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Terapia Intensiva27 outubro 2024

BIS vs avaliação RASS para monitorar sedação do paciente em VM 

Estudo investigou se a sedação guiada pelo BIS pode reduzir a dosagem de sedativos e aumentar os dias sem delirium e sem coma
Por André Japiassú

O Bispectral index (BIS) surgiu na década de 1990 (Sebel et al, J Clin Monit 1995), e é um derivado do eletroencefalograma (EEG), permitindo monitorar a profundidade do paciente durante a anestesia geral. Ele lê ondas cerebrais e estima o grau de despertar através de valores entre 0 e 100, sendo este último com paciente acordado. Como o paciente cirúrgico também é “curarizado”, fica difícil avaliar se o nível de consciência se superficializa no ato operatório, e um dos objetivos iniciais foi evitar este tipo de evento adverso. Secundariamente, é possível também calibrar a dose de anestésicos e sedativos para que não haja excesso de efeito anestésico, desta forma, poupando medicações também. Por fim, quando a cirurgia finaliza, é possível também ter um despertar mais acelerado se o nível de sedação não está tão profundo, e isto reduz o tempo de anestesia.

No entanto, tais efeitos não foram verificados em população crítica em UTI, em pacientes em ventilação mecânica (VM) e necessidade de sedação mais profunda. Neste estudo, os autores avaliaram o uso do BIS em um grupo de pacientes em VM, comparando com a avaliação clínica do nível de sedação habitualmente realizado. 

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BIS vs avaliação RASS para monitorar sedação do paciente em VM 

Imagem de freepik

Metodologia

Foi um trabalho realizado entre 2019 e 2022, randomizando pacientes para titulação de sedativos com o uso do BIS versus avaliação clínica com o escore Richmond Agitation Sedation Scale (RASS). Foi realizado em 1 UTI argentina, incluindo 99 pacientes de um total de 366 incluídos (esta grande diferença foi devida à pandemia de covid-19 que ocorreu ao mesmo tempo e impedia as famílias de darem consentimento do trabalho a contento, a saber nas primeiras 8 horas de início da VM).

As medidas de BIS e RASS foram realizadas de 4 em 4 horas, e mediu-se também a ocorrência de coma ou delirium pela escala CAM-ICU. 

O objetivo principal do estudo foi avaliar se havia redução de dias de coma ou delirium com o uso de BIS nos pacientes ventilados com necessidade de sedação profunda nas primeiras 24 horas (RASS -4 ou -5). Secundariamente, as doses de sedativos e o nível de consciência medido pelo BIS foram comparados. O alvo do índice BIS era manter entre 40 e 60 para obter sedação em nível adequado; enquanto pela avaliação clínica seria necessário manter o RASS entre -3 e -4.

Uma observação é que o grupo controle também foi monitorado com BIS, mas a tela do monitor era escondida e o resultado era anotado pelos pesquisadores sem mostrar às equipes médicas e de enfermagem. Se o paciente estivesse com BIS > 60 ou com RASS -5, os sedativos seriam reduzidos em 10%; se BIS < 40 ou RASS maior que -2, os sedativos seriam aumentados também em 10%. 

Saiba mais: RCT: Quetiapina x Haloperidol no delirium hiperativo

O grupo com BIS conseguiu maior número de dias sem coma ou delirium no período de 14 dias (mediana 9 vs 3 dias, mas sem significância estatística). No subgrupo de pacientes que precisaram sedação profunda por mais de 24 horas, o resultado foi positivo para o BIS, com redução significativa de coma e delirium.

Outro resultado interessante foi a redução da dose de propofol nos pacientes com BIS; mas não houve diferença com o midazolam. A analgesia foi realizada com fentanil em cerca de 60% dos pacientes nos dois grupos e com morfina no restante. 

O nível do BIS foi instável no grupo controle de avaliação clínica: foi de cerca de 30 entre o 3o e 5o dia de VM, enquanto se manteve em torno de 45 no grupo de intervenção. Isto denota que o uso de BIS ajuda a manter o nível de sedação mais estável.  

Conclusão

O uso de BIS não reduziu tanto os dias de coma e delirium nos pacientes com sedação profunda, embora tenha ajudado a reduzir as doses de propofol nos pacientes em VM. Para pacientes em VM por mais de 24 horas, houve benefício do BIS para minimizar os dias com coma/delirium. 

Desde de que haja redução de custo, o BIS pode se mostrar uma monitoração adjuvante para melhorar a qualidade de uso de sedação em pacientes em VM, principalmente quando é necessária em níveis profundos e/ou com uso concomitante de bloqueadores neuromusculares.

Autoria

Foto de André Japiassú

André Japiassú

Doutor em Ciências pela Fiocruz. Mestre em Clínica Médica pela UFRJ. Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB. Residência Médica em Medicina Intensiva pela UFRJ. Médico graduado pela UFRJ.

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