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Pediatria27 fevereiro 2025

Estudo avaliará o uso de azitromicina na prevenção de IRAI em crianças 

Protocolo de estudo avaliará o uso de azitromicina na prevenção de infecções respiratórias agudas inferiores

Recentemente, o periódico BMJ Open publicou um interessante protocolo para a realização de um ensaio clínico randomizado (ECR) na Oceania e sudeste asiático. O estudo, denominado PETAL (“Prevent rEcurrenT Acute Lower Respiratory Infections”), avaliará o uso de azitromicina na prevenção de infecções respiratórias agudas inferiores (IRAI) em crianças. Em todo o mundo, as IRAI, incluindo pneumonia e bronquiolite, consistem na causa mais comum de morbidade e mortalidade infantil além do período neonatal.  

A azitromicina é um agente antimicrobiano com propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras. Sua meia-vida de 70 horas possibilita a prescrição de doses pouco frequentes (por exemplo, uma vez por semana). Um ECR realizado previamente entre crianças das Primeiras Nações da Austrália e Nova Zelândia com bronquiectasia e doença pulmonar supurativa crônica mostrou que a azitromicina administrada uma vez por semana por até 24 meses reduziu pela metade as taxas de exacerbação respiratória enquanto as crianças recebiam o tratamento ativo. Além disso, os pacientes que receberam azitromicina também tiveram menos probabilidade de serem internados nesse período por doença respiratória.  

Metodologia 

Em princípio, serão recrutados 160 pacientes pediátricos australianos e neozelandeses das Primeiras Nações e timorenses com idade inferior a 2 anos. O objetivo é conduzir um ECR paralelo de superioridade em quatro hospitais da Austrália, Nova Zelândia e Timor-Leste, determinando se a administração de azitromicina em um período de 6 a 12 meses após hospitalização por IRAI reduzem novos quadros subsequentes e melhoram outros desfechos clínicos e econômicos.  

O desfecho primário é a taxa de IRAI atendida por médicos durante o período de intervenção. Já os desfechos secundários consistem em:  

  • Avaliação das taxas e proporções de crianças com hospitalização relacionada à IRAI; 
  • Manifestações clínicas crônicas sugestivas de bronquiectasia ou doença pulmonar supurativa crônica subjacente; 
  • Eventos adversos graves; 
  • Resistência antimicrobiana nas vias aéreas superiores; 
  • Análises de custo-efetividade. 

Em outubro de 2020, foi feita a randomização do primeiro participante. O BMJ Open publicou o protocolo em 05 de fevereiro de 2025, período estimado pelos pesquisadores para conclusão do recrutamento.  

Critérios de inclusão:  

  • Pacientes das Primeiras Nações (Aborígenes Australianos e/ou das Ilhas do Estreito de Torres; ou Māori da Nova Zelândia e/ou das Ilhas do Pacífico) ou timorenses com menos de 2 anos. No caso da Nova Zelândia, as crianças devem ter idade igual ou superior a 3 meses, conforme exigido pelo comitê local de ética em pesquisa; 
  • Pacientes hospitalizados com uma IRAI (pneumonia ou bronquiolite) e residentes nas áreas de abrangência dos hospitais do estudo; 
  • Pacientes que necessitaram, durante a doença (incluindo durante a transferência hospitalar ou na comunidade), de suporte de oxigênio, ventilatório ou de fluidos (nasogástrico ou intravenoso) OU que tiveram uma internação hospitalar relacionada com IRAI nos últimos três meses. 

Critérios de exclusão: 

  • Doença pulmonar crônica conhecida (como bronquiectasia confirmada por radiografia, doença pulmonar crônica neonatal; fibrose cística);   
  • Uso regular de azitromicina (nas últimas 4 semanas);   
  • Contraindicação ao uso de macrolídeos (por exemplo, hipersensibilidade ou disfunção hepática conhecida);   
  • O responsável principal não possui telefone celular e/ou não pode comparecer às consultas de acompanhamento nos próximos 24 meses; ou   
  • O paciente está participando de outro ECR relacionado a doenças respiratórias. 

O estudo será multicêntrico, internacional, duplo-cego e controlado por placebo. 

Pontos fortes 

  • O estudo é multicêntrico; 
  • Métodos padronizados de estudos prévios realizados pelos pesquisadores do PETAL com azitromicina serão utilizados; 
  • As medidas de desfecho são claramente definidas e clinicamente relevantes; 
  • A metodologia proposta é robusta. 

Limitações 

  • O período de acompanhamento dos pacientes (24 meses) é longo. 

Comentários: azitromicina na prevenção de IRAI em crianças 

O protocolo está bem descrito e me parece ser um estudo muito interessante, até porque avalia um problema relevante de saúde pública que é, de fato, o impacto das IRAI em crianças no mundo todo, especialmente na vigência de bronquiectasias e outras doenças pulmonares crônicas. Além disso, ensaios clínicos randomizados e duplo-cego consistem em pesquisas de intensa rigorosidade metodológica, o que pode trazer desfechos confiáveis. Outro ponto importante que observei é a inclusão da análise de custo-efetividade, fundamental para auxiliar em estratégias de saúde pública.  No entanto, os próprios autores comentam sobre o período de acompanhamento ser longo, o que pode trazer perdas de participantes. Outro ponto que merece destaque e que precisa ser monitorado de perto é a possibilidade de resistência bacteriana. De todo modo, é uma pesquisa muito bem estruturada e merece ser valorizada.

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