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Anestesiologia21 fevereiro 2025

Caso clínico: dor lombar e uso de opioide 

Paciente apresentando dor lombar e relatando uso de opioide de forma crônica após procedimentos cirúrgicos
Por Gabriela Queiroz

Paciente 34 anos, sexo masculino, deu entrada em caráter de emergência, no centro cirúrgico com história de dor lombar com irradiação para membro inferior e fadiga há aproximadamente dez dias. Relata ter procurado atendimento médico anterior que foi receitado dipirona e anti-inflamatório não esteroidal, porém sem melhora do quadro, evoluindo com febre vespertina. Negava asma, bronquite, pressão alta, diabetes, alergia a remédios e qualquer outra comorbidade. Relatava uso de opioide de forma crônica, algumas vezes de forma injetável, após ter ficado internado por um longo período devido a um atropelamento onde foi submetido a cirurgia de laparotomia exploradora com esplenectomia e tratamento cirúrgico de fratura exposta de tíbia esquerda. 

Ao exame físico apresentava-se em razoável estado geral, com face de dor, com dificuldade de deambulação, lúcido e orientado no tempo e espaço, hipocorado (++/4), desidratado (+/4), febril (38,2o °C), acianótico, anictérico com enchimento capilar satisfatório. Sinais vitais com PA 148 X 78 mmHg, FC 108 bpm, FR 10 irpm, SPO2 98%. Aparelho cardiovascular e pulmonar sem alterações. Exame neurológico evidenciando parestesia em pé e região tibial esquerda e diminuição de força em ambos os membros inferiores. 

Solicitados exames laboratoriais que mostraram anemia microcítica hipocrômica e leucocitose e VHS aumentado. Encaminhado a ressonância magnética onde foi evidenciado a presença de lesão hipointensa em L3-L5 com edema de partes moles e discreta compressão medular. 

Hipótese diagnóstica 

Pacientes que fazem uso de opioides por via endovenosa podem desenvolver algumas complicações como abcesso espinhal epidural. Devido as punções venosas múltiplas, sem a devida assepsia e com o uso de material contaminado, as bactérias, principalmente S. aureus podem acabar se espalhando por via hematogênica e se depositando na região medular, formando abcessos que acabam comprimindo a região e causando efeito de massa. Caso não seja prontamente tratado, pode evoluir para fraqueza muscular, diminuição da sensibilidade, disfunções vesicais e intestinais, sepse e óbito. 

Menos de 20% dos pacientes que apresentam abcesso lombar desenvolvem a clássica tríade: dor lombar, febre e déficit neurológico, tornando o diagnóstico precoce mais difícil. 

Os sintomas iniciais são dor localizada na coluna, podendo ser em qualquer local, uma vez que o abcesso pode ser instalado em toda a extensão medular, febre com ou sem calafrios, queda do estado geral e fadiga. 

Em relação a parte neurológica, ocorre uma progressão leve dos sintomas começando com quadro de rigidez e espasmos musculares, dor radicular podendo ser irradiada e parestesias, evoluindo para diminuição de força e de reflexos com alterações da sensibilidade tátil e térmica. Na fase mais grave pode evoluir com paralisia, alterações vesicais e intestinais e síndrome da compressão medular. 

Diagnóstico e tratamento 

O diagnóstico é feito principalmente com exame de imagem e hemocultura. 

O tratamento pode ser realizado com antibióticos específicos após realização e hemocultura e dependendo do quadro clínico e do déficit neurológico e extensão da lesão, o tratamento cirúrgico com descompressão medular é o mais indicado. 

O paciente em questão foi submetido a drenagem cirúrgica do abcesso da região lombar e realizado antibioticoterapia evoluindo com melhora do quadro e tendo alta após 15 dias de internação e encaminhado a acompanhamento psicológico para tratamento de sua adição. 

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