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Pediatria28 março 2025

Yoga na gastroenterologia pediátrica: é possível indicar na prática?

Alguns estudos sugerem que o yoga pode reduzir a dor, melhorar a qualidade de vida e auxiliar no manejo do estresse em crianças com distúrbios gastrointestinais
Por Jôbert Neves

O yoga tem sido cada vez mais incorporado como uma modalidade complementar no tratamento de distúrbios gastrointestinais pediátricos, especialmente os transtornos da interação eixo intestino-cérebro (DGBIs) e, curiosamente, nas doenças inflamatórias intestinais (DII).  Alguns estudos sugerem que o yoga pode reduzir a dor, melhorar a qualidade de vida e auxiliar no manejo do estresse em crianças com essas condições. No entanto, ainda são necessários mais estudos para definir a frequência e a duração ideais da prática, bem como sua influência nos marcadores biológicos das doenças gastrointestinais. 

O papel das terapias complementares  

As terapias complementares, como o yoga, estão associadas à medicina convencional proporcionando um cuidado mais abrangente. O uso de práticas “alternativas” tem crescido significativamente entre crianças, especialmente naquelas com doenças crônicas, como distúrbios gastrointestinais funcionais e inflamatórios. O yoga, por sua capacidade de atuar no eixo intestino-cérebro, vem se destacando como um potencial coadjuvante terapêutico. E nós, como pediatras e gastroenterologistas pediátricos, sabemos o real papel e as evidências dessa terapias para aplicá-las, ou não, em nossos pacientes? 

Yoga nos transtornos da interação eixo intestino-cérebro (DGBIs) 

DGBIs são condições gastrointestinais crônicas que envolvem a comunicação alterada entre o intestino e o cérebro, sem anormalidades estruturais evidentes. Entre os principais DGBIs pediátricos estão a síndrome do intestino irritável (SII), a dor abdominal funcional e a dispepsia funcional. 

Estudos clínicos indicam que o yoga pode reduzir a frequência e a intensidade da dor em crianças com DGBIs, além de melhorar sua funcionalidade diária e reduzir a ansiedade. Um ensaio clínico randomizado demonstrou que adolescentes que praticaram yoga por quatro semanas relataram menor impacto da dor em suas atividades cotidianas e redução dos sintomas gastrointestinais. Outro estudo revelou que crianças de 8 a 11 anos apresentaram uma melhora sustentada na frequência da dor abdominal três meses após a intervenção com yoga. 

Os mecanismos propostos para esses benefícios incluem: 

  • Regulação do estresse: Diminuição dos níveis de cortisol e ativação do sistema nervoso parassimpático. 
  • Modulação da inflamação: Redução de citocinas inflamatórias e melhora da microbiota intestinal. 
  • Melhoria da função gastrointestinal: Aumento da motilidade gástrica e redução da hipersensibilidade visceral. 

No entanto, desafios como a acessibilidade ao yoga e a adesão dos pacientes à prática ainda precisam ser abordados para sua implementação mais ampla na prática clínica. 

Yoga na Doença Inflamatória Intestinal (DII) 

A doença inflamatória intestinal (DII), que inclui a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, é uma condição crônica caracterizada por inflamação intestinal e sintomas muito importantes, com um espectro de apresentação clínica. Além do impacto físico, pacientes pediátricos com DII frequentemente apresentam níveis elevados de estresse e ansiedade, o que pode piorar a evolução da doença. 

Estudos demonstraram que o yoga pode ser um recurso terapêutico útil para melhorar a qualidade de vida de crianças com DII. Um ensaio clínico multicêntrico mostrou que pacientes que participaram de sessões semanais de yoga durante 12 semanas relataram melhorias significativas no bem-estar geral e na autoconfiança no manejo da doença. Além disso, mais de 85% dos participantes relataram que o yoga ajudou a controlar o estresse e  alguns dos sintomas da DII. 

Embora o yoga tenha demonstrado benefícios na redução do estresse e na melhora da qualidade de vida desses pacientes, estudos adicionais são necessários para determinar seu impacto nos marcadores inflamatórios, como a calprotectina fecal, e na atividade da doença. 

Veja também: GASTROPED 2022: Como classificar a doença inflamatória intestinal pediátrica?

Conclusão 

O yoga é uma abordagem promissora na gastroenterologia pediátrica, especialmente para crianças com DGBIs e DII. Ele pode complementar o tratamento convencional, melhorando a qualidade de vida e reduzindo sintomas gastrointestinais e níveis de estresse. No entanto, são necessárias mais pesquisas e oportunidades de disseminação dessa informação, além dos protocolos ideais de prática e avaliar seu impacto nos marcadores de atividade da doença. Expansão do acesso, seja por meio de aulas presenciais ou plataformas digitais, pode contribuir para a implementação mais ampla dessa terapia no cuidado pediátrico. 

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Referências bibliográficas

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