Apesar das crescentes discussões sobre o uso racional e minimização dos impactos dos agrotóxicos, sabemos da sua direta relação com as intoxicações agudas e crônicas, sendo os pacientes pediátricos parte considerável dessas vítimas.
Um estudo realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) avaliou a associação entre exposição a agrotóxicos e doenças alérgicas (asma, rinite alérgica e dermatite atópica) em crianças e adolescentes.
Métodos
Rodrigues e colaboradores realizaram uma ampla revisão sistemática, e, aplicando os critérios de inclusão, cerca de 24 artigos foram selecionados para revisão, publicados entre 2000 e 2019.
Resultados
Os resultados apresentados entre eles foram divergentes em alguns aspectos, com destaque para dois estudos que analisaram a relação entre exposição a agrotóxicos e exacerbações de asma pela dosagem de leucotrieno E4 (LTE4) urinário, mostrando associação entre metabólitos de pesticidas e os níveis de LTE4, ambos na urina, sendo esse último significativamente elevado durante os episódios agudos de asma em crianças, emergindo como um marcador não invasivo para monitorar as exacerbações agudas da asma e acompanhar o processo inflamatório em crianças asmáticas, contribuindo assim para sustentar a hipótese a associação entre agrotóxicos e desfechos alérgicos.
Um outro estudo de coorte avaliado relacionou a exposição a pesticidas organofosforados e a resposta imune Th1 e Th2 em crianças que viviam com agricultores e crianças que não viviam com agricultores, evidenciando níveis elevados de resposta Th2 em crianças que vivem com agricultores, inferindo uma maior possibilidade de doenças alergias nesse grupo, por encontramos esse tipo de resposta imune mais frequentemente presente em doenças alérgicas, como a asma, a rinite e dermatite. Na contramão, um outro estudo de coorte avaliou a associação entre metabólitos de agrotóxicos na urina e sangue com asma e não encontrou associação entre os metabólitos e este desfecho clínico.
Dentre os 24 estudos avaliados, a associação de asma em crianças e adolescentes expostos a agrotóxicos OR (IC 95% 1,26 – 3,64 p = 0,005) foram encontrados de forma significativa dentre os estudos. Já aqueles que forneceram dados sobre rinite alérgica e dermatite atópica, nenhum deles evidenciaram correlação estatística entre tais desfechos e a exposição a agrotóxicos, encontrando (OR 2,73; IC 95% 0,13 – 57,8; p = 0,52 ) e (OR, 2,19; IC 95% 0,51 – 9,36; p = 0,29), respectivamente.
Conclusão
Sendo assim, foram encontradas evidências de que a exposição a pesticidas aumenta o risco de desenvolvimento ou exacerbação apenas de asma em crianças e adolescentes.
Intoxicação aguda por agrotóxicos: como realizar a abordagem adequada (Parte I)
Considerações e mensagem prática
Apesar da heterogeneidade dos estudos, dentre as limitações encontradas, houve destaque para a não especificação em muitos estudos sobre o agrotóxico estudado, o que dificultou uma análise mais profunda da associação entre as classes de agrotóxicos e doenças alérgicas. Aqui no Brasil, embora haja uso generalizado de agrotóxicos e prevalência significativa de asma, rinite e dermatite, não há dados e estudos que abordam esse tema, evidenciando a necessidade de realização de estudos nacionais.
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