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Terapia Intensiva6 junho 2023

Traqueobronquite e pneumonia associada à ventilação mecânica

A pneumonia não é uma doença preto e branco; há um continuum entre a colonização e a pneumonia que resulta da interação entre o hospedeiro.

Por Filipe Amado

As infecções hospitalares não apenas prolongam o tempo de internação hospitalar, mas também estão associadas a piores resultados a longo prazo quando comparadas às infecções adquiridas na comunidade. 

A traqueobronquite associada à ventilação (TAV) tem gerado muitas discussões e também tem sido considerada uma doença negligenciada. A TAV e a pneumonia associada à ventilação (PAV) mostraram microbiologia semelhante, e a proteína C-reativa e a procalcitonina apresentaram uma sobreposição marcante tanto na PAV quanto na TAV, não permitindo uma discriminação adequada.  

Leia mais: Tromboembolismo pulmonar (TEP) maciço na UTI

Nesse cenário, foi publicada na Intensive Care Medicine o artigo “Ventilator associated tracheobronchitis and pneumonia: one infection with two faces.” O professor Ignacio Martin-Loeches e outros experts no tema trouxeram uma revisão das principais evidências e discussão sobre definições relacionadas à TAV e PAV.  

A TAV pode representar um processo intermediário entre a colonização e a pneumonia, e as estratégias de prevenção da PAV também se aplicam à TAV. 

A pneumonia não é uma doença preto e branco; há um continuum entre a colonização e a pneumonia que resulta da interação entre o hospedeiro, as bactérias e a ventilação mecânica invasiva. 

É fácil entender que a pneumonia começa com uma via aérea colonizada e, quando as defesas locais são superadas, ocorre a consolidação pulmonar e a infecção do espaço alveolar. 

E sobre as definições? 

Uma opção é classificar ambos os conceitos (PAV e TAV) em uma única definição, como Infecções do Trato Respiratório Inferior associadas à Ventilação. Tal definição visa que a TAV e a PAV sejam vistas e, portanto, consideradas como uma entidade associada, permitindo que a discussão das definições seja deixada de lado para focar no manejo prático dos pacientes.

As duas entidades não serão tratadas com a mesma duração de terapia com antibióticos. No entanto, isso nos permitirá evitar atrasos desnecessários no diagnóstico e tratamento que afetarão negativamente o paciente. 

A diferença exclusiva entre TAV e PAV é que a TAV não envolve acometimento do parênquima pulmonar. A tomografia de tórax é o padrão-ouro, mas nem sempre os pacientes encontram condições de transporte. O ultrassom pulmonar tem sido estudado nesse cenário, sendo incorporado a algoritmos diagnósticos. No entanto, tal método ainda necessita validação.  

Antibioticoterapia 

A menor duração do uso de antibióticos tem sido amplamente considerada em pacientes com pneumonia adquirida na comunidade, demonstrando ser seguro e de fácil implementação. O uso potencial de regimes curtos seria ideal para a TAV e provavelmente seria apoiado pelo uso de biomarcadores para determinar a duração do tratamento e a eliminação favorável da infecção. Outra estratégia que poderia fornecer resultados positivos é o uso de antibióticos via nebulização. 

Veja também: Monitorização da Pressão Arterial Invasiva: além da Pressão Arterial Média (PAM)

Mensagens práticas 

  •  A TAV e a PAV têm o mesmo padrão inicial: um patógeno que coloniza as vias aéreas proximais e progride para as vias aéreas mais profundas (TAV) até que as defesas locais sejam sobrecarregadas e ocorra dano e infecção alveolar nesse nível (PAV).
  • Um curso de 7 a 10 dias de antibióticos tem sido implementado com sucesso no tratamento da PAV e cursos mais curtos e antibióticos nebulizados podem representar um tratamento para a TAV. 
  • A transição da TAV para a PAV é determinada pelas defesas locais do hospedeiro, e não tratar esse processo intermediário expõe o paciente a um risco aleatório.
  • A TAV é uma doença clínica e não um problema administrativo em um paciente grave. 
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Referências bibliográficas

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