O yoga tem sido cada vez mais incorporado como uma modalidade complementar no tratamento de distúrbios gastrointestinais pediátricos, especialmente os transtornos da interação eixo intestino-cérebro (DGBIs) e, curiosamente, nas doenças inflamatórias intestinais (DII). Alguns estudos sugerem que o yoga pode reduzir a dor, melhorar a qualidade de vida e auxiliar no manejo do estresse em crianças com essas condições. No entanto, ainda são necessários mais estudos para definir a frequência e a duração ideais da prática, bem como sua influência nos marcadores biológicos das doenças gastrointestinais.
O papel das terapias complementares
As terapias complementares, como o yoga, estão associadas à medicina convencional proporcionando um cuidado mais abrangente. O uso de práticas “alternativas” tem crescido significativamente entre crianças, especialmente naquelas com doenças crônicas, como distúrbios gastrointestinais funcionais e inflamatórios. O yoga, por sua capacidade de atuar no eixo intestino-cérebro, vem se destacando como um potencial coadjuvante terapêutico. E nós, como pediatras e gastroenterologistas pediátricos, sabemos o real papel e as evidências dessa terapias para aplicá-las, ou não, em nossos pacientes?
Yoga nos transtornos da interação eixo intestino-cérebro (DGBIs)
DGBIs são condições gastrointestinais crônicas que envolvem a comunicação alterada entre o intestino e o cérebro, sem anormalidades estruturais evidentes. Entre os principais DGBIs pediátricos estão a síndrome do intestino irritável (SII), a dor abdominal funcional e a dispepsia funcional.
Estudos clínicos indicam que o yoga pode reduzir a frequência e a intensidade da dor em crianças com DGBIs, além de melhorar sua funcionalidade diária e reduzir a ansiedade. Um ensaio clínico randomizado demonstrou que adolescentes que praticaram yoga por quatro semanas relataram menor impacto da dor em suas atividades cotidianas e redução dos sintomas gastrointestinais. Outro estudo revelou que crianças de 8 a 11 anos apresentaram uma melhora sustentada na frequência da dor abdominal três meses após a intervenção com yoga.
Os mecanismos propostos para esses benefícios incluem:
- Regulação do estresse: Diminuição dos níveis de cortisol e ativação do sistema nervoso parassimpático.
- Modulação da inflamação: Redução de citocinas inflamatórias e melhora da microbiota intestinal.
- Melhoria da função gastrointestinal: Aumento da motilidade gástrica e redução da hipersensibilidade visceral.
No entanto, desafios como a acessibilidade ao yoga e a adesão dos pacientes à prática ainda precisam ser abordados para sua implementação mais ampla na prática clínica.
Yoga na Doença Inflamatória Intestinal (DII)
A doença inflamatória intestinal (DII), que inclui a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, é uma condição crônica caracterizada por inflamação intestinal e sintomas muito importantes, com um espectro de apresentação clínica. Além do impacto físico, pacientes pediátricos com DII frequentemente apresentam níveis elevados de estresse e ansiedade, o que pode piorar a evolução da doença.
Estudos demonstraram que o yoga pode ser um recurso terapêutico útil para melhorar a qualidade de vida de crianças com DII. Um ensaio clínico multicêntrico mostrou que pacientes que participaram de sessões semanais de yoga durante 12 semanas relataram melhorias significativas no bem-estar geral e na autoconfiança no manejo da doença. Além disso, mais de 85% dos participantes relataram que o yoga ajudou a controlar o estresse e alguns dos sintomas da DII.
Embora o yoga tenha demonstrado benefícios na redução do estresse e na melhora da qualidade de vida desses pacientes, estudos adicionais são necessários para determinar seu impacto nos marcadores inflamatórios, como a calprotectina fecal, e na atividade da doença.
Veja também: GASTROPED 2022: Como classificar a doença inflamatória intestinal pediátrica?
Conclusão
O yoga é uma abordagem promissora na gastroenterologia pediátrica, especialmente para crianças com DGBIs e DII. Ele pode complementar o tratamento convencional, melhorando a qualidade de vida e reduzindo sintomas gastrointestinais e níveis de estresse. No entanto, são necessárias mais pesquisas e oportunidades de disseminação dessa informação, além dos protocolos ideais de prática e avaliar seu impacto nos marcadores de atividade da doença. Expansão do acesso, seja por meio de aulas presenciais ou plataformas digitais, pode contribuir para a implementação mais ampla dessa terapia no cuidado pediátrico.
Autoria

Jôbert Neves
Médico do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP), Pediatria e Gastroenterologia Pediátrica pela ISCMSP, Título de Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Coordenador Young LASPGHAN do grupo de trabalho de probióticos e microbiota da Sociedade Latino-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN).
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