Logotipo Afya
Anúncio
Pediatria29 abril 2024

Relação entre miopia em crianças e exposição a eletrônicos durante a covid-19

O uso de computadores e telas estaria associado à miopia, assim como a maior exposição ao ar livre é um fator protetor para essa refração.
Por Juliana Rosa

A pandemia do covid-19 interferiu drasticamente nas relações sociais. Dentre as adversidades, tem-se o fechamento das escolas e a instalação de um novo padrão de ensino, pautado no uso de tecnologias, culminando com o uso obrigatório de tablets, celulares e computadores para o acesso de crianças à educação, além de ter promovido o rompimento do convívio social, o que intensificou o uso de telas como forma de lazer.

Veja também: Atropina tópica: Existem efeitos colaterais?

Do mesmo modo, a pandemia afetou outros aspectos do cotidiano, dentre eles, o trabalho remoto, permitindo aos pais e responsáveis exercerem seus cargos nas próprias residências, o que gera um padrão de uso mútuo em ambiente familiar.   

A miopia é compreendida como um erro de refração que ocasiona a formação da imagem à frente da retina, provocando uma visão desfocada para objetos situados ao longe. Tal condição se deve, principalmente, ao aumento do comprimento ocular, com alongamento da profundidade.

O uso de computadores e telas estaria associado à miopia, assim como a maior exposição ao ar livre é um fator protetor para esse erro de refração. A pandemia interferiu diretamente em ambos aspectos, tendo potencial para causar um aumento significativo dos casos dessa alteração em crianças  

Menina com miopia próxima à tela do notebook

Achados científicos relevantes  

Luz azul das telas e a miopia 

Um artigo publicado em 2022 faz uma revisão sistemática da literatura, de caráter descritivo-discursivo. Foram encontrados 17 artigos, sendo selecionados, após a leitura, 14 trabalhos que foram pertinentes e que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. A miopia é caracterizada por um problema de refração no qual a imagem do objeto se forma antes da retina.   

Isso ocorre devido a um aumento do comprimento axial do olho, tendo como fator causal principal o componente genético, além de importantes componentes ambientais, como a diminuição da exposição ao ar livre e o uso de telas. Além disso, essa patologia é um fator de risco para catarata, glaucoma, maculopatia, descolamento de retina e outros problemas oculares. Sabe-se que os equipamentos eletrônicos estão fortemente inseridos no meio social e se tornaram indispensáveis para o ser humano, logo a exposição se tornou mais constante e facilitada.   

Além dos efeitos oculares locais, a exposição de telas provoca alterações no ritmo circadiano, pois a luz azul-violeta em período noturno afeta a produção de melatonina, um hormônio responsável pela regulação do sono, acarretando em insônia. A correlação entre o uso de aparelhos eletrônicos e a miopia é bem documentada em alguns estudos, que ressaltam também uma ligação direta com a frequência do uso, sendo que, quanto maior a utilização, maior a incidência de miopia.   

Ensino à distância durante isolamento social e uso de telas 

Em um estudo que utilizou crianças submetidas diariamente ao ensino à distância durante a pandemia por covid-19, onde o uso de telas era de 1 hora para crianças de 1ª e 2ª série e 2,5 horas para 3ª a 6ª série, obteve-se uma prevalência de miopia três vezes maior nas crianças de 6 anos, 2 vezes maior para crianças de 7 anos e 1,4 para crianças de 8 anos.

Sendo que as crianças de 9 a 13 anos não foram afetadas, apesar de serem expostas a um maior tempo de tela, o que pode evidenciar que crianças mais jovens possuem um maior potencial para adquirir miopia causada por eletrônicos. O uso de telas de tamanhos menores, como celulares e tablets forçam as crianças a aumentar a proximidade com os olhos, podendo levar à perda do foco para objetos distantes.   

Duração do uso de telas por crianças 

Um estudo demonstrou que o uso prolongado de telas, sendo maior que 60 minutos, causa um declínio da visão de crianças expostas. O estudo corrobora a afirmação do tempo ao ar livre como fator protetor. Outra pesquisa demonstrou que crianças asiáticas de ambientes urbanos possuem 2,6 vezes maior risco de miopia se comparadas às que vivem em ambientes rurais de mesma etnia.

Relacionou-se tal discrepância principalmente ao maior tempo gasto em atividades educacionais – que exigem maior proximidade dos olhos – além do acesso mais precoce dos jovens de moradias urbanas à educação, se comparados às crianças de comunidades rurais.   

Leia mais: Inteligência artifical e retinopatia da prematuridade: o que sabemos? 

Conclusão e mensagem prática 

O estudo conclui de forma unânime, a partir dos artigos analisados, que a exposição ao ar livre diminui a incidência desse erro refrativo e o uso da visão para objetos próximos, como eletrônicos, contribui para o crescimento axial ocular. Demonstrou-se uma associação frequente entre o uso de telas e a miopia. 

Anúncio

Assine nossa newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Ao assinar a newsletter, você está de acordo com a Política de Privacidade.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Referências bibliográficas

Compartilhar artigo