Apesar dos riscos, opioides continuam sendo amplamente utilizados para controle de dor. Além dos efeitos no sistema nervoso central, podem causar alterações nos sistemas imune, respiratório, gastrointestinal e cardiovascular. Os efeitos no sistema cardiovascular são diversos e o papel das arritmias desencadeadas pela medicação tem sido cada vez mais reconhecido como tendo influência em mortalidade. Foi feita então uma revisão sistemática e metanálise com objetivo de quantificar o risco de arritmias ventriculares em pacientes sem câncer em uso de opioides.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi feita busca nas principais bases de dados (Cochrane, MEDLINE e CINAHL) até julho de 2022 com as palavras arritmia ventricular, parada cardíaca (PCR) ou morte súbita cardíaca (MSC) e opioides. Os estudos poderiam ser observacionais ou ensaios clínicos controlados e randomizados (ECCR).
O opioide em uso poderia ser qualquer um comercializado e de uso sozinho ou combinado, independente da via de administração. Os pacientes não poderiam ter câncer, pois o câncer e seu tratamento têm associação com efeitos cardiovasculares adversos.
O desfecho primário foi arritmia ventricular, que incluiu taquicardia ventricular (TV) fibrilação ventricular (FV), extrassístoles ventriculares (ESV), prolongamento do intervalo QT, PCR e MSC.
Resultados
Foram incluídos 15 estudos, sendo 14 com avaliação de metadona e 1 de nalmefeno. Do total, 12 foram observacionais, 1 foi ECCR e 2 foram análises post-hoc de ECCR. A maioria (60%) foi nos Estados Unidos e avaliou o uso de opioide como terapia de manutenção e teve prolongamento de QT como desfecho de interesse.
Em relação aos estudos com metadona, os grupos para comparação foram buprenorfina, morfina, analgésico não opioide e levacetilmetadol (LAAM). Alguns estudos compararam o eletrocardiograma (ECG) antes e depois do início dos opioides e um deles encontrou aumento do intervalo QT após 3 meses do uso da metadona (425,6 x 434,6 ms), enquanto os outros encontraram resultados diferentes.
O risco de viés foi considerado moderado para 3 estudos, importante para 3 e crítico para 6 dentre os observacionais e também houve algum risco de viés para os ECCR. Já o grau de certeza de evidência foi considerado baixo para os estudos randomizados e muito baixo para os observacionais.
A análise dos dados mostrou que o uso de metadona foi associado a risco 2,39 vezes maior de arritmia ventricular comparado a buprenorfina, placebo, morfina ou LAAM (IC95% 1,31-4,35) e esse risco foi maior quando doses maiores foram utilizadas. A indicação do uso do opioide foi a principal causa de heterogeneidade entre os estudos.
Comentários e conclusão: opioides e arritmias
Este estudo mostrou que os estudos incluídos na análise tinham evidência modesta e praticamente todos avaliaram metadona. Essa medicação foi associada a risco aumentado de arritmia ventricular, tanto na análise dos estudos observacionais quanto ECCR.
Porém, esse resultado deve ser interpretado com cautela, pela baixa qualidade da evidência disponível e alto risco de viés, além de grande heterogeneidade entre os estudos. Assim, mais estudos são necessários para esclarecer sobre a segurança do uso de opioides do ponto de vista cardiovascular.
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