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Pediatria29 março 2025

Impacto da transição do cuidado de paciente pediátrico com esofagite eosinofílica

Estudo avalioua transição do cuidado em pacientes com esofagite eosinofílica com cuidados pediátricos que posteriormente foram transferidos para a gastroenterologia adulta
Por Jôbert Neves

A esofagite eosinofílica (EoE) é uma doença imunoinflamatória crônica e progressiva do esôfago, frequentemente diagnosticada na infância e persistindo na idade adulta. O processo de transição de cuidados da gastroenterologia pediátrica para a gastroenterologia adulta é crítico para garantir a continuidade do tratamento e evitar complicações. No entanto, estudos sobre a eficácia dessa transição ainda são escassos, deixando uma lacuna de informações nessa área. Apesar disso, existe uma percepção de que parte parte dos pacientes com EoE, quando transacionados para os cuidados adultos, sentem um impacto negativo no cuidado.  

Com o objetivo de avaliar esse impacto na transição do cuidado, foi realizado um estudo retrospectivo analisando 58 pacientes com EoE que receberam cuidados pediátricos e posteriormente foram transferidos para a gastroenterologia adulta entre 2017 e 2023. Dados demográficos, clínicos, endoscópicos e histológicos foram coletados e analisados para avaliar a taxa de perda de seguimento, tempo entre a última consulta pediátrica e a primeira consulta adulta, e os impactos clínicos dessa transição. 

Leia mais: Diagnóstico simultâneo de esofagite eosinofílica e doença inflamatória intestinal em pediatria

Resultados 

  • Perda de seguimento: 16% dos pacientes não estabeleceram cuidados com a gastroenterologia adulta. As principais causas de perda de seguimento foram a falta de agendamento da consulta (33%), cancelamentos recorrentes (56%), mudança de cidade ou dificuldade de localização (33%) e incompatibilidade de cobertura do plano de saúde (1%).
  • Tempo de transição: A mediana de tempo entre a última consulta pediátrica e a primeira consulta adulta foi de 299 dias, enquanto a mediana entre a última endoscopia pediátrica e a primeira endoscopia adulta foi de 730 dias. Esse intervalo prolongado pode estar associado a barreiras administrativas, falta de encaminhamento estruturado e baixa conscientização dos pacientes sobre a importância da continuidade do tratamento. 

Deterioração clínica

  • O percentual de pacientes assintomáticos reduziu de 57% para 43%, indicando uma piora geral no quadro clínico. 
  • A ocorrência de azia aumentou significativamente, de 5% para 20% (p=0,01), sugerindo que a ausência de acompanhamento médico contribui para a progressão dos sintomas. 
  • Outros sintomas como disfagia (33% para 29%) e dor abdominal (9% para 10%) apresentaram mudanças menos expressivas, mas indicam a importância de monitoramento contínuo.

Adesão medicamentosa

  • A taxa de não adesão ao tratamento aumentou significativamente de 3% para 29%. 
  • Pacientes em terapia combinada com inibidores de bomba de prótons (PPI) e esteroides tópicos (TS) foram os mais afetados, com uma taxa de não adesão subindo de 24% para 52%. 
  • Possíveis explicações incluem a complexidade do regime terapêutico, falta de suporte médico durante a transição e dificuldades financeiras.

Impacto endoscópico e histológico:

  • Os escores endoscópicos (EREFS) e os achados histológicos (PEC) se mantiveram estáveis durante o período de transição, sugerindo que a piora dos sintomas pode estar mais relacionada à falta de adesão ao tratamento do que a mudanças estruturais significativas na mucosa esofágica. 
  • Um paciente (2%) necessitou de atendimento de emergência devido a impactação alimentar no esôfago, reforçando os riscos da falta de seguimento adequado. 

Veja também: A sintomatologia pode ser norteadora no diagnóstico da esofagite eosinofílica?

Conclusão e discussão 

A transição do cuidado na EoE está associada a desafios significativos, incluindo perda de seguimento, piora dos sintomas e redução da adesão ao tratamento. A falta de um modelo estruturado de transição pode contribuir para essas dificuldades. A implementação de protocolos específicos, como programas de educação para pacientes e cuidadores, transição gradual e acompanhamento mais próximo, pode melhorar os resultados e garantir uma continuidade eficaz do cuidado. 

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Referências bibliográficas

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