Caso clínico: Distúrbio de ansiedade generalizada após cesariana
Paciente de 33 anos, gesta 2/2, com passado de cesariana de emergência por descolamento prematuro de placenta, onde foi realizado anestesia geral para realização do parto, encontra-se em tratamento psiquiátrico, fazendo uso de medicações antidepressivas e ansiolíticos por síndrome do pânico e transtorno de ansiedade generalizada, desde 3 semanas após a realização do parto.
Ao realizar revisão do prontuário médico, especificamente do relato cirúrgico e ficha de anestesia, encontramos o seguinte resumo: Há três meses, paciente a termo, deu entrada na emergência obstétrica com quadro de sangramento profundo vaginal e diagnóstico de descolamento prematuro de placenta. Paciente encontrava-se com taquicardia, com FC 147 bpm, hipocorada (2+/4), agitada, hipotensa com PA sistólica de 79 mmHg. Lúcida e orientada, sem nenhuma comorbidade preexistente ou passado de complicação obstétrica durante a gestação. Feto encontrava-se viável e supostamente estável.
Encaminhada rapidamente ao centro cirúrgico para realização de cesariana, onde a equipe anestésica optou por realizar anestesia geral, uma vez que a paciente se encontrava em instabilidade hemodinâmica. Realizada sequência de intubação rápida, com etomidato, fentanila e succinilcolina. Intubação realizada com sucesso na primeira tentativa e paciente liberada para o cirurgião depois da realização do Etomidato e perda de reflexos oculares. Manutenção da anestesia realizada com agentes inalatórios, mantendo uma CAM em torno de 6. Realizado bloqueador neuromuscular após o nascimento do bebê e mais nenhuma droga anestésica. Paciente mantinha-se com taquicardia, com uma FC de 113-1120 bpm e PA Máxima oscilando entre 85 e 90 mmHg.
Procedimento realizado sem complicações, feto retirado em aproximadamente 10 minutos, com Apgar 9/10. Realizada hemotransfusão materna, com dois concentrados de hemácias, uma vez que os exames laboratoriais evidenciaram Hb de 6 g/dL e não houve resposta hemodinâmica significativa mesmo após a reposição com coloides e cristaloides.
Paciente extubada no centro cirúrgico, sem intercorrências, e encaminhada a unidade de terapia intensiva para observação. Apresentava estado emocional bastante abalado, instável, com crises de choro esporádicas.
Após 4 dias de internação, paciente teve alta domiciliar juntamente com o bebê e na primeira consulta de puerpério relatava dificuldade de dormir, com quadro de insônia, muitos pesadelos relacionados ao parto e constante sensação de morte iminente. Encaminhada ao serviço de psicologia para melhor avaliação.
Caso clínico: Convulsão ao despertar
Imagem de DC Studio/FreepikHipótese diagnóstica
Paciente feminina, jovem, submetida a um procedimento obstétrico de emergência sob anestesia geral, que desenvolve após alta hospitalar quadro de alteração mental com distúrbio de ansiedade generalizada e comportamento antissocial devemos pensar em despertar intraoperatório.
O despertar intraoperatório, ou consciência intraoperatória, ou recall, é uma complicação rara, inerente a cirurgias com anestesia geral, onde por motivos diferentes, a sedação é realizada de forma insuficiente e superficial e o paciente apresenta despertares durante o procedimento cirúrgico.
Na maioria dos casos, ocorre em situações de emergência, com paciente hemodinamicamente instável e as drogas anestésicas são administradas em baixa dosagem a fim de manter o paciente o mais estável possível, porém em alguns casos, as doses não são suficientes para promover um estado de inconsciência, porém, as outras drogas utilizadas como opioides para analgesia e bloqueadores neuromusculares impedem que o paciente sinta dor ou se mexa, dificultando o entendimento por parte da equipe anestésica que o paciente encontra-se desperto.
O despertar intraoperatório pode promover lembranças diferenciadas, como memórias ativas e conscientes, quando o paciente relata que acordou e descreve em detalhes situações que ocorreram durante o procedimento, assim como memória procedural, onde o paciente não consegue recordar ativamente de ter acordado, porém passa a apresentar alterações de comportamento no pós-operatório.
Independentemente do tipo de recall, todos acabam gerando algum tipo de trauma pós-operatório, pois o momento do despertar é bastante desgastante e traumático, uma vez que o paciente não consegue se movimentar ou avisar a sua situação.
Para evitar esse tipo de complicação, deve-se sempre realizar em pacientes de risco, benzodiazepínicos no pré-operatório, em doses baixas, a fim de proporcionar amnésia retrograda ao paciente, e caso ele desperte durante o procedimento, não haverá consciência do fato.
Caso clínico: Como abordar paciente com queixa de cefaleia e prolactina alta?
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