ESC 2021: ressincronização cardíaca seguida de ablação do nó AV em pacientes com FA sintomática é uma boa opção?
O estudo APAF-CRT, apresentado ESC 2021, demonstrou que associar um dispositivo ressincronizador poderia ajudar no controle de sintomas de FA.
Sabemos que pacientes com fibrilação atrial (FA) permanente muito sintomáticos tem indicação de ablação do nó AV associada a implante de marca-passo como alternativa para controle dos sintomas e melhora da qualidade de vida. No entanto, essa estratégia falhou em demonstrar aumento da sobrevida desses pacientes. Um dos motivos seria a estimulação ventricular direita exclusiva, que levaria a uma dissincronia cardíaca deletéria a longo prazo, sobretudo em pacientes com QRS estreito antes das intervenções.
Um estudo chamado APAF-CRT, liderado por um grupo italiano, publicado no European Heart Journal e apresentado no congresso da European Society of Cardiology (ESC 2021), demonstrou agora que associar um dispositivo ressincronizador (com estimulação biventricular) poderia melhorar esses resultados.
Ressincronização cardíaca
O estudo multicêntrico, aberto, prospectivo, começou em 2014 e randomizou 140 pacientes com idade média de 72 anos, fração de ejeção média de 41%, todos com QRS < 110ms e pelo menos uma internação prévia por FA ou insuficiência cardíaca (IC). O braço intervenção programava uma ablação do nó AV com implante de ressincronizador e o braço controle recebia tratamento clínico otimizado e controle de frequência cardíaca. O desfecho primário era morte por qualquer causa e o secundário era morte por qualquer causa ou hospitalização por IC.
Apesar de uma amostra não tão grande e o tratamento clínico otimizado ter melhorado com as novas opções de tratamento clínico nos últimos anos, os resultados foram animadores: houve sim redução de mortalidade entre os grupos, com significância estatística, favorecendo o grupo intervenção (HR 0.26, 95% CI 0.10–0.65; P = 0.004). E isso se manteve quase inalterado ao cabo de um seguimento de 4 anos.
Conclusões
Então, agora sabemos que mesmo em FA, a ressincronização pode ser uma alternativa para controle de sintomas desses pacientes, aumentando não só a qualidade de vida, como também a sobrevida a longo prazo. Mas, devemos aguardar novos estudos para revisar essa estratégia promissora.
Estamos realizando a cobertura do congresso. Fique ligado no Portal PEBMED!
Veja mais do ESC 2021:
- ESC 2021: angioplastia ou endarterectomia em pacientes com estenose carotídea assintomática?
- ESC 2021: sintomas são importantes na decisão de controle de ritmo de pacientes com FA?
- ESC 2021: finerenona reduz eventos cardiovasculares em pacientes renais crônicos diabéticos tipo 2
- ESC 2021: é possível encurtarmos ainda mais o tempo de uso de DAPT após implante de stent farmacológico?
- ESC 2021: confira as novidades da nova diretriz de valvopatias
- ESC 2021: edoxabana versus varfarina pós-TAVI em pacientes com FA
- ESC 2021: guideline de insuficiência cardíaca – veja os principais pontos sobre tratamento
- ESC 2021: monitorização da pressão de artéria pulmonar no tratamento da insuficiência cardíaca
- ESC 2021: novo paradigma no tratamento da ICFEP – resultados do EMPEROR-Preserved
Referência bibliográfica:
- Brignole M, et al. for the APAF-CRT Trial Investigators. AV junction ablation and cardiac resynchronization for patients with permanent atrial fibrillation and narrow QRS: the APAF-CRT mortality trial, European Heart Journal, 2021;, ehab569, https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehab569
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.