Consumo de azeite de oliva e morte relacionada à demência
Nos últimos 20 anos, as mortes por AVC e IAM vêm reduzindo, e as taxas de mortalidade por demência padronizadas por idade vêm aumentando.
A dieta Mediterrânea tem ganhado popularidade devido aos seus reconhecidos benefícios, principalmente em desfecho cardiovascular. E as evidências também sugerem efeito benéfico na saúde cognitiva. O azeite de oliva faz parte da dieta do Mediterrâneo, e ele pode exercer efeitos antiinflamatórios e neuroprotetores pela alta concentração de ácidos graxos monossaturados e outros componentes com propriedades antioxidantes.
Neste estudo, foi avaliada a relação entre consumo de azeite de oliva e o risco de morte relacionada à demência em dois grandes estudos prospectivos com homens e mulheres.
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Métodos
Estudo de coorte prospectivo que avaliou dados do Nurses’ Health Study (mulheres; 1990-2018) e Health Professionals Follow up Study (homens; 1990-2018). Os dados foram analisados de maio 2022 a julho 2023.
Após as exclusões, no total foram incluídos 60.582 mulheres e 31.801 homens.
A ingestão de azeite de oliva foi avaliada através de questionário de frequência alimentar a cada 4 anos, com as categorias: nunca ou menos de uma vez por mês, mais do que zero e menor/igual a 4,5g/dia; mais do que 4,5g/dia e menor/igual a 7 g/dia; e mais do que 7 g/dia. A qualidade da dieta foi avaliada com base no Índice de Alimentação Saudável Alternativa e na pontuação da dieta mediterrânea.
A Apolipoproteína E ɛ4 (APOEɛ 4) é um gene conhecido por aumentar risco de demência. Foi realizada a genotipagem da APOE em um subconjunto de 27.296 participantes.
As mortes por demência foram determinadas por revisão de prontuário médico, relatórios de autópsias ou certificados de morte.
Resultados e discussão
A ingestão de azeite de oliva foi inversamente associada à morte relacionada à demência em grupos estratificados por idade e modelos com multivariáveis ajustáveis. Foi visto que um incremento em 5 g no consumo de azeite tem uma associação inversa e significativa na análise.
Em análises conjuntas, os participantes com maiores ingestas de azeite tiveram menor risco de morte por demência, independente da pontuação da dieta mediterrânea.
A troca de 5 g/dia de maionese pela mesma quantidade de azeite foi associada a 14% menos risco de morte associada a demência em modelos agrupados com ajustes de multivariáveis.
O estudo mostrou que participantes que consumiam mais de 7 g/dia de azeite tinham 28% menos risco de morte por demência em comparação com os que não consumiam ou o faziam raramente. E a associação se manteve significativa mesmo após ajustes para pontuações de qualidade da dieta, incluindo a dieta Mediterrânea.
O consumo de azeite pode diminuir a mortalidade por demência por melhorar a saúde vascular. Diversos ensaios clínicos apoiam o efeito do azeite na redução de doença cardiovascular por melhorar função endotelial, coagulação, metabolismo lipídico, estresse oxidativo, agregação plaquetária e redução da inflamação.
A associação foi significativa nos dois sexos, mas não permaneceu nos homens após ajuste completo, o que mostra a necessidade de mais estudos que levem em consideração cuidadosamente o sexo, para melhorar nosso entendimento.
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Impactos na prática clínica
Há um aumento progressivo de casos de demência e de mortalidade relacionada a mesma. Estamos em busca de intervenções que promovam o envelhecimento bem-sucedido e que sejam fatores protetores para o desenvolvimento de demência. Pode ser que o consumo de azeite de oliva seja potencial estratégia para melhorar a longevidade sem demência.
Limitações
– Como é um estudo observacional, a possibilidade de causalidade reversa não pode ser excluída;
– População estudada predominante de brancos não hispânicos, o que limita a generalização para outras populações;
– Os fatores socioeconômicos podem permanecer como fator confundidor, mesmo após ajustes das principais covariáveis, o que também limita a generalização;
– O estudo não pôde diferenciar entre os vários tipos de azeite de oliva que diferem em polifenóis e compostos bioativos não lipídicos.
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