O uso da fentanila por via intratecal, tem se consolidado como uma estratégia eficaz para analgesia intra e pós-operatória, particularmente em procedimentos obstétricos, ortopédicos e cirúrgicos de médio a grande porte. A administração intratecal, quando comparada a via parenteral, permite um início de ação mais rápido, com uma necessidade de doses menores e com redução dos efeitos adversos sistêmicos.
Atualmente o laboratório Cristália, lançou uma nota em relação a medicação Fentanest, sobre uma nova resolução da Anvisa, retirando a indicação do seu uso intratecal da bula do medicamento, permitindo apenas o uso intravenoso, epidural e intramuscular, mesmo sendo amplamente utilizado a décadas e com robustas revisões sistemáticas e evidências científicas sólidas e sem nenhuma evidência atual negativa.
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Mecanismo de ação
A fentanila atua primariamente sobre os receptores μ-opioides localizados na substância gelatinosa da medula espinhal (lâmina II de Rexed), inibindo a transmissão sináptica de estímulos nociceptivos. Sua elevada lipossolubilidade favorece a rápida penetração nos tecidos neurais, resultando em um início de ação entre 10 a 20 minutos e uma duração média de 2 a 6 horas, o que vai depender da dose utilizada e das características individuais e condições clínicas de cada paciente.
Indicações e benefícios
A via intratecal é frequentemente utilizada em combinação com anestésicos locais como a bupivacaína, para proporcionar analgesia sinérgica, permitindo reduzir a dose de cada agente e, consequentemente, os riscos de toxicidade, principalmente em cirurgias de grande porte cuja analgesia peri e pós-operatória é fundamental para uma recuperação rápida e eficaz do paciente.
Na analgesia obstétrica, a fentanila intratecal é amplamente empregada para realização de cirurgias cesarianas e controle da dor no trabalho de parto, proporcionando um grande conforto materno com preservação da força muscular e menor impacto hemodinâmico.
Doses e posologia
As doses de fentanila por via intratecal variam de 10 a 30 µg, dependendo da indicação clínica, da associação com outros fármacos e da condição clínica do paciente. Doses superiores a 30 µg são raramente utilizadas devido ao aumento da incidência de efeitos adversos, como prurido, náuseas e depressão respiratória. A administração deve ser realizada por profissionais anestesistas habilitados e em ambiente cirúrgico e pós-operatório monitorado, devido a possibilidade de efeitos imediatos e tardios principalmente relacionados ao sistema respiratório, podendo causar depressão respiratória e parada cardíaca.
Efeitos adversos e riscos
Embora eficaz, o uso intratecal da fentanila não é isento de riscos. Os efeitos colaterais mais comuns incluem prurido, náuseas, vômitos e retenção urinária. A depressão respiratória, apesar de rara, é uma complicação grave e potencialmente fatal, especialmente em pacientes com comorbidades respiratórias ou uso concomitante de outros depressores do sistema nervoso central. É essencial monitorar os sinais vitais do paciente por pelo menos duas horas após a administração e o pós-operatório do paciente ser realizado em ambiente controlado por profissionais treinados a identificar precocemente sinais e sintomas de depressão respiratória. O paciente deve ser sempre mantido monitorizado com oximetria de pulso, e qualquer sinal de queda da saturação deve ser prontamente avaliado.
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Contraindicações
O uso de fentanila por via intratecal é contraindicado em pacientes com hipersensibilidade conhecida ao fármaco, infecção no local da punção, hipertensão intracraniana não tratada, distúrbios graves da coagulação ou sepse. Deve-se também ter cautela em pacientes com histórico de apneia do sono ou disfunções respiratórias.
Considerações finais
O uso da fentanila intratecal é uma ferramenta valiosa no arsenal anestésico, oferecendo analgesia de alta qualidade com doses reduzidas e perfil farmacocinético favorável. Seu uso seguro exige conhecimento técnico, individualização da dose, avaliação criteriosa das contraindicações e vigilância contínua do paciente. O uso da fentanila por via intratecal é amplamente estudado e possui respaldo científico robusto e diversas evidências sólidas de sua segurança e benefício.
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