Pediatria3 maio 2024
Distrofia muscular de Duchenne: caracaterísticas importantes
A Distrofia Muscular de Duchenne é causada por variantes patogênicas que ocasionam a produção insuficiente da proteína distrofina.
Em setembro de 2023, os departamentos científicos de Neurologia, Genética Clínica e Medicina do Sono (gestão 2022-2024) da Sociedade Brasileira de Pediatria publicaram, em conjunto, o documento científico “Distrofia Muscular de Duchenne”, resumido a seguir.
Veja também: Estudo analisa características clínicas e laboratoriais da miosite viral
Características da Distrofia Muscular de Duchenne
- Forma mais comum de miopatia na infância;
- Uma das principais causas de perda de força e regressão motora em crianças;
- Afeta cerca de 1 em 5.000 meninos nascidos vivos;
- É tipicamente observada apenas em meninos por ser uma doença genética recessiva ligada ao cromossomo X;
- Possui progressão temporal clara;
- Sua patogenia envolve destruição muscular substituída por tecido fibro-adiposo;
- Há aumento dos níveis séricos de enzimas musculares, como creatino-fosfoquinase (CPK) e enzimas hepáticas (estas enzimas podem indicar a doença antes mesmo do surgimento da sintomatologia);
- Em uma criança com miopatia e aumento do CPK: pensar em DMD e encaminhar para um neuropediatra ou centro especializado;
- A maioria dos pacientes evolui com miocardiopatia em algum momento;
- A miocardiopatia é a principal causa de óbito na DMD.
A evolução natural da Distrofia Muscular de Duchenne
- Até 3 anos:
- Dificuldade para subir escadas e para correr;
- Marcha digitígrada (pés voltados para dentro);
- Panturrilhas com pseudo-hipertrofia;
- Tombos frequentes.
- Entre 3 e 4 anos:
- Astenia em cintura pélvica em início;
- Hiperlordose em coluna lombar;
- Marcha anserina
- Sinal de Gowers;
- Entre 6 e 8 anos:
- Astenia em cintura escapular em início;
- Entre 8 e 12 anos:
- Dano da marcha independente;
- Entre 20 e 40 anos:
- Complicações cardiorrespiratórias levando à morte.
Aconselhamento genético
- A DMD é causada por variantes patogênicas em um gene em Xp21.2-p21.1, ocasionando produção insuficiente da proteína distrofina. Consequentemente, o sarcolema da célula muscular é fragilizado com posterior destruição celular e lipossubstituição;
- A herança do gene associado à DMD (na forma normal ou mutante patogênica) é transmitida conforme o modelo tradicional de herança ligada ao cromossomo X. A condição genética materna determina o risco de acometimento de irmãos;
- A cada gestação, as mulheres com a mutação têm 50% de probabilidade de transmitir a variante patogênica para a prole;
- Meninos que recebem a variante patogênica serão afetados. Meninas serão portadoras e poderão apresentar diferentes níveis de manifestações clínicas;
- Raramente os homens com DMD têm filhos. Entretanto, quando têm, todas as suas filhas portam a mutação e nenhum de seus filhos receberá a variante patogênica do gene DMD do pai.
Atenção especial para:
- Mulher que tem mais de um filho afetado e nenhum outro parente afetado: pode ou não estar em risco elevado de ter outro filho com DMD – o teste genético se aplica nesse caso;
- Modelo tradicional de herança ligada ao X: se um homem for um caso simplex, isto é, o único membro afetado da família, a mãe pode ser heterozigota ou o homem afetado pode ter uma variante patogênica de DMD “de novo” (por “acidente genético” naquela gametogênese).
Prognóstico e tratamento de complicações cardiorrespiratórias
- Crianças e adolescentes com DMD: alto risco de mortalidade por insuficiência respiratória progressiva e disfunção miocárdica;
- Nas últimas décadas, o manejo da DMD melhorou consideravelmente com a introdução de corticosteroides e terapias de assistência ventilatória e de otimização da função cardíaca:
- Ventilação mecânica não invasiva (VNI) e técnicas de assistência à tosse: têm sido cruciais para a prevenção e tratamento de complicações respiratórias, principalmente quando o paciente perde a capacidade de deambular;
- Frequentes avaliações da função pulmonar e estudos do sono podem auxiliar a terapia respiratória e evitar a hipoventilação noturna;
- Complicações cardíacas: Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA) ou bloqueadores β-adrenérgicos. Esses fármacos devem ser indicados com base na avaliação cardíaca funcional. Também são relevantes as intervenções para arritmias e a prevenção de tromboembolismo;
- Uma abordagem interdisciplinar e a aplicação de estratégias terapêuticas o mais cedo possível são fundamentais para uma melhor qualidade de vida e para que esses pacientes consigam viver mais.
Tratamentos antigos e atuais
- Objetivos: diminuir a velocidade de progressão da doença e controlar suas complicações;
- Terapia motora: mantém as articulações com mobilidade satisfatória e ajuda a prevenir contraturas;
- Pacientes com Distrofia Muscular de Duchenne têm risco aumentado de apresentarem Transtorno do Déficit de Desatenção e Hiperatividade (TDAH), Deficiência Intelectual (DI) e do Espectro Autista (TEA);
- Acompanhamento interdisciplinar: pediatra geral, neurologista pediátrico, endocrinologista pediátrico, paliativista, psiquiatra e fisioterapeuta, por exemplo, podendo o paciente ser encaminhado para serviços especializados.
Corticoides
- Prednisolona contínua diária: 0,75mg/kg/dia;
- Prednisolona intermitente: 0,75mg/kg/dia por 10 dias. Pausas de 10 dias;
- Deflazacort contínuo: 0,9mg/kg/dia.
Reposição de cálcio e de vitamina D
- Devido ao risco de osteoporose pela baixa mobilidade e uso crônico de corticosteroides.
Tratamentos promissores atuais para aumentar a produção da distrofina
- Exon skipping: De maneira complementar, os oligonucleotídeos antissenso (ONA) se conectam a uma sequência de pré-RNA mensageiro de éxons adjacentes às variantes patogênicas. Isso permite que a leitura do DNA salte estes éxons com defeito. Dessa forma, a distrofina é produzida, mas não completamente funcional. São suscetíveis a esse método cerca de 60% a 80% das variantes patogênicas na DMD, particularmente por skipping dos éxons 45 (Casimersen), 51 (Eteplirsen),e 53 (Golodirsen);
- Ataluren (supressão de mutação nonsense): permitem a leitura do código genético, suprimindo a leitura da mutação de parada e possibilitando a produção de distrofina.
Leia mais: Linfohistiocitose hemofagocítica: o que o pediatra deve saber?
Anúncio
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.