A prevalência de insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) tem aumentado cada vez mais, acometendo metade dos pacientes com insuficiência cardíaca (IC). Essa doença leva a altas taxas de internação, prejuízo da qualidade de vida e maior mortalidade.
Tem-se visto que há coexistência de ICFEP e disfunção hepática, com fatores de risco que são comuns às duas situações. A disfunção hepática pode piorar tanto sintomas da IC quanto o prognóstico e a congestão hepática decorrente da IC pode piorar ainda mais a disfunção hepática, o que leva a um ciclo que exacerba ambas as condições.
A função hepática pode ser avaliada por marcadores como albumina, bilirrubinas, AST, ALT, GGT e FA. Albumina baixa tem sido associada a pior prognóstico na ICFEP e os marcadores podem ser utilizados para diagnosticar e monitorizar as condições hepáticas, com objetivo final de melhorar o desfecho do paciente.
Alguns estudos avaliaram marcadores hepáticos em pacientes com ICFEP e encontraram piores desfechos, com maior mortalidade e internações. Recentemente foi publicada uma revisão sistemática e metanálise sobre o assunto.
Métodos do estudo e população envolvida
Foram incluídos estudos que avaliaram adultos com ICFEP que tinham exames de abumina, AST, ALT, FA e bilirrubinas. O desfecho era composto por morte, internação por IC ou evento cardíaco adverso maior (MACE).
Resultados
Foram incluídos na análise final 20 estudos publicados entre 2014 e 2024. Eram estudos prospectivos e retrospectivos que avaliaram 30.623 pacientes. Em 14 estudos a fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) foi definida como ≥ 50%, em 3 como ≥ 45% e em 3 como ≥ 40%.
No geral, a qualidade dos estudos foi considerada boa, com baixo risco de viés em relação a participação, desfecho e análise estatística.
Albumina foi avaliada em 16 estudos, com associação significativa entre níveis maiores e redução de desfecho primário (HR 0,71; IC95% 0,61-0,83), porém com heterogeneidade significativa entre os estudos. Removendo os estudos “outlier”, o poder estatístico foi ainda maior (HR 0,75; IC95% 0,69-0,82) e com redução significativa da heterogeneidade.
Cinco estudos avaliaram AST, cinco estudos avaliaram ALT, três estudos avaliaram FA e cinco estudos avaliaram bilirrubina em relação ao desfecho primário. Nenhum desses teve associação com o desfecho primário.
Comentários e conclusão: ICFEP e biomarcadores hepáticos
Este estudo procurou avaliar o significado prognóstico dos marcadores de função hepática em relação a morbimortalidade do paciente com ICFEP. Os resultados mostraram que maior nível de albumina é protetor em relação aos desfechos de mortalidade, internação e MACE. Assim, albumina pode ter papel prognóstico de valor nos pacientes com ICFEP. Ao contrário, não houve relação dos desfechos com outros marcadores de função hepática.
Algumas limitações são o pequeno número de estudos, o que limita conclusões mais robustas e análise de subgrupos. Além disso, a heterogeneidade foi grande entre os resultados dos estudos avaliados, o que também reduz a confiabilidade e generalização dos achados. Ainda, apenas alguns estudos relatam a doença hepática de base e sua gravidade.
Mais estudos, maiores e mais bem desenhados, são necessários para confirmar o papel prognóstico dos marcadores hepáticos e definir se mudanças ao longo do tempo tem papel na melhor dos desfechos.
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