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Medicina de Emergência14 março 2022

Intoxicação aguda por agrotóxicos: como realizar a abordagem adequada (Parte I)

No Brasil, a exposição humana a agrotóxicos é um importante problema de saúde pública. Saiba mais sobre a abordagem em casos de intoxicação.

No Brasil, a exposição humana a agrotóxicos é um importante problema de saúde pública. Nos últimos anos, a comercialização de agrotóxicos vem aumentando acompanhada pelo aumento do número de registros de intoxicações exógenas relacionadas a esses produtos. Os principais casos estão relacionados a intoxicações acidentais por grupos vulneráveis (trabalhadores rurais, profissionais de empresas da agricultura, de indústria produtora e formuladora, desinsetizadores e aplicadores de agrotóxicos em campanhas de saúde pública, principalmente).

As intoxicações por agrotóxicos são caracterizadas por desequilíbrio fisiológico com manifestações clínicas variadas, de acordo com a classe das substâncias, sendo apresentadas de forma aguda e crônica, com manifestação leves, moderadas ou graves, a depender da quantidade da substância química absorvida, do tempo de absorção, da toxicidade do produto, da suscetibilidade do organismo e do tempo decorrido entre a exposição e o atendimento médico.

As principais formas de exposição aos agrotóxicos podem ser de natureza acidental, ocupacional, ambiental, por tentativa de suicídio ou homicídio. Considera-se como caso suspeito de intoxicação por agrotóxicos todo indivíduo que, tendo sido exposto, apresente sinais e sintomas clínicos de intoxicação ou alterações laboratoriais compatíveis.

agrotóxicos

Abordagem inicial 

Frente a um paciente em que se suspeite de intoxicação aguda por agrotóxicos, a avaliação inicial deverá coletar o maior número de informações no menor tempo possível:

  • Quem é o paciente? Incluindo histórico de uso de medicamentos, doenças agudas e crônicas, uso de álcool e drogas ilícitas;
  • O que foi utilizado e qual a quantidade? Verificar disponibilidade da embalagem e bula do produto;
  • Qual a via de exposição? Oral, dérmica, inalatória ou intravenosa;
  • Onde? Obter dados sobre o local de exposição;
  • Como? Determinar as circunstâncias em que ocorreu a exposição ao agrotóxico (acidental, ocupacional, tentativa de autoextermínio, agressão, ambiental [vazamentos ou deriva de pulverização durante a aplicação]) e a intenção de uso do produto;
  • Há quanto tempo? Da exposição ao agente até a chegada no ambiente hospitalar.

Familiares e acompanhantes serão muito úteis para fornecimento de informações, principalmente quando os pacientes estiverem com alteração de consciência e/ou forem crianças.

Realize breve exame físico, no contexto do suporte vital, para identificar as medidas imediatas necessárias para estabilizar o paciente. O exame deve incluir a verificação dos sinais vitais, do nível de consciência, a avaliação do diâmetro e a reatividade das pupilas (diâmetro e reatividade à luz), a temperatura e a umidade da pele, a instalação da oximetria de pulso e a medida da glicemia capilar, se disponíveis.

Pacientes assintomáticos ou que apresentem sintomas leves normalmente não requerem hospitalização. O paciente deve ser monitorado durante um período mínimo de seis a doze horas.

Considere a possibilidade de a intoxicação ser resultante da combinação de diversas substâncias, visto que as formulações de agrotóxicos podem ter diferentes combinações de princípios ativos e adjuvantes, os quais podem alterar as manifestações clínicas da intoxicação. Além disso, pode ocorrer exposição simultânea a agrotóxicos e outros agentes (medicamentos, álcool e outras drogas). Estes podem ter manifestações similares ou antagônicas.

O paciente intoxicado pode apresentar amplo espectro de manifestações clínicas que poderiam ser explicadas por outras causas, como traumatismos, alterações neurológicas ou metabólicas, o que confunde o estabelecimento do diagnóstico. Há, também, a possibilidade da existência de comorbidades, que não devem ser negligenciadas.

Considere também a possibilidade de manifestações ou toxíndromes mistas ou parciais, por não ter transcorrido tempo suficiente para que se observem as manifestações plenas.

Em pacientes pediátricos, é importante suspeitar de intoxicação em episódios de início súbito com comprometimento do estado geral.

Leia também: Como cuidar de alguém com intoxicação alcoólica no plantão?

Contato com equipe especializada

No Brasil temos os Centros de informação e assistência toxicológica, serviços regionais gratuitos, com assistência remota (via telefônica) por equipe especializada em toxicologia que orienta diagnóstico e conduta em casos suspeitos e confirmados de intoxicações. Este serviço é extremamente útil e pode fazer toda a diferença em casos com manifestações clínicas atípicas, de difícil identificação ou em caso de dúvidas em relação ao manejo.
No site da Associação Brasileira de Centros de informação e assistência toxicológica (Abracit), há uma lista com todos os telefones para contato dos centros de intoxicações regionais. O número gratuito do disque-intoxicação é 0800 722 6001.

Ficou interessado pelo manejo de intoxicações agudas? O Portal PEBMED preparou uma série de artigos relacionados ao assunto e a parte II fala sobre as síndromes relacionadas às intoxicações, também chamadas de toxíndromes.

Referências bibliográficas:

  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública. Diretrizes brasileiras para o diagnóstico e Tratamento de intoxicação por agrotóxicos [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública – Brasília: Ministério da Saúde, 2020.
  • Mycyk MB. Intoxicação e overdose por fármacos ou drogas. In Jameson JL, Kasper DL, Longo DL, Fauci AS, Hauser SL, Loscalzo J. Medicina interna de Harrison. 20 ed – Porto Alegre: AMCH, 2020.
  • Costa JVG, Rodrigues CG, Amoroso D, Marino LO. Manejo inicial das intoxicações exógenas. In: Velasco IT, Brandão Neto RA, de Souza HP, ed. Medicina de emergência: abordagem prática. 13 ed. Barueri-SP: Manole, 2019.

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