Apesar dos avanços nos tratamentos endovasculares de aneurismas cerebrais, as opções farmacológicas baseadas em evidências para manejo da HSA aneurismática permanecem limitadas. Até o momento, apenas a nimodipina oral possui recomendação classe 1. Diante dessa limitação, a busca por novas terapias levou à exploração da milrinona, um inibidor da fosfodiesterase-3 com propriedades inotrópicas e vasodilatadoras, inicialmente usada por via intra-arterial e posteriormente por via intravenosa e intratecal.
Estudos retrospectivos, como o estudo MILRISPASM, sugeriram benefícios da milrinona intravenosa, como a menor necessidade de terapias de resgate e melhores desfechos funcionais. Um estudo de Baang et al. com a adoção gradual e não uniformizada da milrinona IV, mostrou redução do uso de hipertensão induzida e terapias endovasculares, tendência a melhores desfechos funcionais em 6 meses (p = 0,058) e ausência de sinais relevantes de toxicidade ou eventos adversos graves. No entanto, o estudo foi limitado por viés de seleção, ausência de protocolo padronizado e falta de controle por gravidade inicial.
Para viabilizar ensaios clínicos randomizados (RCTs), é necessária a implementação de protocolos locais rigorosos que definam:
- Critérios de indicação da milrinona;
- Dose e duração;
- Tempo de resposta esperado antes de escalonamento terapêutico;
- Concomitância com agentes vasoativos que possam antagonizar seu efeito.
Protocolo de Montreal
Visa tratar o vasoespasmo cerebral sintomático após HSA aneurismática utilizando milrinona intravenosa, evitando as complicações associadas à terapia Triple-H (hipervolemia, hipertensão induzida e hemodiluição).
1. Manutenção da Homeostase:
- Normovolemia: Alcançada por meio de reposição adequada de fluidos e monitoramento da pressão venosa central (PVC).
- Normotermia: Prevenção e tratamento da hipertermia.
- Correção de Distúrbios Metabólicos: Monitoramento e correção de desequilíbrios eletrolíticos e glicêmicos.
2. Administração de Milrinona Intravenosa:
- Bônus Inicial: 0,1 mg/kg
- Infusão Contínua: Início com 0,75 μg/kg/min, com ajustes conforme a resposta clínica e tolerância hemodinâmica.
- Duração Média: Aproximadamente 10 dias, conforme a evolução clínica do paciente.
3. Monitorização:
- Hemodinâmico: Monitoramento contínuo da pressão arterial e PVC.
- Laboratorial: Avaliações diárias de eletrólitos, glicemia e função renal.
- Neurológico: Avaliação frequente do estado neurológico para detectar sinais de vasoespasmo ou isquemia cerebral tardia.
4. Uso de Vasopressores:
- A administração de norepinefrina é considerada apenas se ocorrer hipotensão significativa que comprometa a perfusão cerebral.
Este protocolo apresentou bons resultados com 75% dos sobreviventes alcançaram um bom desfecho funcional (escala de Rankin modificada ≤ 2) e não houve complicações significativas associadas ao protocolo. Ele oferece uma alternativa segura e eficaz ao tratamento convencional do vasoespasmo cerebral pós-HSA aneurismática, porém são necessários RCTs para melhores evidências.
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Conclusão
Embora os dados atuais indiquem segurança e possível benefício da milrinona IV em pacientes com HSA aneurismática, o momento ideal, a dose, o perfil de paciente e a duração da terapia ainda são indefinidos pela ausência de estudos RCTs sobre o tema.
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