Diarreia e sangramento nas fezes são queixas frequentes nos atendimentos de gastroenterologia pediátrica, sendo a proctocolite alérgica, espectros de apresentação da alergia à proteína do leite de vaca (APLV), um dos primeiros diagnósticos levantados frente à tais queixas. No entanto, os diagnósticos diferenciais devem estar de stand by quando a resposta terapêutica instituída é insatisfatória.
Nos pacientes com diagnóstico inicial de proctocolite alérgica, a ausência de resposta à dieta de exclusão da proteína do leite de vaca, por meio da utilização de fórmula de aminoácidos ou extensamente hidrolisada, por exemplo, é indicativo direto de que diagnósticos diferenciais necessitam ser avaliados, dentre eles, a doença inflamatória de início muito precoce, que acometem pacientes menores de 6 anos de idade por definição.
O comprometimento do estado geral, do desenvolvimento pondero-estatural, achados do exame físico como palidez e acometimento perianal direcionam para a possibilidade diagnóstica de DII precoce. Na grande maioria dos quadros de DIIP, há um predomínio de herança poligênica, mas nos pacientes com DII de início muito precoce, cerca de 30% podem apresentar um caráter monogênico, atualmente denominados erros inatos da imunidade, como ressaltado pela palestrante Dra. Vera Lucia Sdepanian, no 18º Congresso Brasileiro de Gastroenterologia e Hepatologia Pediátrica, que acontece em Goiânia.
Diante desses quadros, sem resposta terapêutica para APLV ou para o diagnóstico inicialmente proposto e com grande impacto no estado geral do paciente, é mandatória a investigação com os exames laboratoriais, colonoscópico e endoscópico, visando a conclusão diagnóstica individualizada.
Alguns sinais de alarme na DII de início muito precoce:
- Idade < 6 anos;
- História familiar;
- Sexo masculino;
- Consanguinidade;
- Infecções recorrentes;
- Doença perianal;
- Ausência de resposta a terapia tradicional;
- Lesões dermatológicas;
- Artrite.
Para a Investigação da DII de início precoce, destacam-se a solicitação dos seguintes exames:
- Hemograma;
- Imunoglobulinas totais;
- Subclasses de IgG;
- Quantificação linfócitos T;
- Quantificação de linfócitos B;
- Solicitar PPD;
- Avaliar resposta de anticorpos (Ex: sarampo, rubéola, pneumococo);
- Dihidrorodamina (DHR);
- Complemento total, complemento sérico;
- Estudo genético — recomendado para todos com doença < 6 anos.
Por fim, os diagnósticos diferenciais devem ser avaliados para todos os pacientes com diagnóstico de proctocolite alérgica sem resposta ao tratamento com fórmula extensamente hidrolisada ou de aminoácidos, e dentre eles a investigação para DII de início muito precoce deve ser aventada, quando o paciente tem importante comprometimento do estado geral associado aos sinais de alarme supracitados. A investigação extensa e envolvendo outras subespecialidades pediátricas, como a imunologia, fazem parte do cuidado dos pacientes com tal condição.
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