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Pediatria31 julho 2024

SBP atualiza recomendações sobre aleitamento materno e introdução alimentar 

Neste artigo trazemos os principais pontos do guia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sobre a alimentação do lactente

A alimentação desempenha um papel crucial na promoção da saúde infantil, crescimento adequado e redução do risco de doenças crônicas. Estudos recentes destacam a importância da alimentação dos lactentes e sugerem mudanças na prática clínica. Princípios fundamentais incluem a adesão ao aleitamento materno, a correta introdução e diversidade de alimentos complementares, e o respeito às tradições culturais e à educação familiar. Infelizmente, práticas inadequadas, como curta duração do aleitamento materno e consumo precoce de alimentos ultraprocessados, elevam o risco de distúrbios nutricionais.  

Para abordar estas questões tão frequentes no dia a dia do pediatra, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou, há poucos dias, o guia prático de atualização “Alimentação complementar para o lactente saudável – ampliando as escolhas com evidências aplicáveis e sustentáveis”, elaborado pelos Departamentos Científicos de Aleitamento Materno, Bioética, Gastroenterologia, Nutrologia e Pediatria Ambulatorial (gestão 2022-2024), discutido a seguir.  

SBP atualiza recomendações sobre aleitamento materno e introdução alimentar 

Imagem de freepik

Aleitamento materno 

A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde do Brasil (MS) e a SBP recomendam o aleitamento materno exclusivo (AME) até os seis meses de vida e continuado com outros alimentos até dois anos ou mais (nos intervalos das refeições com outros alimentos). Isso porque o leite materno proporciona diversas sensações e sabores, influenciando positivamente a formação do hábito alimentar do lactente e facilitando a aceitação de novos alimentos.  

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A amamentação é um direito da mãe e da criança, necessitando do apoio de toda a sociedade. Para tanto, o Brasil implementou várias políticas públicas para promover e proteger a amamentação, como a Iniciativa Hospital Amigo da Criança e a Rede Global de Bancos de Leite Humano. Além disso, uma importante conquista brasileira na proteção à amamentação foi a adoção do Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno em 1988. A NBCAL proíbe a promoção comercial de substitutos do leite materno, regula a rotulagem desses produtos e controla o relacionamento da indústria com estabelecimentos de saúde e profissionais. Portanto, é de responsabilidade dos profissionais de saúde divulgar e promover as diretrizes da NBCAL, garantindo que informações corretas sobre amamentação cheguem às famílias e ao público, livres de conflitos de interesse. 

Nos lactentes menores de seis meses que não recebem AME, a complementação com fórmulas infantis é recomendada, pois o leite de vaca não modificado possui composição nutricional inadequada. Segundo diversas sociedades pediátricas e a OMS, as fórmulas infantis são indicadas até os 12 meses. Após a criança completar 1 ano de vida, não existe uma recomendação formal para fórmulas infantis ou leite fortificado, salvo em situações especiais 

Benefícios do aleitamento materno 

Inúmeros são os benefícios do aleitamento materno, tanto para o lactente quanto para a lactante. Para o lactente, em curto prazo, podemos citar a redução da incidência de diarreia, de otite média aguda e de doenças respiratórias; a diminuição da hospitalização por doenças respiratórias e da mortalidade infantil, e a prevenção de má-oclusão dos dentes. Em longo prazo, temos a prevenção de sobrepeso e obesidade, hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus tipo 2 (DM2), a redução de asma e episódios de sibilância e um melhor desenvolvimento cognitivo e neuropsicomotor. Por fim, para a lactante, o aleitamento materno previne a ocorrência de DM2 e diminui a incidência de câncer de ovário e de câncer de mama.  

Alimentação complementar 

A alimentação complementar começa aos seis meses e continua até os 23, sendo que a amamentação deve ser mantida nesse período. Trata-se de uma fase essencial para garantir a quantidade e qualidade de alimentos necessários para o crescimento físico, desenvolvimento neuropsicomotor e formação de hábitos alimentares saudáveis das crianças, entretanto, também apresenta riscos nutricionais significativos. No Brasil, o “Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos” do MS de 2019 oferece diretrizes baseadas em evidências e adaptadas à diversidade regional e cultural do país, promovendo a amamentação e uma alimentação variada, saudável e sustentável para toda a família. 

Segundo a SBP, diretrizes e guias alimentares são cruciais para equipar profissionais de saúde e ampliar opções alimentares adequadas dentro de cada comunidade e família. Portanto, pediatras e outros profissionais devem estar preparados para orientar famílias, levando em conta as características socioeconômicas, culturais e hábitos alimentares. Dessa forma, as crianças de seis meses podem começar a receber alimentos preparados e saudáveis da família, ajustando a consistência conforme necessário. Se a alimentação familiar for inadequada, o profissional deve fazer orientações individualizadas. É importante lembrar que a diversidade na dieta, escolha dos alimentos e frequência das refeições são fundamentais. Ademais, o preparo dos alimentos para lactentes deve envolver cozimento e amassamento com garfo, evitando liquidificador, processador e peneiras. Aliás, lactentes não amamentados têm maiores riscos nutricionais, exigindo cuidados específicos no preparo e na higienização dos utensílios. 

A primeira refeição principal (almoço ou jantar com todos os grupos alimentares) deve ser iniciada por volta de seis meses e uma fruta in natura (uma vez ao dia). Aproximadamente aos sete meses de vida (ou 30 dias depois de se iniciar a primeira refeição principal), pode ser introduzida a segunda refeição principal (almoço ou jantar, também com todos os grupos alimentares), aumentando a quantidade de frutas in natura para duas vezes ao dia. Na fase de 6 meses a 1 ano, as refeições da criança devem passar por uma progressão na consistência, diversidade e quantidade dos alimentos ofertados (gradualmente, a consistência dos alimentos deve se aproximar da consumida pela família, aumentando a quantidade conforme a idade). As frutas devem ser consumidas in natura para fornecer nutrientes importantes. De acordo com a SBP, a introdução de alimentos potencialmente alergênicos, como amendoim, castanhas, ovos e peixes pode começar aos seis meses, e o glúten também pode ser introduzido nessa idade, para evitar o aumento do risco de doenças alérgicas. Por fim, é fundamental oferecer água potável desde o início da alimentação complementar. 

A SBP destaca que a alimentação infantil deve ser baseada em preparações feitas em casa com alimentos in natura e minimamente processados, incluindo cereais, tubérculos, leguminosas, hortaliças, carnes e ovos na refeição principal, preparados com ingredientes e temperos naturais. Devem ser evitados alimentos ultraprocessados, açúcar e doces nos primeiros dois anos, pois esses produtos contêm altos níveis de sal, açúcar, gorduras e aditivos, influenciando negativamente as preferências alimentares e aumentando o risco de obesidade e doenças crônicas. Portanto, é recomendado reduzir o consumo de sódio nas famílias e evitar mel no primeiro ano de vida devido ao risco de botulismo. 

A hora das refeições deve ser de interação e aprendizado entre cuidadores e a criança, com alimentos oferecidos de forma responsiva e sensível, respeitando o ritmo e sinais de fome e saciedade do lactente. As refeições devem ser agradáveis, sem distrações excessivas e sem comportamentos familiares extremos, inclusive, a criança não deve ser forçada a comer, e alimentos líquidos, como leite ou suco, não devem ser adicionados nas preparações. A SBP recomenda que o lactente explore os alimentos com as mãos, o que auxilia no seu aprendizado sensorial. 

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