Paciente 34 anos, sexo masculino, deu entrada em caráter de emergência, no centro cirúrgico com história de dor lombar com irradiação para membro inferior e fadiga há aproximadamente dez dias. Relata ter procurado atendimento médico anterior que foi receitado dipirona e anti-inflamatório não esteroidal, porém sem melhora do quadro, evoluindo com febre vespertina. Negava asma, bronquite, pressão alta, diabetes, alergia a remédios e qualquer outra comorbidade. Relatava uso de opioide de forma crônica, algumas vezes de forma injetável, após ter ficado internado por um longo período devido a um atropelamento onde foi submetido a cirurgia de laparotomia exploradora com esplenectomia e tratamento cirúrgico de fratura exposta de tíbia esquerda.
Ao exame físico apresentava-se em razoável estado geral, com face de dor, com dificuldade de deambulação, lúcido e orientado no tempo e espaço, hipocorado (++/4), desidratado (+/4), febril (38,2o °C), acianótico, anictérico com enchimento capilar satisfatório. Sinais vitais com PA 148 X 78 mmHg, FC 108 bpm, FR 10 irpm, SPO2 98%. Aparelho cardiovascular e pulmonar sem alterações. Exame neurológico evidenciando parestesia em pé e região tibial esquerda e diminuição de força em ambos os membros inferiores.
Solicitados exames laboratoriais que mostraram anemia microcítica hipocrômica e leucocitose e VHS aumentado. Encaminhado a ressonância magnética onde foi evidenciado a presença de lesão hipointensa em L3-L5 com edema de partes moles e discreta compressão medular.
Hipótese diagnóstica
Pacientes que fazem uso de opioides por via endovenosa podem desenvolver algumas complicações como abcesso espinhal epidural. Devido as punções venosas múltiplas, sem a devida assepsia e com o uso de material contaminado, as bactérias, principalmente S. aureus podem acabar se espalhando por via hematogênica e se depositando na região medular, formando abcessos que acabam comprimindo a região e causando efeito de massa. Caso não seja prontamente tratado, pode evoluir para fraqueza muscular, diminuição da sensibilidade, disfunções vesicais e intestinais, sepse e óbito.
Menos de 20% dos pacientes que apresentam abcesso lombar desenvolvem a clássica tríade: dor lombar, febre e déficit neurológico, tornando o diagnóstico precoce mais difícil.
Os sintomas iniciais são dor localizada na coluna, podendo ser em qualquer local, uma vez que o abcesso pode ser instalado em toda a extensão medular, febre com ou sem calafrios, queda do estado geral e fadiga.
Em relação a parte neurológica, ocorre uma progressão leve dos sintomas começando com quadro de rigidez e espasmos musculares, dor radicular podendo ser irradiada e parestesias, evoluindo para diminuição de força e de reflexos com alterações da sensibilidade tátil e térmica. Na fase mais grave pode evoluir com paralisia, alterações vesicais e intestinais e síndrome da compressão medular.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é feito principalmente com exame de imagem e hemocultura.
O tratamento pode ser realizado com antibióticos específicos após realização e hemocultura e dependendo do quadro clínico e do déficit neurológico e extensão da lesão, o tratamento cirúrgico com descompressão medular é o mais indicado.
O paciente em questão foi submetido a drenagem cirúrgica do abcesso da região lombar e realizado antibioticoterapia evoluindo com melhora do quadro e tendo alta após 15 dias de internação e encaminhado a acompanhamento psicológico para tratamento de sua adição.
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