Logotipo Afya
Anúncio
Anestesiologia15 fevereiro 2024

Como realizar anestesia local em cirurgia plástica

A anestesia local é uma ferramenta capaz de amplificar e potencializar o leque de atuação do cirurgião plástico.

Cerca de 12 milhões de cirurgias plásticas são realizadas anualmente, sendo uma tendência a predileção por abordagens minimamente invasivas e com menos inconvenientes, como dor e limitação pós-operatória. Nesse contexto, a realização de procedimentos de pequeno e médio porte sob anestesia local, com possível associação de sedação, tem possibilitado conforto e manejo da dor de forma eficaz, além de vantagens como a não utilização de IOT, relaxantes musculares, gases e recuperação facilitada com redução de custos.   

Veja também: Associação entre níveis sanguíneos de cetamina e saturação de oxigênio

Revisarmos, a seguir, os princípios da anestesia local em cirurgia plástica.  

Médico preparando paciente de cirurgia plástica que recebeu anestesia local

Princípios da anestesia local  

Seleção do paciente 

Fatores inerentes ao paciente devem ser considerados como idade, condição física geral, comorbidades, histórico medicamentoso e personalidade ou preferências. Características do procedimento como complexidade e tempo cirúrgico também influenciam diretamente nessa escolha. Em pacientes limítrofes, com personalidade instável e temores anormais, assim como adolescentes ou naqueles com baixo nível cognitivo à anestesia local deve ser evitada.   

Seleção da sedação  

Sedação possibilita depressão da consciência, promovendo conforto e reduzindo ansiedade durante o procedimento. Pode ser realizada desde o nível leve, em que o paciente permanece acordado e contactuante, até o nível profundo, com perda parcial ou completa de reflexos protetores. Inicia-se com pré-medicação, que auxilia na redução da ansiedade e de secreções gástricas, podendo ser administrada na noite anterior. Benzodiazepínicos, como lorazepam, são opções viáveis.

A sedoanalgesia é realizada rotineiramente com midazolam (tempo de ação: 3 a 4 horas), diazepam (TA: 6 a 12 horas) ou propofol (hipnótico de efeito muito curto) associada ao fentanil (neurodepressor) ou cetamina (neuroestimulador com efeito dissociativo). Em cirurgias de curta duração, normalmente associa-se midazolam e fentanil, sendo importante, ao selecionar tais medicações, considerar particularidades como tempo de ação e potenciais efeitos adversos. 

Seleção do anestésico para anestesia local  

A ação dos anestésicos locais ocorre por bloqueio químico direto, por efeitos mecânicos como compressão e distensão neural, além de isquemia nervosa pelos vasoconstritores. Sua ação é influenciada pela concentração, uso de epinefrina, vascularização local e particularidades na inervação.  

A lidocaína é uma das mais utilizadas, sua duração é de, em média, 90 minutos, com dose máxima de 7g/kg (25 ml à 2% em um paciente de 70 kg). A bupivacaína é quatro vezes mais potente que a lidocaína, possui início de ação de 15 a 30 minutos e duração de 6 a 12 horas. Sua dose é 1,25 mg/kg (25 ml à 0,5% em uma pessoa de 70 kg). 

A vasoconstrição é obtida por meio da epinefrina, em concentração padrão de 1:1000, podendo ser diluída em 100, 500 ou 1000ml. Sua ação tem duração entre 1 e 6 horas, causando isquemia de nervos periféricos e bloqueio de condução.  

A adição de bicarbonato de sódio à solução possibilita mudança de pH (6,4 para 7,4), reduzindo estímulo álgico local.   

Em cirurgias estéticas, a fórmula de mottura é frequentemente utilizada, consistindo na combinação de 20 ml de lidocaína 2% (7mg​​/kg) + 20 ml de bupivacaína 0,5% (1,5 mg/kg) + 1 ml de epinefrina (1:1000) diluídas em 400-1000 ml de SF ou RL.   

Seleção da técnica 

A infiltração é iniciada na região menos dolorosa com infusão lenta na pele com agulha fina e posterior substituição por agulha longa (abbocath 16, por exemplo) ou cânula.  

Em ritidoplastias utiliza-se cerca de 150 ml no terço médio (75ml/lado) e 150 ml em pescoço, iniciando a infiltração no couro cabeludo e progredindo para fronte, borda orbital, bochechas e pescoço.   

Em mamoplastias redutoras utiliza-se entre 400 e 600 ml de solução a depender do tamanho mamário. O bloqueio inicia-se com 20 a 40 ml no sulco infra mamário, progredindo para infiltração em leque a partir do sulco nos pontos medial (bloqueio dos ramos anteriores dos intercostais), lateral (bloqueio do perfurante lateral) e retroglandular (bloqueio dos perfurantes anteriores). Na sequência as linhas de incisão são infiltradas com 20 a 60 ml, devendo-se evitar o uso de epinefrina abaixo da aréola.  

Em mamoplastias de aumento a abordagem é semelhante à redutora se o implante for subglandular. Se a abordagem for axilar o local de incisão deve ser infiltrado, seguido de bloqueio do 4°, 5° e 6° nervos intercostais.  

Em abdominoplastias utiliza-se cerca de 600 a 800 ml infiltrados profundamente sobre a fáscia. Já na lipoaspiração pode-se realizar infiltração tumescente com até 3 litros.   

Complicações da anestesia local

Reações alérgicas relacionadas à anestesia local são raras. As principais complicações estão associadas a doses excessivas dessas medicações. Os órgãos mais afetados são cérebro e coração, sendo o primeiro mais suscetível. Por isso os primeiros sintomas de toxicidade são neurológicos, como zumbido, vertigens, inconsciência e convulsões.

Sintomas de disfunção miocárdica são tardios. O diagnóstico e manejo precoce da intoxicação são fundamentais para um bom desfecho. Ofertar oxigenação em reservatório, máscara ou IOT, utilização de anticonvulsivantes se indicado (diazepam 10-20 mg ou tiopental 100 – 150 mg), manejo da hipotensão e ressuscitação cardiorespiratória em caso de parada são os princípios para suporte bem sucedido.   

Saiba mais: Cefaleia pós-punção lombar: como prevenir

Mensagem prática 

A anestesia local é uma ferramenta capaz de amplificar e potencializar o leque de atuação do cirurgião plástico, visto que possibilita realização de procedimentos de pequeno e médio porte com segurança e manejo satisfatório de dor. A seleção minuciosa dos pacientes aptos a essa abordagem, assim como a adequada seleção, diluição e infiltração dos anestésicos, além de capacidade de manejar adequadamente potenciais efeitos adversos constituem os pilares necessários para o uso dessa ferramenta.  

Anúncio

Assine nossa newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Ao assinar a newsletter, você está de acordo com a Política de Privacidade.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Referências bibliográficas

Compartilhar artigo