sala de emergência. E quando se trata de emergência, tudo acaba na Cardiologia, que tem uma vasta relação fisiopatológica com todos os sistemas, além do envolvimento com síndromes genéticas e malformações congênitas”.  

Dra Isabela Abud complementa: “A Cardiologia é uma especialidade que acaba vendo um pouco de cada área, como endócrino, nefro, neuro; vê pacientes mais idosos, pacientes jovens que não tem doença estabelecida, mas querem realizar um seguimento clínico com orientações de atividade física e estilo de vida mais saudável, por exemplo.” E, assim, muitos cardiologistas atuam como clínicos dos seus pacientes. 

Para Dr. Ronaldo, a Cardiologia se destacou por sua abordagem “objetiva, organizada, cheia de diretrizes, fluxogramas e medicina baseada em evidência”, o que foi essencial para a sua definição na especialidade há 20 anos. Acrescenta que na residência de clínica médica, sentia-se atraído pela terapia intensiva e pacientes hospitalizados, graves – choque, ventilação mecânica e insuficiência renal. Entretanto, a fisiopatologia cardiovascular vinha cada vez mais chamando a sua atenção.  

Pensando no mercado de trabalho, é uma área que permite ao médico seguir com terapia intensiva e ter um consultório, além da possibilidade de realizar exames complementares, como ecocardiograma, tomografia e ressonância, holter, MAPA, teste de esforço e ergoespirométrico 

Casos marcantes 

Ao longo da carreira médica, o profissional se depara com vários casos marcantes. Dr. Ronaldo destaca que “é difícil escolher uma situação apenas. A primeira intubação, o primeiro Swan-Ganz, o primeiro atestado de óbito, entre outros são de grande relevância para o médico”.  

Relata, porém, como maior desafio ter que lidar com um familiar doente, separando o profissional do pessoal e ilustra o fato com sua vivência pessoal com o pai internado por fibrilação atrial, dizendo que “de certa forma, os papéis de filho e de médico se confundiram, afinal ele internou no hospital onde eu era rotina”.  

Seu conselho aos médicos jovens é que escolham um hospital de confiança, pela estrutura e equipe, e tragam o médico que mais confiam, no sentido técnico e pessoal, para assumir as decisões. Dessa forma, é possível se manter apenas como suporte emocional. 

Dra. Isabela compartilha a experiência de um paciente grave que, aguardando seu transplante cardíaco há alguns meses no hospital, realizou seu casamento na unidade de terapia intensiva. Conforme relata, “esses casos acabam marcando não só pela gravidade e tratamento mais complexo, como também pelo acompanhamento mais próximo e prolongado do paciente, que nos possibilita conhecer toda sua história de vida”. 

 Leia também: Série IA na Medicina

Conselhos para jovens cardiologistas 

 Aos jovens cardiologistas, Dr. Ronaldo sugere duas abordagens para encontrar o seu espaço em grandes cidades: 

(1) atuando nas subespecialidades, criando um nicho de patologias complexas nas quais você tenha grande vivência prática; um ambulatório num grande centro universitário, um fellow ou um doutorado são caminhos para chegar nesse objetivo; 

(2) cuidando do paciente no sentido global 

Dr. Gismondi afirma que “a realidade hoje é que com menos tempo e menos rendimento, muitos médicos aceleram as consultas e as pessoas estão necessitadas de atenção e do verdadeiro médico, aquele que você sonhava quando começou a faculdade”. Uma consulta completa, avaliando o indivíduo não só pela doença, mas por seus valores e preferências, alcança maior nível de satisfação e eficácia. 

Dra. Sarah aconselha que os novos cardiologistas estudem e dominem tanto o técnico, quanto a capacidade de vivenciar o sofrimento humano com empatia e acolhimento sem perder a saúde mental.  

Essa abordagem equilibrada entre competência técnica e sensibilidade humana é essencial para enfrentar os desafios diários da Cardiologia e proporcionar um cuidado de qualidade para os pacientes. 

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