Demência atinge aproximadamente 8,5% da população com 60 anos ou mais
Em setembro, o Ministério da Saúde divulgou os dados do “Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras”, produzido em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com o objetivo de dimensionar a questão da demência na população brasileira.
“Esse trabalho conjunto é uma grande oportunidade para conhecer a realidade da população brasileira e os fatores de riscos modificáveis. A atenção primária tem um papel chave, na qual podemos atuar no processo de promoção, prevenção, diagnóstico oportuno e, por fim, articular com a atenção especializada para um cuidado específico”, afirmou Jérzey Timóteo, secretário-adjunto de Atenção Primária do Ministério da Saúde.
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Prevalência
Segundo o documento, aproximadamente 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais convivem com a doença e o número de pessoas afetadas pode chegar a 8,74 milhões em 2059.
O consenso do relatório chegou ao valor de prevalência de 9,1% em mulheres e 7,7% entre homens. Também foram apontadas variações regionais de prevalência, com a região Sul apresentando uma mediana de 7,3% e a Nordeste em 10,4%. Contudo, as regiões Norte e Nordeste apresentaram menor concordância entre os especialistas, o que para os responsáveis pelo documento evidencia a necessidade de estudos adicionais.
Prevenção da demência
De acordo com os autores, embora até o momento não exista um tratamento definitivo para alterar o curso das demências, o controle dos fatores de risco é o principal meio de prevenção e diminuição de casos. O documento cita que a incidência de demência tem diminuído em países ricos nas últimas décadas o que possivelmente estaria associado a uma melhora em níveis educacionais e controle de fatores de riscos nessas populações
O relatório cita alguns fatores de risco modificáveis com as faixas etárias mais associadas.
Criança, adolescente e adulto jovem (< 45 anos):
- Baixo nível educacional
Meia-idade (45-60 anos):
- Perda auditiva
- Traumatismo cranioencefálico
- Hipertensão arterial sistêmica
- Abuso de álcool
- Obesidade
Idoso (> 60 anos):
- Tabagismo
- Depressão
- Isolamento social
- Inatividade física
- Diabetes mellitus
- Poluição ambiental
O relatório afirma que 48% dos casos de demência no Brasil poderiam ser prevenidos através do controle desses 12 fatores de risco modificáveis, e indica que no país o baixo nível educacional, hipertensão arterial, perda auditiva e obesidade são os fatores que apresentam os maiores índices de fração atribuível na população (FAP), “que estima a proporção de casos na população que poderiam ser atribuídos a um ou a um grupo de fatores de risco”.
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Subdiagnóstico e estigma
A publicação ainda trata desses dois temas que influenciam no impacto das demências do Brasil. Segundo os dados analisados, apesar da evidência para o país ser baixa, com apenas dois estudos no estado de São Paulo apresentando a taxa de subdiagnóstico para o Brasil, na faixa dos 70%. No mundo, essa taxa varia entre 50% na Europa, 60% na América do Norte e mais de 90% na Ásia.
Os cenários de estimativa elaborados para a produção do relatório colocam a taxa de subdiagnóstico no Brasil acima dos 80%, sendo mais baixas na região Sudeste, mais altas entre homens num geral e variando com a idade do paciente, mais altas entre 60 e 64 anos, caindo entre os 85 e 89 e voltando a aumentar em idosos com mais de 90 anos.
Sobre o estigma relacionado com as demências, os autores descrevem duas formas principais:
- “A primeira caracteriza-se por forte estereótipo de despersonalização em que a pessoa com demência passa a ser considerada “anormal”, supostamente não vivenciando os sentimentos como as demais pessoas.”
- “A segunda expressa-se por meio da “necessidade” de segregar e sedar a pessoa sob cuidado utilizando-se de medicamentos, como forma de controlar comportamentos e atitudes indesejáveis resultantes da demência.”
Além de apontarem o fato de que os cuidados à pessoa que vive com demência demonstram caráter indefinido e subjetivo, com foco em medicamentos e sintomas, e não no paciente e suas necessidades. Pessoas com demência também sofrem com abusos, abandono e segregação.
Em suas considerações finais, o relatório afirma que os pacientes com demência para lidar com o diagnóstico e com o estigma de terceiros passa a construir práticas “defensivas”, como:
- Compartilhar de forma seletiva o diagnóstico e suas experiências;
- Minimizar e normalizar a demência e os sintomas;
- Enfatizar a capacidade de viver uma vida ativa, apesar dos sintomas da demência;
- Expressar os impactos positivos da demência em suas vidas.
O Relatório Nacional sobre a Demência pode ser lido na íntegra através deste link.
*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal Afya.
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