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Carreira1 novembro 2025

Autonomia x abandono do paciente: como equilibrar direitos e deveres

Decisões de recusa de tratamento e dever de continuidade do cuidado exigem atenção ética, registro adequado e postura jurídica segura
Por Redação Afya

Cuidar de pessoas nunca foi apenas uma questão de técnica. A cada consulta, o médico se vê diante de escolhas que misturam ciência, ética e responsabilidade legal. Uma das situações mais delicadas surge quando o paciente decide não seguir uma orientação ou recusa um tratamento proposto.

Onde termina o direito legítimo de escolha do paciente e onde começa a obrigação do médico em garantir a continuidade do cuidado? Esse fio tênue separa a autonomia da recusa e o abandono do paciente, e entender esses limites é essencial para preservar tanto a saúde quanto a segurança jurídica de quem exerce a medicina.

O que caracteriza e como registrar

Para a advogada Sandra Franco, especialista em Direito Médico há mais de duas décadas, respeitar a autonomia significa permitir que o paciente aceite ou recuse procedimentos diagnósticos ou terapêuticos, desde que receba informações claras sobre riscos, benefícios e alternativas. “Se o médico informar adequadamente o paciente ou responsável legal, e este decidir interromper ou recusar o tratamento, não há abandono, mas exercício de um direito personalíssimo”, explica. Essa proteção está respaldada pelo Código de Ética Médica (CEM, art. 31) e pela Resolução CFM nº 2.232/2019, que orientam sobre o registro e formalização das decisões do paciente.

Entendendo o abandono médico

O abandono, por sua vez, ocorre quando o médico interrompe unilateralmente o acompanhamento sem comunicação adequada ou sem viabilizar a continuidade da assistência. Segundo o CEM (art. 36), o profissional pode renunciar ao atendimento apenas por motivo justo, garantindo tempo e informações para que outro médico assuma o cuidado. “O abandono ético, civil ou penal pode resultar em sanções que vão desde advertência profissional até indenizações, ou mesmo responsabilização criminal em casos graves”, alerta a especialista.

Postura ética

Na prática clínica, a recusa do paciente não autoriza o encerramento imediato do acompanhamento. O médico deve adotar postura ética e juridicamente segura: orientar sobre todas as opções disponíveis, oferecer alternativas viáveis, registrar detalhadamente a recusa no prontuário e, sempre que possível, colher termo de consentimento ou recusa assinado. Esse cuidado documental não apenas demonstra respeito à autonomia, mas também protege o médico de eventuais questionamentos judiciais ou éticos.

Saiba mais: Top 5 dicas para uma boa relação médico-paciente e como não cometer gafes jurídicas

Erros comuns

Um dos erros mais comuns, segundo a especialista, é interpretar a recusa do paciente como permissão para encerrar abruptamente o vínculo assistencial. A conduta adequada inclui comunicação clara, documentação detalhada, oferta de alternativas e garantia da continuidade do cuidado. “Mesmo diante da recusa, o médico deve manter acompanhamento mínimo ou encaminhar o paciente a outro profissional, evitando configuração de abandono indireto”, destaca.

Limites e responsabilidades

A legislação também prevê a possibilidade de objeção de consciência, quando o procedimento solicitado pelo paciente viola convicções éticas, morais ou religiosas do médico. Nesse caso, a recusa não configura abandono desde que seja realizada com comunicação transparente, registro em prontuário, encaminhamento a outro profissional e manutenção da assistência até que a continuidade do cuidado esteja assegurada.

Além disso, situações especiais merecem atenção: recusa de tratamento em menores ou incapazes, doenças de notificação obrigatória ou risco iminente de morte exigem que o médico siga protocolos legais específicos, acionando Judiciário ou autoridades competentes quando necessário. A documentação detalhada em prontuário e a formalização de termos de recusa continuam sendo ferramentas essenciais para resguardar a atuação profissional.

Leia ainda: Sigilo Médico: Quando pode e quando não pode ser quebrado

Proteção de médico e paciente

Em resumo, segundo a doutora, a autonomia do paciente e o dever do médico de não abandonar seu cuidado são dois pilares que se complementam. Cumprir normas éticas e legais, registrar todas as decisões e manter diálogo aberto são estratégias essenciais para proteger o paciente e resguardar a carreira médica.

Se você é médico ou estudante de medicina e quer se aprofundar no tema para atuar com ainda mais segurança, vale a pena seguir o perfil @drasandrafranco, no Instagram. É por lá que Dra. Sandra compartilha dicas práticas para evitar problemas jurídicos na carreira. Fique de olho!

 

 

Autoria

Foto de Redação Afya

Redação Afya

Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.

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