Traqueobronquite e pneumonia associada à ventilação mecânica
A pneumonia não é uma doença preto e branco; há um continuum entre a colonização e a pneumonia que resulta da interação entre o hospedeiro.
As infecções hospitalares não apenas prolongam o tempo de internação hospitalar, mas também estão associadas a piores resultados a longo prazo quando comparadas às infecções adquiridas na comunidade.
A traqueobronquite associada à ventilação (TAV) tem gerado muitas discussões e também tem sido considerada uma doença negligenciada. A TAV e a pneumonia associada à ventilação (PAV) mostraram microbiologia semelhante, e a proteína C-reativa e a procalcitonina apresentaram uma sobreposição marcante tanto na PAV quanto na TAV, não permitindo uma discriminação adequada.
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Nesse cenário, foi publicada na Intensive Care Medicine o artigo “Ventilator associated tracheobronchitis and pneumonia: one infection with two faces.” O professor Ignacio Martin-Loeches e outros experts no tema trouxeram uma revisão das principais evidências e discussão sobre definições relacionadas à TAV e PAV.
A TAV pode representar um processo intermediário entre a colonização e a pneumonia, e as estratégias de prevenção da PAV também se aplicam à TAV.
A pneumonia não é uma doença preto e branco; há um continuum entre a colonização e a pneumonia que resulta da interação entre o hospedeiro, as bactérias e a ventilação mecânica invasiva.
É fácil entender que a pneumonia começa com uma via aérea colonizada e, quando as defesas locais são superadas, ocorre a consolidação pulmonar e a infecção do espaço alveolar.
E sobre as definições?
Uma opção é classificar ambos os conceitos (PAV e TAV) em uma única definição, como Infecções do Trato Respiratório Inferior associadas à Ventilação. Tal definição visa que a TAV e a PAV sejam vistas e, portanto, consideradas como uma entidade associada, permitindo que a discussão das definições seja deixada de lado para focar no manejo prático dos pacientes.
As duas entidades não serão tratadas com a mesma duração de terapia com antibióticos. No entanto, isso nos permitirá evitar atrasos desnecessários no diagnóstico e tratamento que afetarão negativamente o paciente.
A diferença exclusiva entre TAV e PAV é que a TAV não envolve acometimento do parênquima pulmonar. A tomografia de tórax é o padrão-ouro, mas nem sempre os pacientes encontram condições de transporte. O ultrassom pulmonar tem sido estudado nesse cenário, sendo incorporado a algoritmos diagnósticos. No entanto, tal método ainda necessita validação.
Antibioticoterapia
A menor duração do uso de antibióticos tem sido amplamente considerada em pacientes com pneumonia adquirida na comunidade, demonstrando ser seguro e de fácil implementação. O uso potencial de regimes curtos seria ideal para a TAV e provavelmente seria apoiado pelo uso de biomarcadores para determinar a duração do tratamento e a eliminação favorável da infecção. Outra estratégia que poderia fornecer resultados positivos é o uso de antibióticos via nebulização.
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Mensagens práticas
- A TAV e a PAV têm o mesmo padrão inicial: um patógeno que coloniza as vias aéreas proximais e progride para as vias aéreas mais profundas (TAV) até que as defesas locais sejam sobrecarregadas e ocorra dano e infecção alveolar nesse nível (PAV).
- Um curso de 7 a 10 dias de antibióticos tem sido implementado com sucesso no tratamento da PAV e cursos mais curtos e antibióticos nebulizados podem representar um tratamento para a TAV.
- A transição da TAV para a PAV é determinada pelas defesas locais do hospedeiro, e não tratar esse processo intermediário expõe o paciente a um risco aleatório.
- A TAV é uma doença clínica e não um problema administrativo em um paciente grave.
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