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Pediatria16 maio 2025

ESPGHAN 2025: O ultrassom intestinal na colite ulcerativa aguda grave

No ESPGHAN 2025, foi apresentado estudo observacional com pacientes pediátricos com colite ulcerativa aguda grave que realizaram exames de ultrassom intestinal
Por Jôbert Neves

A colite ulcerativa aguda grave (CUAG) representa uma emergência médica em gastroenterologia pediátrica, com risco elevado de complicações e necessidade frequente de intervenções terapêuticas escalonadas. A abordagem tradicional baseia-se em parâmetros clínicos e laboratoriais, como o escore PUCAI, para orientar a resposta ao tratamento com corticosteroides intravenosos. No entanto, há crescente interesse na utilização de ferramentas de imagem não invasivas que permitam avaliação objetiva, repetível e precoce da atividade inflamatória.

O ultrassom intestinal (USI) tem emergido como uma ferramenta promissora nesse cenário. É um método bem tolerado por crianças, de baixo custo relativo e com aplicabilidade em tempo real no leito, sendo capaz de influenciar decisões clínicas rapidamente. Estudos retrospectivos prévios sugerem que parâmetros ultrassonográficos, como espessura da parede intestinal e aumento da vascularização, podem predizer falha ao tratamento com corticosteroides.  Durante o Congresso Europeu de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN 2025), o Dr. Lucas Scarallo, da Itália, apresentou dados atuais sobre o uso do USI em pacientes com CUAG.

ESPGHAN 2025: O Ultrassom intestinal na colite ulcerativa aguda grave

Métodos

Estudo observacional prospectivo multicêntrico realizado entre março de 2020 e dezembro de 2024 em 10 centros especializados em doença inflamatória intestinal (DII) pediátrica. Foram incluídos pacientes com colite ulcerativa aguda grave (CUAG) hospitalizados e tratados com corticosteroides intravenosos. Cada paciente realizou dois exames de ultrassom intestinal (USI): o primeiro até 48 horas após o início da corticoterapia e o segundo entre o 5º e 7º dia.

Foram avaliados cinco parâmetros ultrassonográficos por segmento colônico (espessura da parede, vascularização, linfonodos, hiperecogenicidade mesentérica e estratificação da parede), além do escore de Milão. Dados clínicos e laboratoriais foram coletados nas semanas 2, 4 e 8.

Leia também: WCPGHAN 2024: Ultrassonografia intestinal na doença inflamatória intestinal

Dentre os resultados encontrados, destacam-se os seguintes:

  • Participantes: 60 pacientes pediátricos com CUAG.
  • Falha terapêutica: 65% (n=39) necessitaram infliximabe.
  • Parâmetros como espessura da parede (> 5 mm) e escore de Milão (> 7.8) nos quadrantes esquerdos previram falha aos corticosteroides com boa acurácia (AUC significativa).
  • Colectomia: 10 pacientes (3 antes do segundo USI; 7 após). A perda da estratificação da parede no USI 1 foi associada à refratariedade médica.
  • No USI 2, todos os parâmetros estavam significativamente piores nos pacientes com evolução desfavorável.
  • Pacientes que atingiram remissão clínica livre de esteroides e normalização da calprotectina fecal apresentaram escore de Milão significativamente menor no USI 2.

Discussão

Este estudo multicêntrico prospectivo confirma que o USI pode atuar como ferramenta objetiva e precoce na predição de falha terapêutica em CUAG pediátrica. A associação entre parâmetros ultrassonográficos precoces e a falência ao tratamento com corticosteroides intravenosos, bem como com a necessidade de colectomia, reforça a aplicabilidade clínica do USI em contextos agudos.

A avaliação seriada também mostrou utilidade para prever a resposta sustentada ao tratamento, incluindo remissão clínica livre de esteroides e normalização da inflamação mucosa (via calprotectina fecal). Isso apoia o uso do USI não apenas como diagnóstico, mas como guia dinâmico de decisão terapêutica, permitindo intervenções precoces e individualizadas.

As principais limitações incluem o tamanho amostral relativamente pequeno para análises de subgrupos e a ausência de leitura centralizada, dada a natureza operador-dependente do USI. Apesar disso, a padronização do protocolo entre os centros participantes representa uma força metodológica relevante.

Conclusão e mensagem prática: ultrassom intestinal na CUAG

O ultrassom intestinal, quando utilizado em protocolo seriado nos primeiros dias de tratamento da colite ulcerativa aguda grave em crianças, mostra-se uma ferramenta eficaz na predição de falha terapêutica, necessidade de escalonamento precoce e desfechos clínicos de curto prazo.

A incorporação do USI como parte do manejo de rotina da CUAG pode otimizar o cuidado, reduzir complicações e personalizar a abordagem terapêutica de forma segura e eficiente. Apesar disso, temos uma falha ainda em nosso país em relação a formação de profissionais habilitados para realizar USI, em especial aqueles que executam esse exame nos pacientes pediátricos. Vale relembrar que USI é totalmente diferente do ultrassom abdominal convencional e deve ser realizado por um profissional experiente e treinado para este fim. 

Confira os principais destaques do ESPGHAN 2025!

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