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Cardiologia16 setembro 2024

Opioides podem causar arritmias?  

Estudo recente procurou entender melhor a associação entre o uso de opioides e o risco de arritimias ventriculares

Apesar dos riscos, opioides continuam sendo amplamente utilizados para controle de dor. Além dos efeitos no sistema nervoso central, podem causar alterações nos sistemas imune, respiratório, gastrointestinal e cardiovascular. Os efeitos no sistema cardiovascular são diversos e o papel das arritmias desencadeadas pela medicação tem sido cada vez mais reconhecido como tendo influência em mortalidade. Foi feita então uma revisão sistemática e metanálise com objetivo de quantificar o risco de arritmias ventriculares em pacientes sem câncer em uso de opioides. 

Opioides podem causar arritmias?  

Imagem de freepik

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi feita busca nas principais bases de dados (Cochrane, MEDLINE e CINAHL) até julho de 2022 com as palavras arritmia ventricular, parada cardíaca (PCR) ou morte súbita cardíaca (MSC) e opioides. Os estudos poderiam ser observacionais ou ensaios clínicos controlados e randomizados (ECCR). 

O opioide em uso poderia ser qualquer um comercializado e de uso sozinho ou combinado, independente da via de administração. Os pacientes não poderiam ter câncer, pois o câncer e seu tratamento têm associação com efeitos cardiovasculares adversos. 

O desfecho primário foi arritmia ventricular, que incluiu taquicardia ventricular (TV) fibrilação ventricular (FV), extrassístoles ventriculares (ESV), prolongamento do intervalo QT, PCR e MSC. 

Resultados 

Foram incluídos 15 estudos, sendo 14 com avaliação de metadona e 1 de nalmefeno. Do total, 12 foram observacionais, 1 foi ECCR e 2 foram análises post-hoc de ECCR. A maioria (60%) foi nos Estados Unidos e avaliou o uso de opioide como terapia de manutenção e teve prolongamento de QT como desfecho de interesse. 

Em relação aos estudos com metadona, os grupos para comparação foram buprenorfina, morfina, analgésico não opioide e levacetilmetadol (LAAM). Alguns estudos compararam o eletrocardiograma (ECG) antes e depois do início dos opioides e um deles encontrou aumento do intervalo QT após 3 meses do uso da metadona (425,6 x 434,6 ms), enquanto os outros encontraram resultados diferentes. 

O risco de viés foi considerado moderado para 3 estudos, importante para 3 e crítico para 6 dentre os observacionais e também houve algum risco de viés para os ECCR. Já o grau de certeza de evidência foi considerado baixo para os estudos randomizados e muito baixo para os observacionais. 

A análise dos dados mostrou que o uso de metadona foi associado a risco 2,39 vezes maior de arritmia ventricular comparado a buprenorfina, placebo, morfina ou LAAM (IC95% 1,31-4,35) e esse risco foi maior quando doses maiores foram utilizadas. A indicação do uso do opioide foi a principal causa de heterogeneidade entre os estudos.  

Comentários e conclusão: opioides e arritmias

Este estudo mostrou que os estudos incluídos na análise tinham evidência modesta e praticamente todos avaliaram metadona. Essa medicação foi associada a risco aumentado de arritmia ventricular, tanto na análise dos estudos observacionais quanto ECCR.  

Porém, esse resultado deve ser interpretado com cautela, pela baixa qualidade da evidência disponível e alto risco de viés, além de grande heterogeneidade entre os estudos. Assim, mais estudos são necessários para esclarecer sobre a segurança do uso de opioides do ponto de vista cardiovascular.

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Referências bibliográficas

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