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Anestesiologia13 fevereiro 2024

Associação entre níveis sanguíneos de cetamina e saturação de oxigênio

Um estudo avaliou a associação entre níveis plasmáticos seriados de cetamina e a correlação com a saturação de oxigênio nesses momentos.
Por Gabriela Queiroz

A cetamina é um anestésico muito utilizado principalmente na população pediátrica submetida a sedação para procedimentos dolorosos de curta duração, levando a um estado de analgesia e anestesia de forma rápida e segura. A cetamina leva a um estado de dissociação com poucos efeitos cardiovasculares e risco bastante reduzido de depressão respiratória, não necessitando de ventilação mecânica.

Porém, apesar dessas características farmacodinâmicas, cerca de um terço dos pacientes pediátricos que utilizam cetamina apresentam queda da saturação de oxigênio de forma significativa. Entretanto, a relação entre dose, nível plasmático e saturação ainda é desconhecida. 

O estudo em questão visa avaliar a associação entre níveis plasmáticos seriados de cetamina e sua correlação direta com a saturação de oxigênio durante esses momentos.

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intravenosa

Método

Foram avaliados um total de 2022 crianças do sexo masculino e feminino, com idade média de 3,1 anos que receberam cetamina na dose de 1mg/Kg. Para cada dose administrada da droga foram coletados dados referentes a quantidade da droga, data, horário e tempo de infusão. Também foram coletados dados relativos a necessidade de suporte de oxigênio e valores de saturação de oxigênio até o período de 24 horas pós administração da primeira dose de cetamina. Saturação de oxigênio de 92% e 85% foram definidas como queda da saturação leve e queda da saturação grave respectivamente. 

Resultados

A média de valores encontrados após a primeira aferição plasmática foi de 290,3 ng/ml cerca de 0,08 h após a primeira administração de cetamina. Os valores plasmáticos mais altos de cetamina foram de aproximadamente 1489,8 ng/ml no período de 0,25 h após a primeira dose. Após 2,3 h as concentrações plasmáticas da droga foram medidas em 218,2 ng/ml e os níveis médios de cetamina sérica no total durante as 24 horas foi de 1800 ng h/ml. 

ECMO foi realizado em 1% dos pacientes (25 crianças) e o número de crianças que alcançaram uma concentração plasmática de 100 ng/ml, 750 ng/ml, 1000 ng/ml e 1500 ng/ml foram 1965 (97%), 1464 (72 %), 1287 (64 %) e 1010 (50 %) respectivamente.  

Em relação a saturação de oxigênio, a média geral aferida foi de 98%. Durante o momento da administração da cetamina, 225 (11 %) dos pacientes tiveram uma queda significativa da saturação, em torno de 85 %, sendo que apenas 8 % desses pacientes estavam sob algum suporte ventilatório. A média das menores aferições relacionadas a saturação de oxigênio foi de 93 %. 17% dos pacientes (339) tiveram pelo menos um episódio de queda de saturação de até 85%. 

Não foi demonstrado uma associação significativa entre queda de saturação e níveis plasmáticos de cetamina, mesmo quando os níveis plasmáticos se encontravam dentro de suas mais altas medições. 

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Conclusão

A complicação respiratória que ocorre com mais frequência em pacientes pediátricos após a administração de cetamina é a depressão respiratória com queda de saturação decorrente basicamente de eventos em região de vias aéreas superiores, fato que também foi relatado nesse estudo em 17% dos pacientes. 

O estudo em questão não mostrou relação direta entre níveis séricos de cetamina e queda da saturação, porém como os eventos de queda de saturação que ocorrem no início da administração da droga estejam mais relacionados a incapacidade de controlar as vias aéreas principalmente pelo aumento de secreções que acabam obstruindo a região, coincidiu com o momento de corte da primeira análise sérica dos níveis de cetamina e saturação de oxigênio. 

Outro fator que deve ser levado em consideração nesse estudo é que nenhum paciente alcançou níveis séricos superiores a 1500 ng/ml, o que talvez possa ter de alguma forma mitigado o resultado, porém o estudo obteve uma amostra significativa de pacientes comparado a vários outros estudos que trabalhavam com uma média de aproximadamente 50 crianças. 

Esse estudo também em questão abordou níveis séricos de cetamina suficientes para gerar uma excelente analgesia, porém não suficientes para promover uma anestesia satisfatória, fato esse que poderia explicar que grande parte da amostra apresentou fácil despertar o que tornou o procedimento mais seguro e confiável em relação a depressão respiratória, já que os pacientes permaneceram com um grau de sedação mais superficial. 

Apesar de todas as variáveis citadas, o estudo confirmou a ausência de relação direta entre níveis séricos de cetamina e depressão respiratória com queda de saturação em pacientes pediátricos submetidos a sedação com essa medicação, resultados que também coincidiram com outros estudos prévios, corroborando o fato da segurança do uso de cetamina como droga de escolha em determinados procedimentos em população pediátrica.

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Referências bibliográficas

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