Diagnóstico simultâneo de esofagite eosinofílica e doença inflamatória intestinal em pediatria
Esofagite eosinofílica e doença inflamatória intestinal são doenças imunomediadas do trato gastrointestinal, associadas à alta morbidade.
Esofagite eosinofílica (EoE) e doença inflamatória intestinal (DII) são doenças imunomediadas do trato gastrointestinal (TGI), associadas à alta morbidade. A incidência e prevalência de ambas as doenças têm aumentado nas últimas décadas. EoE é caracterizada por infiltrado eosinofílico na mucosa do esôfago, que altera a barreira epitelial, gerando sintomas e disfunção esofágica. Já a DII, incluindo doença de Crohn (DC) e retocolite ulcerativa (RCU), é uma condição inflamatória crônica do intestino. Ambas as doenças têm patogênese complexa e mecanismos fisiopatológicos compartilhados, o que torna a ocorrência simultânea dessas condições não tão incomum.
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Com o objetivo de conhecer o perfil clínico e epidemiológico de pacientes pediátricos com EoE e DII de forma concomitante, pesquisadores da Pensilvânia, nos Estados Unidos (EUA), realizaram um estudo retrospectivo do tipo caso-controle em dois serviços terciários de referência, entre janeiro de 2008 e dezembro de 2018. Foram incluídos no estudo os pacientes que tinham ambos os diagnósticos de EoE e DII, avaliando variáveis demográficas, a presença de atopias e a classificação da DII. Os resultados relevantes encontrados foram:
Prevalência do diagnóstico simultâneo de EoE e DII (EoE-DII)
- Foram avaliados 3.053 pacientes com diagnóstico de EoE e 4.515 pacientes com diagnóstico de DII. Os achados foram:
- A prevalência de DII na população EoE foi 2,2% (67/3.053);
- A prevalência de EoE na população de DII foi de 1,5% (67/4.515).
EoE-DII versus EoE de forma isolada
- Os paciente com EoE de forma isolada foram diagnosticados com EoE em uma idade mais jovem do que aqueles com EoE-DII (mediana de 7,3 anos vs 12,2 anos, p < 0,001);
- Não houve diferença significativa de gênero ou raça;
- Indivíduos com EoE de forma isolada tinham significativamente mais probabilidade de ter condições atópicas concomitantes do que aqueles com EoE-DII.
EoE-DII versus DII de forma isolada
- Não houve diferença significativa de raça ou idade entre os pacientes com DII de forma isolada comparada com aqueles com EoE-DII;
- Houve significativamente mais meninos no grupo EoE-DII do que no grupo de DII de forma isolada (84% vs 55%, P < 0,001);
- Não houve diferença entre os grupos em termos de classificação DII (RCU, DC ou colite indeterminada) ou prevalência de DII de início precoce;
- Indivíduos com EoE-DII eram mais propensos a ter alergia alimentar IgE-mediada do que aqueles com DII de forma isolada (36% vs 7%, P < 0,001);
- Dentro do grupo EoE-DII, os pacientes com EoE-DC tinham significativamente uma menor probabilidade de ter doença perianal em comparação com DC de forma isolada (2% vs 20%).
Discussão e conclusão
A DII e a EoE são condições crônicas com tratamentos prolongados e que requerem uma adesão rigorosa dos pacientes, além de uma participação expressiva da família no processo de cuidado.
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O estudo apresentado por Moore et al. reforçou a importância de nos atentarmos para o possível diagnóstico concomitante dessas condições que, claro, acarretam um maior impacto na qualidade de vida dos pacientes e uma compreensão mais complexa dessas doenças. Esse estudo é uma das maiores coortes pediátricas que correlaciona esofagite eosinofílica e doença inflamatória intestinal, o que permite a comparação com trabalhos prévios. Essa concomitância diagnóstica é sustentada pela teoria de que há uma base genética que explicaria tal associação, já que estudos prévios já apontam para uma relação entre um EoE com doença celíaca e também com doenças crônicas de caráter autoimune. Interessante seria que as bases genéticas dessa associação fossem de fato reconhecidas, para um maior conhecimento e elucidação dos mecanismos fisiopatológicos que se sobrepõem.
Referências bibliográficas:
- Moore H, Wechsler J, Frost C, et al. Comorbid Diagnosis of Eosinophilic Esophagitis and Inflammatory Bowel Disease in the Pediatric Population. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2021;72(3):398-403. doi: 1097/MPG.0000000000003002
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