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Pediatria17 fevereiro 2025

Revisão analisa o risco de engasgo conforme as abordagens de introdução alimentar

Revisão sistemática teve como objetivo compreender a influência da abordagem da introdução alimentar adotada pelos cuidadores no risco de engasgo em bebê

Há duas principais abordagens de alimentação complementar (AC): a alimentação tradicional com colher (traditional spoon‐feeding – TSF) e o desmame guiado pelo bebê (baby‐led weaning – BLW). No entanto, uma das principais questões levantadas por pais e profissionais de saúde com o BLW é o risco de engasgo. Dessa forma, compreender a influência da abordagem da AC adotada pelos cuidadores no risco de engasgo em bebês foi o objetivo de uma recente revisão sistemática publicada no Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition (JPGN). 

introdução alimentar

Definições 

Alimentação tradicional com colher (traditional spoon‐feeding – TSF) 

Consiste na introdução gradual de novos alimentos com manejo e supervisão dos cuidadores. O alimento deve ser oferecido com colher e ter textura cremosa. A transição para texturas menos homogêneas e mais granuladas é feita progressivamente conforme o lactente for demonstrando bom controle de trituração, mastigação e deglutição, até que os alimentos sólidos sejam iniciados. 

Desmame guiado pelo bebê (baby‐led weaning – BLW) 

Abordagem de AC na qual o bebê se alimenta sozinho com alimentos que ele segura na mão (moídos, picados ou em pedaços), compartilhando alimentos e refeições com a família e escolhendo o que e quanto comer em cada refeição. 

Introdução aos alimentos sólidos guiada pelo bebê (baby‐led introduction to solids – BLISS) 

Trata-se de uma versão modificada do BLW, elaborada para reduzir suas principais desvantagens: baixo suprimento de ferro e nutrientes, déficit de crescimento e risco de asfixia. O BLISS ressalta especificamente a importância da oferta de alimentos calóricos e ricos em ferro e de evitar alimentos que possam representar risco de asfixia. 

Metodologia 

Pesquisadores de Lisboa e do Porto, Portugal, conduziram uma revisão sistemática cuja busca foi efetuada por meio das bases de dados PubMed, Scopus e Web of Science.  

Foram incluídos ensaios clínicos randomizados, ensaios clínicos controlados ou estudos observacionais (estudos de caso-controle, coorte e transversais) publicados após 2010, englobando bebês saudáveis ​​nascidos a termo com AC na avaliação do desfecho, tendo uma definição clara d “TSF” e “BLW” ou “BLISS” e abordando diretamente o risco de engasgo como um desfecho. Foram excluídos capítulos de livros, comentários, diretrizes, editoriais, protocolos, relatórios e revisões. Não houve limitações de idioma. 

Resultados 

Foram identificados, inicialmente, 165 estudos. Destes, sete foram incluídos na revisão.  

Diferenças estatisticamente significativas no risco de engasgo entre bebês após as abordagens TSF, BLW e BLISS não foram encontradas em nenhum estudo. Em cinco, os bebês do grupo TSF tiveram mais episódios de engasgo do que aqueles nos grupos BLW ou BLISS, embora não estatisticamente significativo. Os pesquisadores descreveram que o risco de engasgo não parecia estar associado à abordagem de AC e sim à familiaridade do bebê com cada textura e à compreensão dos pais sobre como minimizar o risco de engasgo. 

Conclusão 

A revisão concluiu que as abordagens BLW ou BLISS não parecem estar associadas a um risco maior de engasgo, contradizendo muitas das percepções de pais e profissionais da saúde. Na verdade, para os pesquisadores, fatores possivelmente mais relevantes incluem o quão familiarizado o bebê está com cada textura e se os pais entendem as informações fornecidas sobre como minimizar o risco de engasgo. Esses achados reforçam a necessidade de se instruir pais e cuidadores sobre como modificar alimentos para torná-los mais seguros, independentemente da abordagem de AC. 

Veja também: Estudo compara ingestão de nutrientes em bebês de 6 a 12 meses utilizando o desmame tradicional ou o método BLW

Comentário 

Estudo muito interessante, com um tema bastante atual, mas que carece de associações estatisticamente significativas. De fato, conforme descrito no artigo, ainda há necessidade de estudos mais robustos, especialmente para compreender melhor a influência de outros fatores, como o ambiente das refeições (se a criança sofre pressão para comer ou se utiliza distrações, como brinquedos e telas), de que forma os pais ou cuidadores oferecem a comida e a postura do bebê ao comer.  

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) não indica o BLW como única forma de AC e propõe uma abordagem participativa, em que os pais dão a comida aos bebês, mas eles são estimulados a explorar os diferentes alimentos e suas texturas.  

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Referências bibliográficas

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