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Ginecologia e Obstetrícia27 agosto 2024

Caso clínico: Distúrbio de ansiedade generalizada após cesariana  

Paciente relata sentir muito afeto pelo bebê, prestar todos os cuidados com dedicação, porém não consegue mais se relacionar socialmente.  

Paciente de 33 anos, gesta 2/2, com passado de cesariana de emergência por descolamento prematuro de placenta, onde foi realizado anestesia geral para realização do parto, encontra-se em tratamento psiquiátrico, fazendo uso de medicações antidepressivas e ansiolíticos por síndrome do pânico e transtorno de ansiedade generalizada, desde 3 semanas após a realização do parto.

Ao realizar revisão do prontuário médico, especificamente do relato cirúrgico e ficha de anestesia, encontramos o seguinte resumo: Há três meses, paciente a termo, deu entrada na emergência obstétrica com quadro de sangramento profundo vaginal e diagnóstico de descolamento prematuro de placenta. Paciente encontrava-se com taquicardia, com FC 147 bpm, hipocorada (2+/4), agitada, hipotensa com PA sistólica de 79 mmHg. Lúcida e orientada, sem nenhuma comorbidade preexistente ou passado de complicação obstétrica durante a gestação. Feto encontrava-se viável e supostamente estável.  

Encaminhada rapidamente ao centro cirúrgico para realização de cesariana, onde a equipe anestésica optou por realizar anestesia geral, uma vez que a paciente se encontrava em instabilidade hemodinâmica. Realizada sequência de intubação rápida, com etomidato, fentanila e succinilcolina. Intubação realizada com sucesso na primeira tentativa e paciente liberada para o cirurgião depois da realização do Etomidato e perda de reflexos oculares. Manutenção da anestesia realizada com agentes inalatórios, mantendo uma CAM em torno de 6. Realizado bloqueador neuromuscular após o nascimento do bebê e mais nenhuma droga anestésica. Paciente mantinha-se com taquicardia, com uma FC de 113-1120 bpm e PA Máxima oscilando entre 85 e 90 mmHg.  

Procedimento realizado sem complicações, feto retirado em aproximadamente 10 minutos, com Apgar 9/10. Realizada hemotransfusão materna, com dois concentrados de hemácias, uma vez que os exames laboratoriais evidenciaram Hb de 6 g/dL e não houve resposta hemodinâmica significativa mesmo após a reposição com coloides e cristaloides.   

Paciente extubada no centro cirúrgico, sem intercorrências, e encaminhada a unidade de terapia intensiva para observação. Apresentava estado emocional bastante abalado, instável, com crises de choro esporádicas.   

Após 4 dias de internação, paciente teve alta domiciliar juntamente com o bebê e na primeira consulta de puerpério relatava dificuldade de dormir, com quadro de insônia, muitos pesadelos relacionados ao parto e constante sensação de morte iminente. Encaminhada ao serviço de psicologia para melhor avaliação.  

Caso clínico: Convulsão ao despertar

Caso clínico: Distúrbio de ansiedade generalizada após cesariana  

Imagem de DC Studio/Freepik

Hipótese diagnóstica 

Paciente feminina, jovem, submetida a um procedimento obstétrico de emergência sob anestesia geral, que desenvolve após alta hospitalar quadro de alteração mental com distúrbio de ansiedade generalizada e comportamento antissocial devemos pensar em despertar intraoperatório.  

O despertar intraoperatório, ou consciência intraoperatória, ou recall, é uma complicação rara, inerente a cirurgias com anestesia geral, onde por motivos diferentes, a sedação é realizada de forma insuficiente e superficial e o paciente apresenta despertares durante o procedimento cirúrgico.  

Na maioria dos casos, ocorre em situações de emergência, com paciente hemodinamicamente  instável e as drogas anestésicas são administradas em  baixa dosagem a fim de manter o paciente o mais estável possível, porém em alguns casos, as doses não são suficientes para promover um estado de inconsciência, porém, as outras drogas utilizadas como opioides para analgesia e bloqueadores neuromusculares impedem que o paciente sinta dor ou se mexa, dificultando o entendimento por parte da equipe anestésica que o paciente encontra-se desperto.  

O despertar intraoperatório pode promover lembranças diferenciadas, como memórias ativas e conscientes, quando o paciente relata que acordou e descreve em detalhes situações que ocorreram durante o procedimento, assim como memória procedural, onde o paciente não consegue recordar ativamente de ter acordado, porém passa a apresentar alterações de comportamento no pós-operatório.  

Independentemente do tipo de recall, todos acabam gerando algum tipo de trauma pós-operatório, pois o momento do despertar é bastante desgastante e traumático, uma vez que o paciente não consegue se movimentar ou avisar a sua situação.  

Para evitar esse tipo de complicação, deve-se sempre realizar em pacientes de risco, benzodiazepínicos no pré-operatório, em doses baixas, a fim de proporcionar amnésia retrograda ao paciente, e caso ele desperte durante o procedimento, não haverá consciência do fato.  

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